Capítulo 46 - Galinhas Verdes Fritos

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Capítulo publicado ainda no dia 19 em homenagem aos dois aniversariantes de hoje, StefaniPPaludo, a maior Astrete que você respeita, e thevainpoetry, o leitor que até hoje melhor conseguiu compreender o Pavel. Muito feliz em ter vocês por aqui, e se alguém não deu feliz aniversário para eles — afinal, nosso círculo no Facebook é um tanto restrito — fica convocado para fazer isso agora.

E seguimos a programação normal, com Maria e Astra roubando a cena.

***

Já tínhamos entrado uma semana em fevereiro quando Berger finalmente veio nos buscar na pensão para nos transferir para o aparelho definitivo que arranjara para nós, um apartamento mobiliado na Rua Raul Pompeia, não muito distante de onde moravam os Gruber. Isso seria bem útil, especialmente porque precisaríamos frequentar a casa deles ocasionalmente, para tratar dos detalhes dos cursos "técnicos".

Junto com Berger veio outro homem, um pouco mais jovem, de fartos cabelos negros, olhos castanhos e um sotaque castelhano carregado, que foi apresentado a nós como Camarada Altobelli. Ele também era um colaborador dos nossos negócios, Berger explicou. Depois que as contas foram ajustadas com a dona da pensão, nós quatro seguimos diretamente para o apartamento designado aos "Stuart". Berger, sempre atarefado, não passou do hall. Enquanto Astrakhanov levava nossas malas para dentro, o homenzinho tirou um envelope pardo do bolso, e me entregou. Eu abri e dei uma espiada no conteúdo, deparando-me com um bolinho de cédulas de alguns mil-réis.

– São para as despesas – explicou Berger – excluindo o aluguel, que já foi acertado com o proprietário por três meses. Esta quantia deveria corresponder ao salário de vocês de dois meses, mas vou ter que pedir que evitem extravagâncias e tentem fazer durar o máximo – ele pediu, avermelhando um pouco, evidentemente incomodado com a situação. – Nem sempre a situação dos nossos caixas está confortável.

– Demoram para enviar o dinheiro para o Bureau Sul-Americano – traduziu Altobelli. – Também, ele tem que fazer uns itinerários estranhos até chegar aqui. Estamos em busca de canais mais diretos, caso saiba de alguém de confiança...

– Como assim? – perguntei, sem entender direito o que queriam.

– Alguém que possa receber somas consideráveis diretamente, que tenha como disfarçar o recebimento em caso de fiscalização pelas autoridades, e de preferência que as autoridades nem investigariam, para começo de conversa.

"Alguém que as autoridades nem investigariam" teria que ser alguém rico, então eu logo indiquei não conhecer ninguém útil para a finalidade desejada. Meu círculo de relações era composto só de gente pobre, mesmo.

Instruções dadas, Berger e Altobelli iam saindo, mas Astrakhanov voltou do interior do apartamento, e fez com que parassem na porta, com um chamado:

– Camarada Berger, não teria uma senha com a qual poderíamos nos identificar para mais alguém da equipe com quem venhamos a travar conhecimento?

Berger ergueu as sobrancelhas, pego de surpresa pelo pedido.

– Não tem necessidade, camarada – ele disse, tranquilamente. – Não tem mais ninguém para apresentar ainda. Tirando nossas esposas – excetuou, apontando para si mesmo e o colega – e, claro, o pessoal do Partido local, mas creio que a esses a Camarada Anita já deve conhecer.

– Conheço alguns, de fato – eu intervim. Astrakhanov acenou concordância, mas continuava parecendo contrariado.

– Apenas... se houver necessidade de nos mandar encontrar alguém...

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