Scarlet: Prólogo

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Tudo para mim fazia sentido até hoje. Tinha absolutamente tudo. Contudo agora encontro-me neste banco no cemitério a olhar incansavelmente para o bocado de terra em que a minha mãe se encontra. E nisto tudo, neste turbilhão de emoções que me encontro neste momento, pergunto apenas porquê? Porque é que isto tinha de acontecer?
O meu nome é Scarlet e vivo com a minha mãe desde que sou nascida. O meu pai é a minha mãe divorciaram-se quando era muito pequena e desde então que quase não tenho contacto com o meu pai. Cresci a ir à igreja, a vestir-me mesmo quando não vou sair de casa e a ser uma rapariga bem educada e perfeita. Isto foram os ensinamentos da minha mãe e podem achar insolentes e hipócritas, mas na verdade funcionaram comigo. Não foi fácil crescer com a minha mãe, mas eu adorava-a. Era o meu mundo todo. Vivo numa cidade pequena no estado de Washington com ela e acabei agora o secundário. Tenho dezoito anos e a minha vida social consiste sobretudo em sair com o meu namorado, o Kevin e com a minha melhor amiga, a Alice.
Mo entanto, neste preciso momento é daqui para diante, tudo isto acabou. Vou viver para Nova Iorque com o meu pai e a sua nova família e para a universidade. Neste momento devia estar felicíssima por ir para esta universidade, a Julliard. A minha mãe e eu treinamos imenso, ela tinha dois trabalhos para me poder garantir ir para universidade e seguir o meu sonho. A minha mãe já tinha arranjado um emprego em Nova Iorque e um apartamento para nós, mas agora acabou. Quando a vi no hospital, com a cara contundida e o corpo imóvel cheio de hematomas percebi que tinha acabado. No entanto, não desisti de Julliard, sei que é a opurtunidade de uma vida e que eu e a minha mãe trabalhamos imenso para isto. Adoro dançar ballet, sempre adorei. Comecei quando tinha quatro anos e desde então que nunca mais parei. Amanhã apanho o avião para Nova Iorque e vou para casa do meu pai. As aulas só começam em Setembro e ainda estamos na segunda semana de Agosto, pelo que vou ter duas semanas para conhecer a minha nova família. Detesto isto, detesto mesmo isto! Detesto não ter opção, não ter podido escolher e ser apanhada desprevenida assim. Porque é que isto teve que acontecer? Não acontece na maioria dos casos, porquê a mim?
Levanto-me do banco de madeira escura e deixo um ramo de flores na campa da minha mãe. O cemitério está socegado e húmido. A relva é muito verde e contrasta com o castanho da terra de cada campa. Não é tão deprimente como devia ser.
Vou até casa do Kevin, onte tenho ficado desde o acidente. Nós decidimos manter uma relação à distância, mesmo que seja complicado. Namoro com ele desde os nossos quinze anos. Ele vai para Nova Jersey viver, que não é assim tão longe de Nova Iorque, mas tem de se atravessar o rio. Bato a porta de madeira escura da casa dos pais dele e ela abre-se quase automaticamente. Deparo-me com o Kevin de t-shirt azul e calças de fato de treino cinzentas. A sua barba está rala, quase inexistente e o cabelo loiro despenteado. Os seus olhos azuis fitam-me e convidam-me a entrar. Sentamo-nos no sofá castanho de tecido silenciosos. Ele tem sido impecável comigo e muito atencioso desde que a minha mãe chegou.
-Como é que te sentes? - pergunta genuinamente preocupado, os seus olhos condolentes e as mãos entrelaçadas nas minhas. Encosto a minha cabeça no seu peito e encolho os ombros.
-Triste, mas melhor do que estava na semana passada. Estou anciosa por amanhã. - respondo e ele abraça-me, aconchegando-me. - Vou ter saudades tuas.
-Eu também não sei como é que vou passar duas semanas sem ti, mas quando chegar a Nova Jersey vemo-nos outra vez. Até lá, liga-me. Eu lamento imenso o que se passou, mas tens de tentar esquecer e viver o teu sonho. Vais para Julliard concretizar o teu sonho, quantas bailarinas podem dizer isso? - Diz, é tem razão. Tenho de tentar esquecer ou pelo menos ultrapassar isto. Tenho de ver isto como uma opurtunidade de conhecer o meu pai e concretizar o meu sonho.

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