"Era bem mais fácil esconder as suas habilidades quando criança." Ela franziu os lábios, indicando que eu me sentasse ao seu lado. Cruzei os braços deixando claro que não me dobraria fácil à sua imagem de fragilidade. Ela suspirou novamente e continuou. 

"Os poderes de uma Mediadora vão se aprimorando conforme a idade, mas você foi uma criança...diferente. Um dia fui chamada em sua escola porque a professora viu um canteiro de flores inteiro morrer quando você apenas tocou nele." Olhei para o vaso de flores mortas caído no chão, e depois voltei meu olhar para ela.

 "Sempre que algo acontecia com você ou Luke, tínhamos que nos mudar e, consequentemente apagar suas memórias. Quando isso tornou-se difícil demais de fazer, comecei a botar uma combinação de ervas que retardava os seus poderes e os de Luke nas suas comidas. Tinha alguns efeitos colaterais, mas eu achava que compensava. Ser uma Mediadora não é algo bom, Amy. Os poderes que nós temos não são presentes dados a nós, são apenas maldições que somos forçadas a carregar. Elas apenas trazem destruição e dor. Eu e Elliot não queríamos isso para vocês." 

Minha respiração estava presa em minha garganta, minhas pernas bambas me forçaram a sentar na ponta da cama, ainda que afastada alguns centímetros de Anne. Tentava assimilar o que ela dizia, as memórias que recuperei através do ritual ainda estavam muito embaralhadas para eu relacionar com o que estava me sendo dito. Muitas coisas ainda teriam que ser explicadas, mas no momento eu queria ouvir sobre uma em especial.

"Eu vou perguntar apenas uma vez, e espero que você fale a verdade." Ela acenou com a cabeça, concordando com meu termo. Já vinha pensando naquilo desde quando mergulhei na banheira de gelo e tive minhas memórias de volta, mas aquela possibilidade parecia tão absurda que eu precisava ouvir a confirmação direto da boca de Anne. 

"Elliot não é meu pai e nem o de Luke, não é verdade?" 

O silêncio se prolongou por minutos, ou apenas foi essa a impressão que tive enquanto sentia o peso que aquela frase causou sobre nós duas. 

"Elliot sempre será o pai de vocês, Amy. Ele apenas...não era o pai biológico de vocês." Ela soluçou, os olhos rapidamente se embargando em lágrimas. Estranhei sua reação. Havia um tempo em que cheguei a duvidar do amor que minha mãe sentia por Elliot, já que nunca via os dois demonstrarem grandes atos de afeto um pelo outro como a maioria dos outros casais. No entanto, percebi que o sofrimento que ela sentia ia além de ter que criar e sustentar dois filhos sozinha. Ela também sofria por ter perdido seu marido, e nada iria consertar isso. 

"Eu conheci Elliot após ter tido um filho com um homem completamente detestável, e me encontrava grávida novamente de um homem que eu nunca poderia ter. Chris Argent era um caçador, seu trabalho era acabar com seres sobrenaturais como eu e Elliot. Eu vivia como prisioneira em uma matilha de lobisomens, o alfa do grupo era Damien, um homem horrível e...pai de Lukas. Quando descobri que estava grávida de um caçador eu sabia que tinha que fugir, eu queria uma vida normal para vocês. Por isso foi que aceitei me casar com Elliot e fugir da matilha de Damien. Ele era a minha passagem para fora daquele mundo, e com o tempo eu passei a realmente ama-lo." Ela deu um sorriso melancólico. Não consegui segurar algumas lágrimas quentes que escorreram pelas minhas bochechas, mas as limpei o mais rápido possível. 

"Você precisa dizer isso ao Luke. Ele também tem o direito de saber a verdade." Anne fungou antes de concordar silenciosamente. Eu me levantei e fui em direção a porta, sendo que quando estava para sair, eu ouvi seu último comentário. 

"Eu apenas espero que você e Lukas possam me perdoar." E então eu retornei ao corredor para seguir até meu quarto. 

"Eu também." 

Dark Blood ||TW||Where stories live. Discover now