Capítulo 6: Sonhando acordado (Sir)

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A escassa luminosidade que passava por pesadas cortinas cor de creme me acordou. Eu fiquei deitado, enxergando aquela janela estranha. Daquele tamanho? Com cortinas cor de creme? Tinha alguma coisa errada. Meus olhos pesaram e eu pisquei lentamente, sentindo um pouco de dor na lateral do meu abdómen. Girei na cama, confuso. Fiquei mais confuso ainda quando vi que a cama era gigantesca, muito maior do que qualquer cama de casal que eu já tinha visto na minha existência.

Estreitei os olhos, tentando enxergar melhor o quarto em minha volta e entender onde eu estava. Claramente não era meu apartamento. Será que minha família tinha se mudado e eu não lembrava? Esfreguei os olhos, perturbado. Quando os reabri, lembrei que na verdade estava fazendo um intercâmbio. Na Inglaterra. As lembranças foram voltando lentamente: meu apartamento, mocacchino de caramelo, Seb... E Jenny. Saltei na cama, sentando-me com rapidez e sentindo meu abdómen reclamar da minha ansiedade.

Era difícil enxergar sem meus óculos, mas eu não fazia ideia de onde eles estavam. Meu corpo inteiro estava moído, como se eu tivesse sido atropelado por uma manada de elefantes. Ou como se eu fosse o Mufasa, de Rei Leão. A diferença era que, pelo jeito, eu tinha sobrevivido. Olhei para os lados, procurando minha armação. Um borrão preto em cima do que parecia ser uma mesa de cabeceira chamou minha atenção e eu estiquei minha mão, esbarrando num telefone fixo que também estava na mesinha no caminho, mas agarrei meus óculos com afinco.

Agora tudo estaria resolvido: enxergando eu saberia onde estava, né?

Não. A verdade é que mesmo enxergando tudo em HD, eu ainda não fazia ideia de que lugar era aquele. Levantei da cama, apoiando a mão na parte da minha barriga que doía. Parei no meio do quarto gigantesco, fazendo esforço para entender o que estava acontecendo. Forcei meu cérebro a reviver minhas lembranças. Eu tinha salvo uma menina, Jenny, de uma tentativa de sequestro e tinha ido parar na prisão. Sacudi a cabeça, sem acreditar que aquilo tinha mesmo acontecido e não era um sonho bizarro. A própria garota e seu pai apareceram na delegacia para me soltar. Droga! Ela não era simplesmente Jenny. Ela era Lady Jennifer. E não porque a mãe dela era fã de Orgulho e Preconceito, mas porque ela era a bosta da filha de um Duque.

Meu abdómen doeu de novo e eu puxei minha camisa para cima, ainda mais confuso. Aquela camisa nem era minha. Aquele pijama não era meu. Fiquei só mais horrorizado quando terminei puxar a camisa e vi minha pele completamente roxa em baixo dela. Meu bom Mankiw, pai da boa microeconomia, o que tinha acontecido? Meu cérebro me ofertou, naquele momento, a lembrança de que o Duque (meu bom Mankiw, socorro) tinha me feito ir ao hospital.

Aquele era o hospital?

Eu girei nos meus pés, sem ser capaz de acreditar que os quartos de hospital na Inglaterra fossem daquele jeito. Quer dizer, aquilo em volta da porta não era um batente de ouro? Ou, pelo menos, folheado a ouro? Eu engoli em seco, dando um passo para frente. Minhas roupas estavam dobradas em uma cadeira de uma escrivaninha e, bem ao lado, no chão, tinha uma caixa de papelão...

Com minhas coisas.

― Sem pânico, Lucas ― eu respirei fundo, tentando não surtar.

Abaixei-me ao lado da caixa, sentindo a dor voltar. Eram mesmo minhas coisas! Não tudo que tinha no meu apartamento, é claro. Alguém tinha colocado naquela caixa meus cadernos do curso, minha caneca favorita do Starbucks e um punhado dos livros que eu tinha pego emprestado na biblioteca do curso. Também tinha um montinho de roupas limpas. Eu peguei minha camisa do lanterna verde na mão, percebendo que eu estava tremendo.

Só podia ser um sonho bem do esquisito. Forcei-me a levantar, apoiando a mão no local da dor novamente. Se era um sonho, eu precisava lutar contra ele. Só que eu estava tão cansado. Exausto. Meu corpo estava realmente destruído, dolorido e – cheirei embaixo do meu braço para confirmar – fedido. Era o sonho mais realista que eu já tinha tido na vida! Não fazia ideia de como sair dele, com meu corpo pesado daquela forma.

SIR: um plebeu honradoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora