3 - CAPÍTULO

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    Ajeitei minha gravata e saí do meu apartamento. Na segunda-feira preciso estar bem cedo no teatro para ensaiar a peça, o quê significa que não poderei curtir essa noite com alguma mulher enroscada no meu corpo ou minha agente me mata. Desliguei o celular rejeitando mais uma chamada de Lory. A gente está ficando há alguns meses e ela se acha exclusiva, pensa que é minha namorada. Não disse com todas as letras que ela não era, mas deixo claro que quando eu quiser ficar com alguém, não é problema dela e também não rotulei nada que acontece entre nós. Outras me beijam na frente dela com o simples propósito de provocá-la. Lory se ilude demais achando que ficaremos juntos como um casal e que com isso a levarei a sério. Já expliquei que nunca irei me casar e que estou feliz assim. Serei solteiro eternamente.
     Não suporto ter que dar explicações sobre o que faço ou deixo de fazer,  então para que quero uma namorada? As únicas mulheres da minha vida são minha irmã, mãe e sobrinhas. Lory confessou que está apaixonada por mim. Onde fui me meter? Agora a dispenso sempre que posso, mas às vezes me sinto só e ela vem me consolar. Eu não devia brincar com os seus sentimentos, eu sei mas ela também não me nega nada e me aproveito da situação. Uma hora ela me esquecerá, eu espero. Talvez eu mude de atitude um dia, por via das dúvidas, já que tenho deixado tudo às claras. E pra piorar tem a minha agente, Maximine, que acha que é minha esposa e se comporta como se não ligasse em ser traída. Duas malucas no meu pé. No fundo tenho medo de estar criando outras Luísas.
       Estacionei meu carro em frente a casa de Christian e, Casey abriu o portão pra mim. Abracei e beijei minha ruivinha adorável. Se tivesse nos conhecido desde sempre, tenho certeza de que a carregaria para todos os lugares, pois assim que nos vimos, nos apaixonamos imediatamente. Não tem como não amar a Casey. Ela é tão doce e meiga qie senão fôssemos irmãos,  me casaria com ela em 2 tempos. Eu acho.
     Não tenho aversão a casamento. O casamento da minha mãe é perfeito, é o meu exemplo e de meus irmãos, porém não me vejo enroscado pelo resto da vida com a mesma mulher. Amo as diversidades de estar cada dia sob uma pele diferente. Fiquei tanto tempo com a Luísa e me serviu de que?
    —  Que saudades, irmãzinha linda.
    —  Eu também, JC.
     Amo esse apelido que ela me deu.
     —  Você é minha irmãzinha preferida.
      Ela revirou os olhos rindo.
      —  Você só tem uma, seu bobo.
      Olhei rapidamente para a linda casa que meu irmão pediu para o arquiteto projetar especialmente para sua querida esposa, o que me lembra o Mausoléu. Christian se inspirou e ganhou de vez o coração de Kimberly.
      —  Todos estão aí?
      —  Sim, é a sua chance. Está nervoso?
       Respirei fundo e assenti. É agora ou  nunca. Ela me deu a mão e adentramos na casa de Christian. Brendan sorriu pra mim e nos cumprimentamos. Ele e Casey são os únicos que mantive contato durante todo esse tempo. Nathan acenou com a cabeça num gesto amigável e agradeci. De todos os Winsors, empata com a nossa irmã. Eles não guardam ódio no coração. Derek não estava presente porque está tendo sérios problemas com Jacky e a filha que ela escondeu. Aliás, fora obrigada a mentir e omitir.
     Jonathan torceu os lábios me examinando nada feliz e se sentou parecendo cansado. Fico feliz que meu irmão Brendan veio para me apoiar, já que não é do seu feitio ser familiar. Somos os únicos que não fomos enfeitiçados.
      —  O quê ele faz aqui, Casey? O Christian não pode vê-lo, você sabe de tudo que ele aprontou —  Finalmente Jonathan me encarou raivoso —  Dê o fora da casa do meu irmão. É muita cara de pau sua vim aqui depois de tudo que o fez passar, senão for embora agora...
      —  Calminha, aí, touro.
        Esse era o Christian. Ele apareceu na sala com os gêmeos no colo e Anne agarrada a sua cintura e Amy a sua perna. O cara é todo grande e vê-lo assim tão paternal é estranho.
     — Não vim brigar, só quero conversar, me desculpar. Me deixei dominar por sentimentos ruins. Perdão por tudo, eu quero explicar, mas também acho que o quê fiz não tem explicação, mas mesmo assim gostaria que me ouvissem.
     —  Eu adoraria — Sorriu gentilmente
     — Sério, Christian, depois de tudo que ele te fez?  — Jonathan ainda me olhava cético e Christian deu um sorriso de canto.
        É. Não vai ser fácil com o Jonathan e eu com medo da reação pavorosa do Christian. Brendan e eu nos aproximamos depois que ele me salvou naquela noite. Ele não exigiu explicação, apenas me levou ao hospital dizendo que fui vítima de assalto e que chegou a tempo quando iriam me matar. Ele é policial e sua falsa história colou. Fiquei naquele lugar por semanas. Tive costelas quebradas, meu maxilar ficou conturdido e tive uma pequena concussão. Poderia ter sido pior se Brendan não interferisse, pois Christian estava disposto a me matar. "Christian fez um bom trabalho com o cara que transou com sua mulher. Sorte sua que eu ainda estava na cola dele", ele disse quando melhorei.
    Queria ter dito toda a verdade; que não toquei na Kimberly, que foi apenas um beijo e uma tremenda armação, porém como sempre não tive coragem e além do mais tinha Luísa que me mantinha de boca fechada me deixando usufruir do seu corpo sempre que eu quisesse. Alguns achavam que estávamos apaixonados. Bem, eu estava. Luísa era obcecada pelo meu irmão Christian, tanto que tentou matá-lo e depois tirou a própria vida. Ela era louca demais. Ela precisava de ajuda e não fiz nada para ajudá-la, não me preocupei com seus sentimentos e me sinto culpado pelo seu fim tão terrível. Pelo jeito sou o único que sinto falta dela.
      Toda a minha vida nunca assumi meus erros por nada, nunca tive coragem pra fazer o que fosse preciso. A Kim está aí para provar quantas vezes disse que a amava e mesmo assim lhe virava as costas. Eu era o verdadeiro covarde. Não consigo dizer não e mantê-lo. Esse era o meu maior problema com as mulheres que se apaixonam por mim; as deixo ficar, não dá para dispensá-las tão facilmente. Elas ainda ficam por perto. Muito disso é minha forma de agir, com certeza. Digo tudo que elas querem ouvir, faço o quê e querem e as mantenho por perto caso precise um dia. É. Eu sou assim. Não me orgulho por não jogar limpo, mas não sei ficar sozinho, por isso minto. Sou ator é fácil fazer os personagens criarem vidas e conquistarem meus alvos sem muito esforço. Já fui romântico ao extremo, dominador, cavalheiro, cafajeste, enfim, é só a mulher escolhida pedir que eu dou tudo que queira. Infelizmente elas não me dão porque por mais que a gente brinque, que eu me satisfaça naquele momento, continuo me sentindo vazio. Ainda não descobri o porquê se adoro diversificar minhas conquistas.
      —  Casey me disse que você passou recados dizendo que eu também não queria falar com o cara. Não devia ter feito isso sem me consultar — Christian falava com Jonathan que não tirava os olhos de mim como se me vigiasse.
       —  Só quis te proteger.
       Eu o entendo, de verdade. Ele ama muito o Christian, seu irmãozinho caçula. Foram só os dois por um longo tempo. Ele o protegia, o protege até hoje. É lindo esse amor fraternal entre os dois. Queria tanto ser assim com eles algum dia. Por mais que eu me arrependa do que fiz, nada fará o tempo voltar.
      —  Eu sei, mano e agradeço muito, de verdade. Nunca fui um bom homem. Tô tentando deixar o passado pra trás. Passar aquele tempo em coma me fez enxergar muitas coisas de outro jeito, me modificou de dentro pra fora e hoje sou uma pessoa melhor do que antes. Nosso pai poderia ter feito diferente com a gente, mas fez questão de nos desunir. Finalmente o perdoei e a você também Jean. Fomos todos vítimas dele e ele foi dele próprio se privando de ter o amor dos 7 filhos. Sou pai de 7 lindas crianças também e é a melhor sensação do mundo. Não sabia que era o pai da Manu por muitos anos e nem tive oportunidade de fazer mais por ela quando era pequena e ainda tem o Mark entre todos que é bem parecido comigo. É difícil conviver com ele por conta daquele padrasto que faz a cabeça dele contra mim e Giulia não faz nada a respeito quando ele passa uns dias com ela. Eu tento demonstrar o quanto o amo, mas ele não entende porque não escolhi sua mãe, porém com jeito, ele volta ao normal. Giulia ainda está ressentida e passa isso pra ele. Não tem como eu ser um homem ruim tendo essa esposa maravilhosa e esses filhos encantadores. Sou feliz, essa é a vida que quero pra sempre. Você não é mau, Jean, nunca foi. Realmente entendo o seu lado, você foi manipulado por alguém que você amava incondicionalmente, mas que não fez o mesmo por você. Ele te encheu de sentimentos negativos. Não tô justificando o quê você fez, as consequências dos seus atos, mas se você realmente tivesse uma má índole, não estaria esse tempo todo angustiado, tentando obter a redenção.
      —  Obrigado, Christian, isso é muito importante pra mim. Eu realmente me arrependo de todo mal que provoquei. Queria poder fazer algo para compensar
      —  Pena que não pode voltar no tempo — Jonathan disse sarcástico e recebeu uma bela olhada de Christian. Deu de ombros não se importando e continuou: — Fala sério, Christian, se esqueceu de tudo que ele aprontou? Será que se esqueceu da armação dele com a cobra da Luísa contra a Kim? O quanto você e a sua mulher sofreram? Vocês ficaram anos separados, pelo amor de Deus e foi tudo culpa dele.
      Jon se revoltou fazendo as mulheres entrarem na sala com suas proles. Olhei para Kimberly, tão linda e mais madura. Sua beleza sempre me encantou, mas não o suficiente para me transformar em um homem mais corajoso. Percebi que ela olhava para todos no ambiente, exceto pra mim como prometera um dia. Eu entendo, entendo mesmo que ainda não consiga me olhar e esquecer do passado, do enorme mal que fiz. Não vai ser nada fácil conquistar a confiança de todos, tô completamente ciente disso. "Te amei tanto, Kim, você não faz ideia. Meu amor acabou assim que a vi descabelada e descuidada" Então, percebi se ela foi a única que me despertou paixão e não fez com que eu mudasse, ninguém mais faria.
   Fitei Christian que me analisava, talvez querendo saber como eu reagia perto de sua esposa. Ela se sentou quase no colo dele de tão grudada e pegou um dos gêmeos nos braços o ajeitando em seu seio coberto pela pequena fralda de pano e Anne aproveitou e pulou no colo do pai se aninhando confortavelmente em seus braços chupando o dedo enquanto ele fazia carinho em seus cabelos loiros cacheados. Ela é muito fofa e quando crescer, se tornará uma linda mulher. Ela é muito grudada com o pai, não faz nada sem ele por perto. Palavras de Casey. Virei para o outro lado e Susan tentava acalmar o marido com beijos, afagos e sua expressão foi suavizando. Engraçado o poder que algumas mulheres tinham sobre alguns homens. Nunca aconteceu nada parecido comigo e olha que gosto muito das mulheres com quem fico.
     — Eu sei, mano, não esqueci de nada — Christian deu um tapa de leve na perna de Jon me encarando — Se ele teve humildade suficiente para vim até aqui se desculpar, não me custa nada ouvir, parar e refletir. Rancor não nos leva a lugar algum. Vamos ter que construir uma relação diferente, você sabe — Assenti — O tempo será nosso melhor amigo. Você faz parte da família agora, porém aos poucos — Estendeu a mão  —  Bem vindo.
      — Obrigado.
      — Continue tentando ser sempre melhor.
       Sorri e apertei a mão estendida. Olhei para Jonathan que se levantou e me deu um abraço nada afetuoso. Sem problemas, eu o entendo.
      — Se fizer qualquer gracinha, já sabe. Viverei sempre para proteger esse cara aqui —  Apontou para o Christian. 
      — Tranquilo e respeito muito isso.
       Jonathan semicerrou os olhos e depois balançou a cabeça em um gesto claro que não acreditava em mim.
       —  Nos conte o quê anda fazendo — Christian se sentou apoiando o filho no braço e lhe dando a mamadeira enquanto equilibrava a filha na outra perna que se deitou em seu ombro depois que Kimberly se afastou com o outro menino.
        Casey me disse que ela tinha pouco leite e o estresse e a culpa de querer amamentar os filhos, a dominava e seu leite era cada vez menos produzido, não importando quanto o bebê mamava. Kim estava travando uma batalha interna com a maternidade e Christian lhe dava apoio, era seu porto seguro. Ela tentava dar de mamar para os filhos que quase sempre rejeitavam por causa da quantidade de leite que ela vinha produzido. Antes dela sair do ambiente, percebi que resmungou algo bem chateada e seu marido rebateu sussurando ao seu ouvido a fazendo lhe dar um selinho sorridente. Se olhavam com amor e ternura. Ela o beijou mais uma vez, agradecendo e saiu. 
      —  Bom, tô fazendo uma peça de teatro, mas algo não tem agradado aos diretores principais. Eles avisaram que faremos mudança. Moro em Manhatam, meus pais em Nova Jersey agora curtindo bastante o casamento. Meus irmãos estão fazendo intercâmbio na Inglaterra, se especializando na faculdade de medicina; oncologia e neurologia.
       —  Você namora? — Jonathan indagou.
     —  Não, mas tô saindo com alguém   
     — Pretende se casar, ter filhos?
     — Não penso nisso. Dessa doença não morro — Ri pela piada infame que fiz e apenas Brendan riu disfarçadamente enquanto os outros me olhavam seriamente — Foi apenas uma piada.
        —  Horrível. Amo estar casado — Nathan disse — Você e Brendan não sabem como é porque nunca conheceram o verdadeiro amor.
      Eu ia dizer a ele que amei a Kimberly e a Luísa, mas pareceu irrelevante nesse momento que até eu me questionei se já as amei um dia. Dizem que amor não é egoísta e isso é o que mais sou. Como amarei alguém se me amo integralmente?
     —  Não nutre nenhum tipo sentimento pela mulher alheia? — Jon inquiriu com rispidez atacando minha jugular. 
     — Que isso, Jonathan? Que agressividade gratuita é essa? — Brendan interveio —  Dê uma chance para o seu irmão. Nosso pai já fez merda suficiente com nossas vidas para agirmos igual. E pare com esse interrogatório desnecessário, porra.
        Ele observou quando Kimberly voltou para a sala pegar Anne que cohilava no colo do pai. Não acredito que ainda têm sentimentos por ela. Ele nem sequer tentou. Foi somente seu amigo. Ele nem piscava ao admirá-la até Christian ficar em seu campo de visão. Sei exatamente o que o fez se apaixonar; ela exala um ar inocente, não só pela idade, mas é todo um contexto.
       —  Quer alguma coisa? —
Christian inquiriu e Brendan desviou o olhar. 
     —  Preciso ir.
        Ele se despediu de todos, brincou com os sobrinhos e se foi. Não o entendo. Ele aparece uma vez ou nunca, fica pouco e vai embora alegando problemas no trabalho. Brendan é bem distante de todos, e faz questão disso.
      
     A noite foi produtiva. Tive bastante contato com meus sobrinhos, exceto Sophie que estava na casa de uma amiguinha. O pequeno Mike, filho de Casey tenho contato direto e foi ele quem me ajudou com seus primos. Ver todos meus irmãos daquele jeito com suas famílias, me fez querer ter uma algum dia. Brendan é bem reservado, não sabemos quase nada sobre ele. Me joguei no sofá completamente feliz por meus irmãos terem me dado a oportunidade de me explicar, de pedir perdão. Esse é o meu recomeço na família Winsor. 
     —  Alô?
     — Está em casa?
     — Acabei de chegar.
     — Aonde foi?
     —  O quê quer, Lory? Tô cansado.
     — Posso ir para o seu apartamento? Tô com saudades.
      Sei que não devia, mas...
      —  Vem, tô te esperando.
      Desci para a cozinha e fiz um sanduíche. Logo a campainha tocou e fui atender. Estava de cueca boxer e Lory entrou se jogando em meus braços, me beijando faminta. Flexionei os joelhos e a peguei no colo a levando para o meu quarto. Mal chegamos e ela começou a dançar sensualmente, tirou minha roupa e passou a me lamber, chupar. Me joguei na cama e ela montou. Essa noite vai ser longa e muito boa. Ela sabe exatamente do que gosto e é muito boa no que faz, porém só me desperta tesão. Sei que é injusto porque ela está apaixonada, contudo sou egoísta e não recuso quando ela pede pra ficar comigo. Só penso em mim, eu sei. Não posso evitar ser tão egoísta.

A REDENÇÃO DE UM HOMEM - FAMÍLIA WINSOR - LIVRO 3 (JEAN) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora