Capítulo 45 - Os Gruber

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Bom, me pediram capítulo de aniversário, e como hoje é também dia dos professores - para quem não lembra, Maria era professora... e aliás, o Astrakhanov também - resolvi atender o pedido. Este aqui é curtinho, também. Ironicamente, eles vão falar sobre aulas.

Agora é orar e torcer para eu conseguir escrever bastante em novembro e os capítulos não esgotarem antes do tempo. E desejar um feliz Dia dos Professores aos leitores profs e futuros profs, e um feliz aniversário à bel_alfieri, nossa leitora dos elogios enérgicos :v

***

Não foi a pressa que fez com que eu e Astrakhanov tomássemos o bonde em direção ao Forte de Copacabana naquela tarde, mas a necessidade de fugir do sol implacável da uma da tarde, que zombava do frágil escudo constituído pelas copas das árvores.

A hora era de pico, com todos retornando para os seus trabalhos, então não encontramos assento logo de início, e como a multidão nos comprimia, tampouco pudemos trocar impressões sobre o encontro com Berger. Astrakhanov tinha no rosto a impressão ilegível que vestia com alguma frequência, mas eu, por outro lado, queria muito contar o que me ia na mente e saber o que o tenente pensava.

Assim, quando saltamos do bonde, na altura da rua Sá Ferreira, e o observamos seguir seu caminho pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana, não deixei que o meu colega começasse de imediato a procurar o endereço por nós visado. Sinalizei para que ele me acompanhasse até o abrigo de uma das árvores que sombreava a rua Sá, muito mais vazia àquela hora do que a avenida.

Astrakhanov me olhou intrigado, quando nos ocultamos debaixo de uma figueira. Por hábito, olhei em volta antes de me pronunciar.

– Então, o que achou de Berger?

– Que poderíamos estar melhor liderados – ele retrucou, de imediato, com uma firmeza que me fez erguer as sobrancelhas.

– Nossa... que diagnóstico severo para apenas um encontro – me senti obrigada a defender, pois afinal eu simpatizara com Berger. – Ele me pareceu ter bastante boa vontade – contrariei, cautelosamente. Astrakhanov descartou minha observação com um aceno de mão.

– Ele certamente deve ser um excelente militante, ou não o teriam mandado para cá – disse, e eu fiquei procurando ironia em sua voz, mas não havia. – Falo do ponto de vista que me interessa, o da segurança. Nessa área ele deixa muito a desejar.

– Por quê? – perguntei, após um instante.

– Ah, muitas coisas. Para começar, isto – e ele tirou do bolso o papelzinho com os endereços. – Ele devia ter insistido para que aprendêssemos de cor, jamais nos dado um registro escrito. Ele acabou de nos encontrar. Também não se preocupou de checar muito nossas identidades, eu disse a senha, e para ele foi suficiente. Se abriu como uma maleta e contou toda a sua rotina – Astrakhanov abanou a cabeça com ar de censura. – Por isso que esse povo do Komintern sempre precisa de babá – resmungou.

Ergui as sobrancelhas vivamente. Astrakhanov notou a gafe, e ficou entre rir e se desculpar.

– Você até que é espertinha, – ele tentou amenizar, – mas se não precisasse de babá, eu não estaria aqui – completou, após um momento, decidindo manter-se fiel a seu primeiro pensamento.

Girei os olhos, dei-lhe as costas, e voltei na direção da avenida, disposta a procurar o prédio que tínhamos como alvo.

– Ei, espera – Astrakhanov chamou, e, como eu não voltei, me alcançou com três passadas. – Estava aqui pensando, não sei se Gruber vai nos receber. O cabeça-de-vento do Berger não nos deu uma senha – falou. – Eu não receberia.

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