19 - PERGUNTAS

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- Você pegou tudo o que ela precisa? - Ouvi uma voz familiar, a voz da Paula, e estava conversando com alguém. Permaneci quieta ainda fraca de mais para falar ou me mover.

- Peguei. - A pessoa falou com uma voz rouca, era a voz do Arthur. Me alegrei ao saber que ele estava ali.

- Você deveria ter-la levado ao médico no momento em que a encontrou.

- Você sabe que não posso. - Arthur respondeu um pouco irritado com a sugestão de Paula. - Mesmo depois de anos, ainda estou sendo procurado, e minhas fotos ainda estão espalhadas por toda aparte.

- Não importa, ela pode precisar de mais sangue.

- A nossa reserva acabou?

- O sangue dela é raro, não tínhamos muito aqui.

- Então tire do meu.

- Não Arthur, você já fez a doação deste mês, e o seu sangue não é compatível. - Paula falou, sua voz cada vez mais próxima.

- Me sinto um inútil. - As palavras do Arthur saíram como um trovão e então um estrondo acoou pelo quarto aonde estavamos.

- Arthur... - Tentei lhe chamar, mas sentir meu rosto dormente.

- Alice? - Arthur falou se aproximando, pude ouvir seu coturno agredir o chão desesperados, mas, quando tentei responder, algo me biliscou, como uma mordida de inseto em meu braço esquerdo fazendo meu corpo relaxar totalmente. - Acha que ela escutou algo?

- Provavelmente não. Isso aqui vai resolver, ela vai dormi tranquila essa noite.

- Paula, ela não pode saber do meu passado, ela não precisa....

Eu queria ouvir mais, eu queria saber de mais coisas, porém os meus olhos ficaram pessados, e o meu corpo não me obedecia, sentir minha cabeça girar e tudo se apagou.

***

Acordei com uma dor forte em minha cabeça, mas desta vez, consegui abrir os olhos e me mover normalmente. O lugar era bem arejado e iluminado. Eu estava em um quarto, não muito grande e nem muito pequeno. Em frente a minha maca, uma enorme janela me monstrava que estava em alguns andares longe do chão. Me perguntei se ainda estava na toca, ou se tinham me transferido para algum hospital. Tentei me sentar em vão, ainda estava fraca e meu braço esquerdo estava enfaixado, então lembrei de exatamente tudo, da surra que tinha levado, da tentativa de suicídio e da conversa estranha que o Arthur e a Paula estavam tendo na noite anterior.

- Você acordou! - Arthur entrou sem jeito pelo quarto, carregava em sua mão uma bandeja que me fez perceber o quanto eu estava faminta. - Fui pegar o seu café.

- Se eu dissesse que não precisava, estaria mentindo. - falei me ajeitando para que ele colocasse a bandeja em meu colo. Arthur sorriu e abaixou a cabeça enquanto eu devorava o café.

- Ora, ora.. a bela adormecida acordou. - Paula entrou logo em seguida com um jaleco branco, e um livro enorme que deixou em cima da mesa mais proxima.

- Você é médica desde quando? - Perguntei.

- Cinco anos de medicina muito bem pagos pelo meu querido, ou nem tanto, progenitor. - Ela falou pulando em minha "cama" e sentou-se ao meu lado beliscando meu pão de queijo. - Pelo menos serviram para alguma coisa essa madrugada.

- Quantos anos você tem? - Perguntei surpresa.

- Nem queira saber...

Paula respondeu brincalhona e então eles me informaram que estávamos na toca, e que aquele era um lugar pouco usado por eles, e era paula que cuidava dos curativos de Arthur quando ele ainda se cortava. E a cada dia, ela me surpreendia mais e mais, Paula não era alguém que de fato sofria na vida, ou se sofria, não demonstrava; Ela vinha de uma família muito rica e era tipo uma "nerd" em sua escola, pois já tinha concluído seus estudos com apenas quinze anos, porém, era nítido a falta de amor com que ela se referia ao pais. Eles continuaram falando, mas eu não estava ouvindo, me encontrei perdida em meus pesamentos.

- Alice? - Arthur falou acenando a mão em minha frente.

- O que aconteceu ontem? - Perguntei direta, sem lhe responder. Os dois se entre olharam e então Arthur começou a contar.

- Bom... assim que você se foi, eu comprei umas cervejas e me encostei no bar para beber, eu não estava bem aquele dia, e o clima frio não colaborava. Depois de beber dois copos, e ficar um pouco de bobeira, decidir dar uma volta pela sua rua para ver se encontrava sua casa, vi alguém desmaiado no chão, já tinha escurecido, notei os cabelos compridos e sentir o coração gelar ao perceber que era você. Não pensei duas vezes, corrir em sua direção e te carreguei ignorando a poça de sangue ao seu lado, te coloquei no carro, amarrei minha camisate em seu pulso e corri com toda velocidade para a toca.

- Por que não me levou no médico, não era mais próximo?- Perguntei ainda me lembrando da conversa de ontem.

- Não pensei nisso. - Arthur respondeu sem disfarçar seu nervosismo. - E temos a Paula aqui, a única pessoa em quem eu realmente confiaria que cuidasse de você.

Abaixei a cabeça decepcionada, por que ele não me contava a verdade? Por que o Arthur não confiava em mim? Não existia nada em seu passado que me entristecesse mais do que aquela mentira.

- Foi um milagre ter sobrevivido, quando o Arthur te encontrou, você já tinha perdido muito sangue, estava muito fraca, e ainda está. - Paula se levantou e ficou de pé ao meu lado. - Vai ter que ficar mais uns dias aqui para se recuperar totalmente. A não ser que queira voltar para a casa dos seus pais.

- Não, por favor, eu vou para qualquer lugar, menos voltar para aquela casa, não posso voltar... - Parei de repente me lembrando de algo importante. - O diário!!

- Está aqui! - Arthur falou me entregando o pequeno caderno. - Eu fui pegar ontem assim que te trouxe, sabia que iria querer. Testei todas as senhas que pensei que soubesse, e mesmo assim, não abriu.

- Você não precisa voltar para casa. Pode ficar aqui se quiser. - Paula falou distraída. - Agora preciso ir, qualquer coisa é só chamar.

Ela tirou o jaleto, colocou junto do livro e se foi. Segurei o caderno em meus braços, eu precisava descobrir como abriria aquilo, se a Ayan tinha me escolhido, ela sabia que eu seria seria capaz.

Arthur me olhava curioso, seus cabelos loiros caídos em seus ombros, o deixava bastante misterioso. Fechei os olhos involutarimente, ainda estava bastante cansada, e apaguei.

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