Scarlet

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Saio do ginásio a correr e o Jake fica sentado no banco a ver-me ir embora. Não consigo. Amo-o, mas não tiro da cabeça a minha mãe, o meu pai vai voltar a casar, o Kevin vai ficar destroçado, amo o Jake com todas as minhas forças, mas preciso de tempo para mim própria, para descobrir quem sou sem a minha mãe.
Tomo um duche rápido e visto roupa de desporto para ir correr. Vou de carro até ao centro de Nova Iorque e passada meia hora encontro um lugar de estacionamento.
Ao sair do carro coloco os fones de música nos ouvidos com o máximo som e começo a correr pela avenida.

Depois de correr mais um bocado, percebo que não devia ter saído assim do ginásio sem ter dado explicações ao Jake, ele não fez nada de mal. Estava muito stressada e foi demasiado ao mesmo tempo.

Corro durante duas horas, até comer num café da cidade com explanada. Peço uma salada de frango e uma limonada e passados quinze minutos, o pedido é trazido à mesa.
O telemóvel no bolso das minhas calças vibra e eu vejo que é Kevin.
-Olá, onde estás? - Ouve-se do outro lado da linha.
-Fui correr. - Respondo somente.
-Estás bem? - Pergunta, preocupado.
-Sim, só precisava de desanuviar. - Explico.
-Amanhã vou para Nova Jersey. - Diz. Pensava que só ia no fim de semana, amanhã ainda é quarta. - Vou ter de ir mais cedo, houve um problema com o meu apartamento, o colega de quarto atrasou-se, por isso tenho de ir dar entrada mais cedo. Hoje há noite posso passar por tua casa para me despedir?
-Sim, claro. Depois conversamos melhor quando as aulas começarem. Hoje à noite vemo-nos, então. Até logo. - Desligo a chamada e arrumo o telemóvel.
Volto para casa, mas o Jake não está lá. Ligo para ele e ninguém atende. Perfeito!
A Leah entra na cozinha e faz-me um sorriso de orelha a orelha.
-Boa tarde! - Saúda e eu sorrio. - Almoçaste fora, hoje?
-Sim, espero não ter causado incómodo.
-De qualquer modo, querida. O teu pai disse-me que já sabias a notícia. - Diz, acho que a referir-se ao casamento.
-Sim, parabéns pelas núpcias. Fico feliz por isso. - Digo genuinamente. Estou feliz pelo meu pai ter arranjado alguém e estar feliz, ser um homem novo.
-Obrigada querida. O casamento vai ser daqui a dois meses e meio. - Engasgo-me com o copo de água.
-Tão cedo? - Exclamo e ela ri.
-Bem, porquê esperar? Já não estamos a ficar mais novos e não queremos um casamento muito espalhafatoso. É só o tempo de arranjar um vestido e mandar os convites. - Explica.
-Muito bem então, também tenho de começar a procura por um vestido. No tenho muitos vestidos de gala. - Digo e ela sorri.
-Posso ajudar-te com isso, também estava a pensar se podias ajudar-me com o vestido de noiva? - Pergunta.
-Claro que sim! Adoraria! - Aquiesço logo. Gosto muito da Leah e ir comprar o vestido com ela seria óptimo.

Depois de mais um bocado de conversa sobre o casamento vou até à casa de banho e tomo outro duche, prolongando-o. Vou até ao meu quarto e visto umas calças de ganga largas e uma blusa justa vermelha, com um casaco de langa largueirão por cima.
A campainha toca e vou atender, dando de caras com o Kevin e com duas malas enormes.
-Só vim despedir-me, tenho de estar no metro daqui a uma hora. - Diz é eu convido-vos a entrar.
-É uma pena que tenhas de ir tão cedo. - Digo. Agora sei que não o amo, mas ele é como se fosse da família e vou ter saudades dele. Tenho de acabar com ele agora.
-Pois é, mas daqui a umas duas semanas já devo voltar aqui, tenho tanta coisa para preparar lá. - Dá-me um beijo rápido nos lábios e depois volta-se para a porta. - Desculpa mas tenho mesmo de ir. Se não for agora só vou conseguir ir à meia noite. Ainda tenho de apanhar um autocarro até à boca de metro certa. Desculpa sair assim, amo-te, falamos amanhã por telemóvel.
-Okay, adeus, depois falamos. - Não tive tempo de acabar com ele, não me permitiu.

Passadas mais umas horas passadas a ver televisão, a alongar e jantar, já são meia noite e meia e a Leah e o meu pai já se foram deitar.
Estou no sofá a ver televisão quando o meu telemóvel começa a vibrar. Talvez seja o Jake, ainda não chegou a casa, ou talvez o Kevin a dizer que já chegou a New Jersey.
Quando vou atender o telemóvel, vejo que é o Noah. O que quererá a estas horas?
-Sim? - Digo nervosamente para o telemóvel.
-Scarlet? O Jake está aqui na casa da República, estávamos numa festa e o Jake embebedou-se... Ele está numa briga, partiu o nariz a um rapaz e não para de chamar por ti. Podes vir até aqui? - Que raio para o Jake. A sério, uma complicação e ele enfrasca-se e bate num rapaz partindo-lhe o nariz?
-Dás-me a morada? - Peço. Não faço a mínima ideia onde fica a casa da República, e sei que não sou uma pessoa dada a festas.
-Sim, mando-te por SMS. - Desligo a chamada e passado um minuto recebo uma mensagem com a morada da casa.
Passados dez minutos de viagem de carro, chego a uma casa enorme, com um jardim da frente grande e um muro de pedra partido. Vê-se imensas pessoas bêbadas no relvado e quando entro na casa assusto-me com a quantidade de copos vermelhos, cheiro a álcool, pessoas a cair de bêbadas que há. Que raio para o Jake se ter metido numa embrulhada e que raio ter de ser eu a vir para aqui.
Quando vejo um grupo enorme de pessoas em círculo, dirijo-me para lá e vejo o Jake em cima de um rapaz e a esmurrá-lo freneticamente. Oh não...
O Noah vê-me e dirige-se a mim aflito.
-Ninguém o consegue parar, quando tentaram aquilo aconteceu. - Aponta para um rapaz com a face vermelhíssima e o olho negro. Autch!
-Isto não é nada bom! Tens alguma ideia do porquê dele ter feito isto?
-Nem por isso, mas há bocado não parava de dizer o teu nome e essas merdas. - Diz o Noah coçando o queixo.
Aproximo-me do Jake e puxo-lhe o braço, mas ele empurra-me para trás sem sequer olhar para mim. Caio de rabo no chão e o Noah vem logo ter comigo.
-Porra estás bem? - Pergunta quando me vê no chão.
-Sim, estou ótima. - O Jake esmurra mais uma vez o rapaz e eu grito. - Para Jake! Para com isso! - Quando ouve a minha voz o Jake vira-se e dá comigo sentada no chão a olhar horrorizada para ele. Tem os olhos injetados de sangue, quase sem vestígios de branco e os nós dos dedos estão alagadas em sangue, em carne viva. As veias dele estão dilatadas e as mãos a tremer.
-Foda-se desculpa estás bem? - Aproxima-se de mim, mas eu afasto-me e levanto-me.
-Vais explicar o que raio te passou pela cabeça? - Grito e ele passa os dedos pelo cabelo, puxando-o pela raiz.
-Não tens nada com isso porra! Tu é que te foste embora toda complicada por nada! - Vocifera.
-Queres continuar o que estavamos a fazer lá em cima? - A Lillian aproxima-se e diz em voz entaramelada. A sério, estava com a Lillian?
-Só podes estar a gozar comigo! Estavas com ela? Uma coisa mínima e vais logo ter com ela?! Vai-te lixar! - Disparo e saio de rompante para a rua. Ele puxa-me o braço e para-me quando estamos no relvado. Estamos a fazer uma cena enorme, mas não quero saber.
-Foda-se Scar não é isso! É verdade que eu estive com ela, mas foi porque estava fodido contigo e porque te queria esquecer e também foi por isso que bebi. Enervei-me e bati naquele idiota. Para de ser tão complicada!
-Desculpa? Tu dormes com uma rapariga e embebedas-te, deixas um rapaz de nariz partido e dizes para não ser complicada? Não podes estar a raciocinar bem! - Grito.
-Sabes que mais, eu nem sequer te devo explicações, nós não andámos! Tu namoras com o atadinho e eu não namoro de todo! Não ia resultar, e eu não te devo a puta de explicação nenhuma! - Grita e sinto as lágrimas a aflorarem, mas nem pensar que vou chorar diante dele agora.
-Então porque é que queres saber? Não devia sequer ter vindo,tu não queres saber de mim e eu fui ingénua ao ponto de pensar que podíamos ter algo- Digo e vou em direção ao meu carro.
-Espera porra, para! - Grita em tom de desespero.
-Porquê? Porque é que haveria de parar Jake? - Grito irritada, as lágrimas a lutar para caírem dos olhos.
-Porque... Porque eu te amo Scar. Não te posso perder eu preciso de ti. - E com estas palavras estaco. Não consigo mexer nem um dedo. Não foi o que disse, foi a maneira como o fez.
Ele aproxima-se e toma as minhas mãos nas suas. As lágrimas brotam dos meus olhos e ele apanha-as com os dedos.
-Desculpa por ter estado com a Lillian. Amo-te, queria tirar-te da cabeça. Pensava que não querias ter nada comigo, que não me amavas e só dizias isso por dizer.
Suspiro e ele leva-me até aí meu carro e começa a conduzir em direção a casa.
Quando chegamos levo-o diretamente à casa de banho para limpar as escoriações. Pego numa toalha e encharco-a de água. Passo-a pelas feridas e ele não se retrai, só olha para mim atentamente. Estou para lá de furiosa com ele, mas depois de ele ter pedido desculpas a minha raiva diminuiu ligeiramente.
-Vou fazer pressão, vai magoar. - Ele acena que sim com a cabeça e quando pressiono a toalha ensanguentada contra a pele dos nós dos dedos dele o seu corpo retesa-se, mas não emite qualquer som e mantém-se praticamente imóvel.
-Desculpa. Sei que estás furiosa comigo e tens razões para isso. Desculpa, passei-me, okay? - Diz-me quando torso a toalha cheia de sangue para o lavatório da casa de banho. Suspiro, derrotada.
-Não consigo ficar chateada contigo, estou desapontada. Pensava que estávamos a começar alguma coisa e tu estiveste com a Lillian, fizeste e disseste uma data de coisas que me magoaram só por causa de um pequeno desentendimento. Não percebo.
-Nem eu, desculpa. Fui um cabrão. Também quero ter alguma coisa contigo, séria, mas tenho algum receio. - Admite.
-De quê?
-De te perder. Nunca tive nada na minha vida, por isso desisti basicamente dela, mas tu fazes-me querer ser bom. Tenho algo a perder pela primeira vez na vida e isso aterroriza-me. - Confessa.
-Não me vais perder. - Asseguro. Sei que é verdade, já não me consigo afastar dele.
-Prometes que nunca me deixas? - Pede ancioso.
-Prometo. - Juro e ele tira a mão do meu colo e beija-me.
-O casacos de malha já se foi embora? - Pergunta.
-Na verdade, foi para Nova Jersey agora à noite. Foi mais cedo, haviam problemas com o apartamento. - explico e ele suspira de alívio.
-Graças a Deus, já não o podia ver à frente. - Exaspera, levando as mãos à cabeça no gozo e eu rio-me.
-Ainda estás bêbado? - Pergunto. Não gosto nada de o ver bêbado.
-Não. - Olho para ele com ar desconfiada. - Um bocadinho.
-Um bocadinho? - Gozo, sei que ele está mais bêbado do que diz.
-Um bocadinho mais do que um bocadinho. - Ri e eu acompanho-o. - Vamos para o quarto? - Pede e eu aquiesço, seguindo-o pelo corredor até à porta do quarto dele.
Quando me começo a despir ele atira-me a sua t-shirt e eu agarro-a no ar. Gosto imenso de usar a roupa dele e pelos vistos é recíproco. Visto a blusa preta dele sem nada por baixo sem ser umas cuecas e deito-me na cama com ele. As suas mãos acariciam-me o cabelo lentamente.
-Nunca me falaste no teu pai. - Lembro-me. Na verdade não sei muito sobre ele, apesar de sentir como se o conhecesse.
-Não fales nunca mais sobre a porra do meu pai. - Rosna é eu retraio-me.
-Está bem, estava só curiosa. - admito, voltando a aconchegar-me nele. É muito reservado, mas espero que com o tempo fique mais confortável para falar comigo sobre estes tipos de coisa. Independentemente de qualquer passado ou historial de erros dele, não interfere com o presente, espero que ele saiba isso. - É só que não sei nada sobre ti.
-Acho que não haverias de querer saber... - Murmura, acho que mais para si do que para mim.
-Gostava sim. Sabes imenso sobre mim e eu não sei quase nada sobre ti.
-Eu sinto que tu me conheces. - Diz para o meu cabelo. - Tenho medo que se souberes mais sobre mim me deixes... - Surrurra. Não consigo perceber porque é que ele vive com tanto medo de me perder. Serão assim tantos os seus erros do passado?
-Independentemente do que possa ter acontecido no passado não vai interferir no presente, Jake. - Tranquilizo-o. E é verdade, nada vai mudar o que sinto por ele.
-Isso é porque não sabes do que falas Scar…-E com isto dá a conversa por terminada.
-Sabes, se não me contas nada é impossível desenvolver qualquer relacionamento. - Resmungo e ele levanta-se da cama disparado e sai do quarto como um trovão.

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