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Já havia se passado alguns dias. Dois dias, segundo o que Lydia me disse da ultima vez que veio me visitar. Eu só estava deixando a ruiva vir até minha casa, e tinha garantido que nenhum outro entrasse - principalmente qualquer ser sobrenatural - ao fazer um grande circulo de acônito em volta de minha casa, um truque que aprendi com o Dr. Deaton. O ponto era que eu não queria que mais ninguém me visse naquele estado. Fraca, chorosa, magoada e ferida. 

Eu já havia aceitado que não ia ter meu pai de volta. Aceitei que não o teria para me buscar no colégio, me trazer segurança ou abraçar e dizer que tudo ficaria bem. E eu queria alguém assim naquele momento. Levantei da cama e encarei o mundo frio fora de minhas cobertas. Nos últimos dias não havia parado de chover sequer um minuto, como se o tempo combinasse com meu humor. Usando meu uniforme diário - um pijama de flanela - deslizei os pés para dentro das pantufas e sai de meu quarto. A casa inteira estava em um silêncio total, fazendo a ausência de um membro pesar mais ainda. 

Bati na porta que ficava na frente de meu quarto. Alguns segundos se passaram até eu ouvir um barulho de passos lentos vir me atender. O cabelo de Luke não estava desgrenhado como normalmente ficava quando ele dormia, mas seus olhos pareciam tão cansados que eu me perguntei se ele ao menos estava com eles abertos. Ele franziu a tez quando me viu ali, parada na sua porta. 

"O que houve, Amy? São quase quatro da manhã." E dito isso ele bocejou. 

"Eu não consigo dormir." Confessei ao meu irmão. Ele pareceu entender o que quis dizer e abriu mais a porta, deixando eu entrar. O quarto de Luke, diferente de como era antes com muito glitter e rosa, agora era um quarto completamente masculino. As paredes foram pintadas de um azul marinho e o teto se tornou preto. Sua escrivaninha estava completamente bagunçada assim como o seu armário que tinha as portas abertas. Alguns posteres de bandas e de jogadores de futebol americano estavam dispostos na parede assim como algumas fotos de amigos que ele tinha na cidade que vivíamos antes de vir para Beacon Hills. Observava o seu quarto por inteiro, a fraca luminosidade da lua atravessando a janela aberta e apenas delineando os móveis e objetos. 

Olhei para a sua cama e ela estava surpreendentemente impecável. Os lençóis não tinham nenhum traço de que alguém havia deitado ali. Luke esclareceu aquela raridade quando viu meu olhar sobre a cama. 

"Também não consegui dormir..." 

"Você pensa nele cada vez que fecha os olhos, não é?" O completei, minha voz baixa e rouca das horas que vinha passado chorando. Luke concordou em silêncio, deixando em seguida um pesado suspiro escapar. Jurei ter visto seus olhos brilharem, embargados de uma forma melancólica e perdida a qual nunca tinha visto em meu irmão mais velho. 

Ele afastou os lençóis intocados e deslizou para baixo deles. Vendo que eu ainda estava parada ao lado da cama, ele deu um tapinha na área ao seu lado no colchão. O agradeci com o olhar enquanto me deitava em sua cama e ele me cobria. Me virei em sua direção e acolhi minha cabeça em seu ombro, continuando ali visto que não houve nenhum protesto de sua parte. Parecíamos crianças de sete anos que dormem juntas por terem medo do escuro, mas nenhum dos dois ligava. Eu simplesmente precisava me segurar a alguém, precisava de uma âncora. 

"Eu sinto a falta dele." Depois de longos minutos em silêncio, o sono começava a fazer meus olhos pesarem, por isso a voz de Luke soou distante. Quase inconsciente de sono e com os olhos fechados, respondi-lhe em poucas palavras, mas que definiam o que sentia. 

"Eu também sinto." 

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O barulho que me despertou foi a de algo batendo, parecia ter sido uma porta. Pelo despertar bruto, meu escasso sono havia se esvaído completamente, fazendo com que sentasse na beirada da cama. Olhando sobre meu ombro, vi a imagem de Lukas ainda dormindo na mesma posição de ontem, suas feições calmas diferentes das de quando ele estava acordado. Luke não era muito de demonstrar seus sentimentos reais a qualquer um, mas eu sabia que estava tão desolado quanto o resto da família. 

Dark Blood ||TW||Onde as histórias ganham vida. Descobre agora