KOURTNEY

1.3K 141 10
                                    

KOURTNEY 

     Fiz uma promessa a Russell e principalmente a ela, Lucy. Não gosto de pensar e nem de falar sobre ela porque dói demais. Ela era minha melhor amiga, minha irmã desde do jardim de infância. No começo vivíamos brigando até que um dia, ela chegou muito triste e se sentou nos fundos da sala. Na hora do recreio, preferiu ficar na mesma com a cabeça apoiada na carteira. Me aproximei e ela me abraçou aos prantos e me contou todo o seu sofrimento e daquele em dia em diante nos tornamos inseparáveis. Fazíamos tudo junta e nunca brigávamos. Eu a amava. Ela era minha irmã de outra mãe que devia protegê-la, mas não o fez. Lucy demorou anos pra me contar o que tinha acontecido de verdade naquele dia que chorava sem parar e não pude guardar seu segredo porque eu me senti na obrigação de defendê-la e contei tudo a Russell. Ela me odiou por meses pelo que o irmão fez. Ele nunca mais foi o mesmo e o conheço melhor do que ninguém e sei o quanto é difícil se controlar quando está com raiva. Nathan é o único que sabe da história e entende o motivo de eu estar com ele amando o Jean. Porém agora tudo isso foi longe demais e não posso ir contra o meu coração. 
     Eu poderia ter terminado com Russell e seguido feliz com Jean. É tudo que mais quero. Jean é o homem dos meus sonhos. Russell é lindo, mas por mais que tentasse, nunca conseguiu conquistar meu coração. Eu menti para muita gente sobre o tempo que nos conhecemos, porém só meu irmão Nathan e meus pais sabem que ele é meu amigo desde a minha infância e sua adolescência por causa de Lucy, sua irmã. 
     Sempre vi Russell como meu irmão mais velho e então eu cresci e ele me enxergou como mulher e me pediu em namoro. Na época, ri porque pensei que fosse brincadeira, mas ele se manteve sério e disse que estava apaixonado. Eu expliquei que amava outro e toda vez que nos víamos, ele se declarava até que aceitei esse papo de namoro porque fazia parte da vingança contra Jean. Como eu estava equivocada. Jean mudou. Ele não é mais aquele homem que fez tanto mal ao meu irmão ao lado daquela víbora que felizmente está morta e enterrada. Não sei como resolver essa questão com o Russell, mas tem que ser logo. Ele marcou a data que está próxima demais. Eu o entendo. Sei por tudo que passou e no fundo sou seu alicerce. Alguém que lembre a Lucy. 
       Sorri sem graça pra ele que não tirava os olhos de mim. Eu o conheço bem e sei que quando gosta tanto de alguém, adora cuidar e se importa de verdade. Sei também o quanto é solitário e triste desde que Lucy fez o que fez. Ela machucou muita gente. O erro foi nosso que não percebemos o que acontecia com ela e a perdemos sem nem tentar. 
      — Quer mais querida? — A tia do Russell perguntou me oferecendo mais batatas recheadas. 
       Neguei educadamente. Estava tudo gostoso. Ela cozinhava muito bem. Era uma senhora de 65 anos que criou Russell e Lucy desde que os pais... Bem, morreram. Fazia tempo que eu não me permitia pensar nela, mas nessa casa é meio difícil. Aqui tem tantas lembranças. Só ela me entendia e vice-versa. Fiquei ao seu lado quando aconteceu aquilo com seus pais. Achei que a ajudava com minha amizade e que a ajuda psicológica estava ajudando como ajudava seu irmão, mas me enganei. Lucy não aguentou tanta dor, ela não sabia como lidar. É demais pra mim. Me levantei e fui correndo para o jardim e deixei as lágrimas rolarem. Normalmente não choro porque seguro tudo que sinto. Funguei e senti braços me abraçarem. Ele é quem mais sofre. 
      — Também sinto falta dela. Todos os dias. Tem vezes que acho que não vou aguentar. Eu não posso desistir como ela fez. Você é a única que eu tenho, Kourtney. Não me deixe também. 
      — Não é justo, Russell. Não é justo. Eu te amo como irmão e você sempre soube. Nada mudou. Você me pediu em casamento sem me consultar. 
       — Eu amo você. 
       — Eu acho que você ama a ideia de que eu lembro a Lucy. 
       — Eu já te amava antes, lembra? Posso fazê-la me amar também. 
       — Não quero te magoar e sinto que se casarmos, farei exatamente isso como faço agora. Você é bom demais pra mim. 
        — Não faça isso comigo, Kourtney. Você prometeu a Lucy. 
        — E irei cumprir como amiga, somente.
         Ele tentou me tocar e me afastei. 
         — Kourtney, não faz isso. 
        — Eu não queria ter chegado a esse ponto do nosso relacionamento. Era pra termos terminado quando retornasse, mas fiquei com pena, você estava vulnerável e se aproveitou.
       — Porque eu te amo e preciso de você. Não tenho mais ninguém nesse mundo. Lucy só pensou em si mesma quando tirou a própria vida — Começou a chorar e passar a mão pelos cabelos — Nunca aceitou minha ajuda por completo. A culpa foi minha. Eu mudei e ela se culpou. Ela não entendia que a culpa era somente daquele ser desprezível que chamávamos de pai e daquela que deveria nos proteger, mas deixou que o verme molestasse sua filhinha. Minha mãe deixou que o nosso pai chegasse as vias de fato com a minha irmã e eu não estava lá para protegê-la. 
        — Você a protegeu assim que soube o que ele fazia. 
        — Eu achava que sim, até minha irmã virar as costas pra mim e pouco se importar quando fui parar em um reformatório por ter matado nosso pai nojento. Eu os peguei no flagra. Lucy chorava e pedia pra parar e ele sentia prazer em machucá-la. Nossa mãe pra se eximir de sua responsabilidade, se trancava no quarto. Eu deveria tê-la matado também. 
       — Não diz isso. Você não é assim — Toquei em seu rosto — Ela não merece o filho maravilhoso que tem. 
       — E mesmo depois de tudo isso, ainda sou obrigado a ajudá-la. 
       — Você não é. Você é tão vítima quanto sua irmã. Deixe que ela se vire, não é problema seu. 
        — Ela é minha mãe — Disse como se fosse óbvio —  Pensei que pudesse contar com você para poder lidar com tudo isso. Você prometeu que não me deixaria sozinho. 
     — E não vou, mas podemos ser amigos.
    — Eu não quero sua amizade. Eu quero que fique ao meu lado todos os dias como combinamos. Você fez uma promessa a Lucy. Por favor, Kourtney, não me deixe sozinho também.
     — Sinto muito. Já tomei minha decisão.
     Nathan buzinou e beijei Russell na testa.
     — Serei sempre sua amiga. Me perdoe por ter te magoado. Você vai encontrar uma mulher que te ame de verdade, mas não sou eu.
      Entrei no carro e Nathan me abraçou.
      — Você está bem?
      — Vamos logo.
      — E o Jean?
      — Vou procurá-lo amanhã porque hoje estou realmente exausta. Absorvi tudo de ruim naquela casa.
       — Eu te disse que não era bom ter aceitado namorar com ele por pena e para não quebrar uma promessa. Nessas horas que é bom um ombro do cara que você ama.
       — Tem razão. Eu preciso ficar com o Jean, me desculpar e conversar, mas só amanhã. Hoje só quero sentir o cheiro dele e amá-lo muito.
       Mandei uma mensagem: "Tô em casa, sozinha. Vem me ver. Senti muito sua falta. Agora seremos você e eu somente. Nada mais de terceiros"
      "Jura? Tô saindo agora mesmo de casa"
       Sorri para Nathan.
      — Eu gosto do Jean, ele faz bem pra você e você a ele.
      — Eu o amo.
      — Eu sei, bonequinha. Seja feliz.

A REDENÇÃO DE UM HOMEM - FAMÍLIA WINSOR - LIVRO 3 (JEAN) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora