Scarlet

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Depois do o Jake ter recebido aquela... amiga, a Lillian, fui direta para o meu quarto. A sério, porque raio haveria ela de me convidar para uma festa? Ela estava demasiadamente maquilhada e minimamente vestida. Apesar disso devo confessar que é bem gira. Claro que não sou grande fã de cabelo cor de rosa berrante, mas os traços dela são muito bonitos. Tem uns enormes olhos castanhos pestanudos que sobressaltam. Claro que nada comparado com aquele cabelo...
Deixei-me ficar no quarto até serem cinco da tarde e estar cheia de fome. Treinei durante três horas hoje de manhã e depois não me apeteceu almoçar.
Quando desci para a cozinha, encontrei a Leah lá.
-Olá! - Cumprimento com um sorriso ao tirar um copo  de água e ela retribui.
-Olá! Olha não sei se te apetece, se não apetecer tudo bem, mas ia agora começar a fazer o jantar e perguntava-me se te queres juntar a mim? - Afirma, num tom interrogativo e eu aquiesço com um sorriso.
-Claro que sim! Estou a precisar de uma distração. - Digo e ela sorri, tirando os tachos de uma das prateleiras do armário.
-Peço imensa desculpa pelo comportamento do Jake esta manhã. - Diz depois de pousar os tachos.
-Oh não foi nada! Devo admitir que ele não é muito cordial, mas não foi nada de transcendente.
-Não é muito cordial? - A Leah ri e eu também. - Ele é meu filho, mas sei a peça que é!

Depois do jantar retirei-me e fui para o meu quarto.

Acordo com os gritos de alguém a meio da noite.
-Não! - ouço do fundo do corredor. Que raio é que se passa?
Levanto-me e vou para o corredor. Passado um bocado os gritos param e eu fico mais aliviada. Porque raio é que o Jake estava a gritar a meio da noite?
Desço até à cozinha para beber um copo de água. Sei que não vou conseguir adormecer outra vez, mas também já são quase seis da manhã. Vejo o meu pai aproximar-se da cozinha e a esfregar as têmporas.
-Desculpa, o Jake tem muitos pesadelos. Não gosta de falar nisso. - Informa-me o meu pai.
-Muito frequentemente? - pergunto. Sinto-me um pouco mal por ele.
Vou até ao meu quarto com intensão de me vestir para treinar no ginásio, mas ao ver as pontas das minhas sabrinas decido queimá-las para endurecerem.
Vou até ao jardim e que do-me na porta do ginásio. Acendo um isqueiro enorme que uso sempre para queimar as sabrinas e começo.
Quando já estou quase a acabar de as endurecer, ouço passos na relva em minha direção.
-Que merda de cheiro é esse! Cheira a queimado para caraças! - Queixa-se, franzindo o nariz.
-Estou a queimar as pontas das minhas sabrinas para ficarem duras. - Digo e bato com a ponta dos sapatos na parede para provar o que acabei de dizer. Estão duras que nem pedra, assim como eu gosto.
-Que cena e não podias ir queimar para outro sítio? Está um cheiro horrível! - Resmunga irritado, apertando a cana do nariz.
-Estou no jardim. - Digo friamente.
-Pois... - Diz apenas.
-O que é que vais fazer para o ginásio? - Pergunto, tentando mudar de assunto e tornar o ambiente menos tenso.
-Exercício, talvez? - Diz sarcásticamente com um sorriso no rosto. O sorriso dele é maravilhoso,tem duas covinha perfeitas nas bochechas e os seus olhos verdes brilhão ante a luz do sol a nascer.
-Pois. - Respondo com um sorriso. - O que é que gostas de treinar mais?
-O que é que isso interessa? - pergunta e eu encolho os ombros.
-Curiosidade apenas. - Respondo e ele Franz e o sobrolho. - Então, qual é?
-O quê? - Pergunta enquanto entramos no ginásio.
-O exercício que mais gostas de fazer neste ginásio! - Respondo, soltando uma risadinha. O Jake está a ser extremamente simpático, o que é mesmo estranho.
-Kickboxing. - Responde,depois de um tempo. Vejo-o colocar as fitas adesivas pretas nas mãos. Pego em algumas fitas e enrolo-as também nas minhas mãos. - Que merda é que estás a fazer? - Pergunta, quando me vê com as mãos cobertas de fita.
-Achas que me consegues bater? - Desafio e ele franze o sobrolho.
-Não me parece que Kickboxing seja para miúdas do ballet. - Diz, ainda de sobrancelhas carregadas.
-Estás a subestimar-me. - Digo e subo para o colchão. - Oh, vá lá, tens medo de levar de uma rapariga? - desafio.
-Eu não bato em raparigas. - diz e continua especado no banco do ginásio a remexer nas fitas terrivelmente postas.
-Pois, só que isto não é bater, é praticar desporto. - Informo e sento-me no chão para alongar. Estou com um top de desporto vestido e uns calções de algodão curtos. Só uso este tipo de roupa quando treino e hoje sabia que não ia dançar. As minhas sabrinas ainda precisam de arrefecer. Estava só a pensar em fazer físico e alongamentos. O Jake observa cada movimento meu e é algo desconcertante ter aqui alguém, ainda por cima alguém com uma presença tão grande como ele, a ver-me alongar.
-Tens a certeza? - Pergunta, com dúvida no rosto.
-Fogo, anda de uma vez por todas! - Digo, cansada de insistir. Ele sobe para o colchão e eu levanto-me do chão.
Ele não ataca primeiro, fica apenas numa posição de defesa. Já sei que não me quer atacar e isso está a irritar-me profundamente, então dou-lhe um soco na barriga. Ele fica surpreso e tenta me soar, mas eu escapo e dou-lhe mais um soco.
-Foda-se, o que é isso? - Pergunta surpreendido.
-Já pratiquei. - respondo, encolhendo os ombros.
-Nunca imaginei uma miúda do ballet a treinar Kickboxing. - Diz a continuamos a lutar.
-Bem, obviamente estás muito enganado a respeito de muitas coisas sobre mim. - Afirmo e dou-lhe mais um golpe. - Mas e tu?
-Eu o quê? - pergunta, confuso.
-O que é que gostas de fazer, estás na universidade, conta-me mais sobre ti. - peço. Ele para de lutar e senta-se na beira do colchão, começando a tirar as fitas.
-Por que raio é que queres saber merdas sobre mim? -  Dispara, voltando a ser frio e insolente. Sabia que o Jake simpático não podia durar para sempre.
-Curiosidade. - Respondo de novo.
-Pois, és demasiado curiosa.- diz e levanta se de rompante.
-Calma, meu Deus. Só quero tentar conhecer-te melhor. - Digo é sento-me a seu lado, com uma distância considerável.
-Eu não gosto de falar sobre mim. Essencialmente a raparigas como tu. - Dispara e estas palavras enervam-me de uma maneira terrível. Ele está sempre a julgar-me e nem me conhece. Eu poderia muito bem julgá-lo por ter tantas tatuagens e piercings e estar todo chateado com o mundo, mas não! Estou disposta a conhecê-lo.
-Tu não sabes nada sobre mim! Estás sempre a insinuar que me conheces, mas não! Não fazes ideia do que foi chegar até aqui! - Vocifero, apontando-lhe um dedo em riste.
-Ah, então diz lá, o que é que foi a merda de chegares a bailarina com uma mãe perfeita. - Troça e eu perco completamente as estribeiras. A minha vida, ao contrário do que se possa pensar, não foi fácil. Não foi fácil mesmo. A minha infância foi passada à ouvir os meus pais aos berros e coisas a estilhassarem-se. Depois o meu pai abandonou-nos e a minha mãe fez o seu melhor para me criar sozinha. Quando decidi que queria mesmo ser bailarina, a minha mãe não tinha dinheiro nenhum e por isso teve que aguentar dois trabalhos e eu um para pagar e poupar para uma universidade. Tudo isto para sustentar o meu sonho, certo, mas eu com quinze anos tive o meu primeiro emprego para poupar. Nessa altura já estava a pensar concorrer para Julliard e sabia que não era barata. No entanto, tentei concorrer para uma bolsa e entrei.
-Tu não sabes nada sobre a minha vida! Eu não fui a capaz de crescer normalmente, porque ou eram os meus pais aos berros ou, depois, não ter um pai em casa. E eu não tinha dinheiro, tive que trabalhar, tal como a minha mãe, no duro para conseguir manter tudo isto. Achas que me conheces minimamente? Pois eu também te posso julgar. Deixa ver vieste de Inglaterra e, como estavas todo zangado com o mundo decidiste pintar e furar o teu corpo todo? Acertei? Pois, não me julgues, porque eu não estou aqui vinda do nada! - Suspiro exasperada e a sua expressão é séria, até se contorcer num esgar de fúria.
-Não sabes porra nenhuma da minha vida! - Rosna e eu retraio-me por causa do seu tom de voz.
-Então não faças o mesmo comigo! - Disparo é saio de rompante.

STAY STRONGWhere stories live. Discover now