15 - FIQUE

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O som ia ficando mais alto a medida que iamos nos aproximando do quarto da tal Paula. A sua porta era totalmente preta, sem detalhes, frases ou imagens. Arthur bateu com força na porta, ouvimos o som diminuindo e uma voz rouca e grosseira apareceu ao fundo.

- Vai embora Max, eu não ligo para as suas regras idiotas!! - Ela gritou de dentro do quarto, Arthur me olhou com um sorriso brincalhão e voltou a bater. - Vai embora Maax, não vou falar pela terceira vez.

- Sou eu, Arthur, abra essa porta sua rabugenta. - Ele gritou encarando a madeira em nossa frente, que se abriu mostrando uma Paula transtornada.

- Entra! - Ela não parecia se importar de fato com a minha presença. Sentamos em um sofá meio velho e ela continuou em pé bastante irritada - Eu pensei que fosse o idiota do Max, agora que Ayan morreu, ele está colocando um monte de regras rídiculas no prédio. Acho que todos aqui sabiam que ela odiava hierarquias, sempre nos deixava livres para fazermos o que bem entendiamos. Mas, se ele acha que vai mandar em mim, ele está totalmente enganado, eu saí de casa, justamente porque o bundão do meu pai queria impor meus "limites"....

Ela continuou falando bastante nervosa. Arthur apenas a observava e a escutava, fiz o mesmo.

- Bom, mas já imaginávamos isso. - Arthur finalmente se pronunciou com com a testa contraída. - Cada um tem sua maneira de liderar, e a dele é esta.

- Eu só não entendo por que a Ayan deixou a liderança com alguém tão diferente dela. - Paula sentou-se na cama pensativa, e desligou o som que ainda tocava um rock pesado.

- Também não entendo. Mas sei que ele é um bom homem.

- Um bom homem, que gosta de regras. - ela exibiu um sorriso. Percebi que era a primeira vez que sorria e deduzi que a Paula pareceria muito mais simpática se sorrisse mais vezes, afinal, seu seu riso era muito bonito e acompanhado de dentes branquíssimos. - E a novata?

- Essa aqui é a Alice. - Arthur falou afastando os cabelos alvos do rosto. - Alice, esta aqui é a Paula.

Paula estendeu a mão direita e nos comprimentamos como dois empresários prestes a fechar negócios. Ela parecia mais calma e descontraída, me senti a vontade para lhe mostrar um sorriso amarelo tímido.

- Já sabe por que a Ayan te escolheu? Já sabe que diferença você pode fazer neste grupo? - Perguntou paula.

- Como assim?

- Bom... - Ela comecou a explicar - Já ouviu falar no surto da Baleia azul?

- Sim, mas... o que isso tem haver?

- Somos um grupo parecido, mandamos desafios para diversos adolescentes depressivos e desmotivados. - Lhe encarei perplexa - Mas, não somos tão conhecidos, preferimos o anônimato, entende?

- Vocês enduzem os adolescentes ao suicídio? - perguntei sentindo a minha pele empalidecer.

- Não, este é o único dasafio que não fazemos. - Paula tirou um cigarro do bolso e o acendeu. - Nós só fazemos com que eles esqueçam um pouco dos próblemas, nós os ajudamos. E de vez em quando acontece de um deles ser convidado para entrar no grupo, como você.

- Mas isso é errado!! - Gritei.

- Errado? Mas você fez o que a Ayan te pediu, não é mesmo? - Paula se proximou e puxou meu braço com força, afastando a manga do casaco e mostrando as minhas feridas e marcas recentes.

Aquilo era estranho, eu sabia que era errado, eu não apoiava que outras pessoas fizessem, mas eu me sentia "bem" fazendo aquilo. Me perguntei se realmente a mutilação era algo ruim, mas essa estória não entrava na minha cabeça.

- Enfim.. - Arthur falou afastanda a garota de cima de mim tentando de alguma maneira acalmar as coisas. - A Paula, cuida dos equipamentos e computadores do lugar, eu cuido do design, edição e outras coisas das redes sociais. Cada um tem uma função. E se você for ficar, vai precisar descobrir a sua.

Me estiquei no sofá tentando pensar em o que eu poderia ser útil naquele grupo, o que podia fazer de diferente. E foi em meio a esses pensamentos assustados, que lembrei que já tinha pasado do horário para que eu voltasse para casa.

- Preciso voltar. - falei me levantando depressa.

- Você não pode!

- Como assim?

- São mais das 7, está muito tarde. A esse horário pessoas ruins caminham por essa rua esquecida. Não posso te deixar sair, Alice. - Arthur segurou minha mão, sua pele era fria e a minha quente, gostei do atrito que elas causavam, mas me afastei devagar sem que Paula percebesse.

- Os meus pais vão surtar.

- É... ainda bem que me emancipei dos meus. - Paula falou acabando de tragar seu cigarro fedorento e sorriu sarcástica enquanto ligava seu som mais uma vez, fazendo meus tímpanos sangrar.

Acho que aquela era sua maneira de dizer "Saiam do meu quarto". Me despedi e voltei para os corredores com o Arthur ao meu lado. Eu estava curiosa para conheçer mais do lugar.

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