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Não sei exatamente por que, mas algo naquela voz logo atrás de minha nuca fez meu sangue congelar. Minha vontade era de me virar para enfrentar quem quer que fosse o dono da voz, tinha vontade de correr para longe, de volta para o conforto de minha casa, mas tudo isso no momento parecia totalmente impossível de acontecer.

"Vamos, garotinha. O lobo comeu sua língua?" Uma voz feminina reverberou impaciente, tendo um quê de algum sotaque forte em cada palavra proferida.

Ao ouvir a referência ao lobo, lembro-me do animal de meu quintal, o que me faz virar de súbito para simplesmente dar de cara com o nada além de árvores. Meu coração já começava sua rápida batida, meu olhar alerta esquadrinhou o cenário ao meu redor que mais se assemelhava com um de filme de terror. O céu escuro e sem estrelas apenas dava lugar para a lua que banhava o topo das arvores com sua luz prata e se esgueirava por entre o feixe das árvores para iluminar, basicamente porcaria nenhuma. Mal conseguia ver a dois palmos em minha frente.

"Quem são vocês?" Minha voz sai mais fraca do que esperava e se mistura com o vento. Minha resposta vem na forma de um silêncio no vazio, seguido por uma sensação insana de não estar sozinha.

A próxima coisa que sinto é meu corpo voando contra uma árvore. Um guincho de dor sai de minha boca e fico momentaneamente desorientada. A dor na lateral de meu corpo se faz tão presente quanto a dor em minha cabeça, sentia um líquido quente e viscoso escorrer pela minha nuca; talvez fosse isso que me causou vertigem quando tentei levantar. Em minha vista embaralhada, reconheci dois pés com coturnos gastos vindo em minha direção.

Me encolhi mais ainda contra o tronco da árvore, chegando a clara conclusão de que ele me tinha encurralada. O desconhecido se abaixa ao meu nivel ficando tão perto que podia sentir sua respiração quente, causando calafrios.

"É só isso? Não pensei que vocês Mediadoras fossem tão inúteis" Não entendo nenhuma palavra que ele fala, mas isso serve como incentivo para que suba meu olhar para encarar quem quer que seja.

Mesmo sobre a quase inexistente luz, consegui identificar o corpo alto e os olhos tempestuosos e frívolos que me lançavam o mesmo olhar diabólico do dia no campo de lacrosse. Que merda Kol Samuels estava fazendo aqui?

"Na minha opinião, ela não serve de nada para nós. Eu topo mata-la agora" A mesma voz feminina de antes me faz engolir em seco.

Ela vinha de uma garota aparentando ter a mesma idade que eu, cabelos loiros que iam até o ombro e um olhar tão cinzento e afiado como adagas quanto o de Kol. Podia chutar que eram irmãos. O loiro olhou sobre seu ombro para a garota e quando voltou sua atenção para mim, o sorriso malicioso em seu rosto fez meu estômago dar uma cambalhota.

"Não tem nada a dizer? Que pena" Seu tom cínico foi seguido pelo erguer de sua mão, onde garras longas e afiadas pareciam prontas para me matar.

Deveria ter gritado, chutado ele, feito algo, mas tudo pareceu estar em câmera lenta, principalmente quando vi o corpo de Kol ser derrubado por algo extremamente rápido, o jogando para longe. Um rugido gutural fez todos os fios de cabelos em meu corpo se arrepiarem. Em meio ao manto negro e denso das árvores, emergiu algo que fez minha perspectiva do insano e sobrenatural mudar drasticamente.

Os olhos de Scott estavam vermelhos como se pegassem fogo, seus traços estavam animalescos e ele exibia garras e presas como as de um predador nato. Olhei para o indivíduo que derrubou Kol e que agora vinha a passos rápidos em minha direção.

"Amy, você está bem?" Reconheci a voz, mas não o seu dono. Isaac. Mas não era o Isaac. Era uma forma lupina e de olhos dourados flamejantes como as do lobo em meu jardim. Era um animal.

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