Capítulo 52 - Remanejamento

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– Como ele é? – Erna perguntou em tom confidencial, aproximando-se de Olga, curiosa, e eu afiei os ouvidos.

Sabo e Alphonsine, aparentemente, compartilhavam da mesma curiosidade; Carmen nem tanto, e continuou a se ocupar com a carne, despreocupada. Talvez já o conhecesse de outras épocas, já que Prestes era amigo de seu marido.

Olga pareceu confusa um momento. Fez uma careta e permaneceu um momento pensativa. Por fim, pronunciou lentamente:

– Entusiasmado. Inteligente. Esperançoso. Autoconfiante.

E encolheu os ombros, sem saber o que acrescentar. Acabou liberando outras informações, sob o alvejar de perguntas das colegas. Até eu arrisquei lançar uma ou outra. Como ele tratava os camaradas? E os empregados do navio, enquanto estavam posando como ricaços? (Essa pergunta foi de Sabo, e confesso que a achei bem pertinente). Era comedido? Arrogante? Tinha conhecimento aprofundado de marxismo-leninismo?

As perguntas seguiram nesse nível, descendo depois até coisas mais invasivas, como hábitos diários e detalhes de sua biografia. Olga respondia algumas e descartava outras com um "não sei" quase ríspido. Se ela não sabia mesmo ou se não queria dizer, nós não tínhamos como deduzir. Em linhas gerais, porém, via-se que Prestes conseguira obter no mínimo o respeito daquela jovem sisuda e uns bons centímetros maior que ele.

De qualquer modo, eu esperava poder conhecê-lo melhor com a convivência nas próximas semanas ou meses. Para as colegas do Komintern o pequeno brasileiro era apenas um militante conceituado e comandante temporário de uma das suas muitas missões, o que já justificava sua curiosidade. Eu, por outro lado, poderia vir a tê-lo como Líder da minha nação no futuro. Era vital formar um juízo correto do seu caráter, até para saber se... bom... como seriam as coisas após a Revolução. Prestes tinha deixado uma impressão favorável em mim dos nossos dois breves encontros na União Soviética. Diferente do ditado popular, porém, nem sempre é a primeira impressão que fica, por isso eu pretendia manter uma observação atenta e crítica.

De Prestes, a conversa passou à viagem deles, isto é, aos detalhes cotidianos, por cima dos quais o militar saltara ao resumi-la para o grupo. Também contamos detalhes de nossas respectivas viagens, e me admirei da variedade de rotas que o Komintern tinha arranjado para cada casal. A minha e de Astrakhanov, com apenas uma parada, fora a mais simples, na verdade. As colegas passaram a me olhar com respeito ao saber da rota; a consideraram muito ousada. Como assim tínhamos ido direto da Maison para o ninho das cobras?

Ajudei a servir o jantar de peito inchado.

(Mesmo suspeitando que o Komintern só nos enviara para uma conexão na Inglaterra por ser a primeira missão internacional de ambos e ainda não termos – provavelmente – ficha no MI6, o departamento de inteligência britânico).

Já era tarde quando terminamos de jantar, e nos limitamos a esvaziar a mesa, deixando a louça para outra hora, pois havia assuntos relevantes a tratar, a saber, os mesmos da reunião anterior: readequação do nosso posicionamento com relação à ANL, envio de militantes ao Nordeste, e a operacionalização fática do levante. Se sobrasse tempo, trataríamos também do arrombamento em nosso apartamento – foi o que Astrakhanov me adiantou num sussurro, quando tomei meu lugar ao lado dele, após deixar a última panela na cozinha.

Berger já estava falando.

– ...temos que dar um jeito de adiar o cumprimento. Segurar por alguns dias ou semanas, até que a Aliança esteja em condições de assumir o poder que teremos que reivindicar para ela.

– Quanto tempo você acha que isso pode levar? – Prestes questionou, olhando-o de lado.

– Não há como prever. Pelos jornais eles estão crescendo rápido... – e Berger olhou para mim, pedindo confirmação da informação.

Dias VermelhosOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz