PARTE 1 *Capítulo 1*

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 Morar em cidade grande tem seus pontos positivos e negativos. Tome como exemplo a cidade onde nasci e cresci, o Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa. Tem tudo o que uma civilização do século XXI precisa. Restaurantes, shoppings, programas culturais, paisagens deslumbrantes, festas, praias, etc. É claro, o Rio possui também diversos pontos negativos, como a violência, a precariedade de serviços públicos e as longas distâncias. 

Exatamente por conta desse último fator é que estudei na mesma escola por boa parte de minha vida. Centro Educacional Vinicius de Moraes. É uma escola de ensino Fundamental e Médio que fica apenas a dois quilômetros de minha casa, aqui em Botafogo. Acostumei-me a pedalar minha bicicleta para as aulas diariamente. Fiz amizades eternas, tenho certeza disso. Memórias inesquecíveis foram escritas naquele lugar. Meu primeiro beijo, aos 13 anos, foi em uma festa da escola. A vez que ganhamos o primeiro campeonato escolar de vôlei foi emocionante. Foi lá que minha amiga Iasmin recebeu as primeiras flores de seu namorado; que a Larissa teve seu primeiro desmaio, levando-a a descobrir sua diabetes; que a Marina recebeu a ligação de seu pai para lhe informar o nascimento do mais querido irmãozinho; que a Andréia nos contou do divórcio de seus pais. Minha adolescência estava ali, gravada naquelas paredes, escrita naqueles quadros, marcada naquele pátio. Foi triste quando chegou a hora de me despedir daquele prédio, onde passei boa parte de minha vida. 

Contudo estava na hora de mudar. Meus pais acreditavam, e eu estava de acordo, que era hora de mudar de colégio. Aos 17 anos e prestes a iniciar o terceiro e último ano do Ensino Médio, eu estava pronta para abandonar minha zona de conforto e ser educada por uma escola com um nível superior de ensino, uma escola de melhor renome e tradição na preparação de alunos para o pré-vestibular. Estava decidida. Sonhava em prestar vestibular para arquitetura. Curioso como se "sonha" nessa idade. Mal sabemos o que nos espera pela frente. Mas aos dezessete anos e obrigada a escolher uma profissão para o resto da vida, não há nada de errado em sonhar, certo? Era o melhor a fazer. Empenhar-se e sonhar para ocorrer tudo bem. Para perseguir meu grande sonho, abandonei outro: passar um último ano junto de meus amigos, na escola onde sempre estudei. Contudo, estava pronta para sacrificar este desejo juvenil por uma chance melhor ao meu futuro. Seria transferida para uma escola muito maior do que a anterior. Muito mais longe também, devo acrescentar. Se quisesse chegar a tempo para as aulas, a partir de agora eu deveria acordar às cinco horas da manhã, me arrumar sem demora e pegar um ônibus com jornada de quase uma hora. Não faz mal. O tempo extra me daria muito em que pensar. Com nova escola, vêm também novos desafios.

Desse modo, o dia 11 de fevereiro de 2008 chegou e eu estava pronta para meu primeiro dia de aula. Na noite anterior minha mãe parecia mais ansiosa que eu. "Agnes, você já separou o uniforme?". "Agnes, deixe seu lanche preparado para amanhã. Não faça tudo em cima da hora, senão você pode se atrasar.". "Agnes, seu material escolar já está pronto? Lembre-se: a partir de agora você deve sair bem cedo de casa. Não vá querer se atrasar em seu primeiro dia de aula.". "Agnes! Agnes! Agnes!". Como se eu precisasse de uma força a mais para me deixar nervosa. É bem difícil esquecer que sua rotina mudará radicalmente, mãe, mas obrigada pela lembrança. Essa agitação toda apenas me deixou mais perturbada e, como resultado, fui deitar depois da meia-noite. Além disso, dormi muito mal. Acordei às 04h02min da manhã alarmada, acreditando ter perdido a hora e me atrasado. Depois novamente às 04h28min. E às 04h55min.

Quando o despertador finalmente tocou às 05h00min eu estava completamente exausta, porém a lembrança do primeiro dia de aula em um novo colégio foi o suficiente para acelerar meu coração e me fazer pular da cama. Arrumei-me às pressas e saí de casa. Ao entrar no ônibus olhei meu relógio de pulso. Eram 05h34min. Extremamente cedo. Não para mim, é claro. Eu estava de acordo com o cronograma. E agora apenas restava-me esperar. Uma hora. Eu levaria uma hora para atingir meu destino final. Se ao menos a ansiedade fosse embora, eu poderia cochilar ou ouvir música ou ler o livro 'Orgulho e Preconceito' da Jane Austen que eu carregava em minha mochila. Entretanto, faltava concentração, então, passei meus 60 minutos apreciando a vista, mas ao mesmo tempo, sem prestar atenção no que via. Fiquei a pensar no ano de 2008, como mudaria minha vida. Será que faria, de fato, boas amizades? E quanto aos meninos? Algum terá a minha atenção?

Uma Segunda Chance Para O AmorWhere stories live. Discover now