Dark Blood ||TW||

||21|| - part one

Despertei em um sobressalto, com meus pulmões se inundando de ar, como se tivesse emergido à superfície. Por um segundo uma sensação de alívio me percorreu, obriguei-me a manter a respiração em um ritmo constante e a fazer meu coração parar de martelar contra minhas costelas.

Abri os olhos que pareciam estar pesados como cortinas de chumbo, e foi nesse instante que aquela sensação se esvaiu completamente por meus poros, e a dura realidade me chocou como um balde de água fria.

A primeira coisa que meus olhos captam são as barras de ferro que me circundam como uma jaula. O que de fato era. Consegui ver uma fina linha negra traçada em volta de minha prisão, não sabia do que se tratava, porém quando passei uma das mãos por entre um dos buracos da cela, fui barrada por um muro invisível. Era como estar dentro de uma bolha.

As paredes eram de cimento, encardidas e manchadas por algo de origem suspeita. Enormes talhos e arranhões de garras deixavam claro a origem do prisioneiro com garras que me antecedeu. Percebi que não havia mais nada dentro da jaula além de mim, um corpo débil jogado no chão como um defunto.

Havia um cheiro forte de excremento de rato e urina que se misturava ao ar úmido e estagnado, fazendo meus olhos arder e meu estômago querer colocar todo seu conteúdo para fora. Meu corpo estava empapado com o suor que fazia meu cabelo grudar a nuca, e minha garganta implorava por qualquer coisa líquida.

Tentei pôr-me de pé, mas tive de segurar as barras frias de ferro, evitando que meu corpo tombasse para a frente. Minhas pernas assim como o resto de meu corpo parecia ter se tornado apenas um amontoado de músculos adormecidos. Fechei os olhos por alguns segundos para tentar afastar a sensação de vertigem que assolou-me pelo esforço.

Pela primeira vez, desde que despertei, consegui focalizar minha mente para tentar pôr os fatos em ordem; Damien estava de volta, Kyle estava ao lado do inimigo, tinha perdido meu irmão, sacrifiquei-me pelas pessoas que amava, Kol me nocauteou e agora estava no abatedouro, esperando a fera vir para me devorar.

Toquei com cautela a área que seu gancho poderoso de direita havia acertado, mas não encontrei nada. Nenhuma protuberância, nada dolorido, apenas uma pele uniforme e sem marcas. Era no mínimo inexplicável a súbita cura célere.

Queria saber onde estava, mas a única coisa que descobri foi a de que minhas roupas tinham sido trocadas. Um vestido branco, amarelado pelo tempo, havia substituído minhas roupas usuais, levando junto os meus sapatos. 

Tudo havia se tornado uma bagunça de incertezas e alvoroço em minha mente. Um rolo de linha que embaraçou todos os meus pensamentos e os transformou em puro tumulto e agitação. E quanto mais eu procurava pelo inicio do fio, mais parecia me perder em seu comprimento. Eu dava nós desde o inicio. Se for contar quantos já dei desde que cheguei em Beacon Hills: descobri que minha família vinha fazendo lavagem cerebral em mim e meu irmão; meu pai não era realmente meu pai, mas sim meu tio que morreu a poucas semanas; Eu possuía poderes dos quais não tinha a mínima ideia do que poderiam fazer; minha mãe tinha dormido com um homem ao qual deveria odiar, e que por sinal era pai biológico do meu irmão...eram muitos nós para apenas uma linha. 

Eu só queria que essas grades magicamente desaparecessem e eu pudesse ir atrás daquele maldito. Queria ter meu irmão de volta. Mas ao mesmo tempo eu estava cansada de correr. Não queria mais esperar que as coisas acontecessem, que os fatos se encaixassem sozinhos nos lugares certos, uma vez que, quando isso acontecia, eu apenas me encontrava sendo puxada ainda mais para a avalanche de consequências, uma cova fria de mentiras e perdas. 

Uma pequena movimentação por entre a densa escuridão do ambiente me fez perceber que não estava sozinha ali. Uma iluminação bruxuleante e meio azulada contra as paredes faz com que minhas sobrancelhas se arqueiem, até o momento que apuro mais os ouvidos para escutar o barulho de água corrente. Onde era este lugar? Um esgoto?