Me sustentei sobre as pernas bambas, os músculos ainda adormecidos, e segui até a porta. Quando saí, a fechei devagar e com cuidado para não fazer barulho e acordar meu irmão, apesar de que se ele não acordou com o estrondo anterior, achava difícil ele acordar com o barulho da porta. 

A cortina da grande janela do corredor estava aberta, deixando os feixes de luz entrar e pintar as paredes. Finalmente, havia feito um dia de sol. Seguindo pelo corredor, encontrei a porta do quarto de minha mãe entreaberta. Eu nunca havia entrado no quarto de meus pais e ficado ali por muito tempo, não sabia o motivo. Normalmente ouvia eles conversarem sussurrado por de trás da porta, mas não me atrevia a bater na porta e entrar. 

Daquela vez, ouvi a voz de Anne falar ao telefone. Senti que era errado estar escutando aquilo, mas eu estava cansada de tantos segredos. 

"Eu não quero você aqui, Argent!" Ela falou baixo, mas seu tom era como se estivesse gritando. Supus que o Argent com quem ela falava era Chris Argent. Houve uma resposta seguida pelo ralho de minha mãe. 

"Você não é parte dessa família. Se Amy ou Lukas verem você no enterro de Elliot, podem desconfiar!" Um silêncio se prolongou por segundos até ouvir minha mãe novamente. 

"Faça o que quiser, mas não quero ver você perto de Amy." Ela alertou ele antes de desligar. Novamente aquilo, será que ela não podia parar de esquematizar segredos e mentiras nem depois da morte de seu marido? 

De súbito, escancarei a porta e entrei no quarto a passos determinados. A tristeza que sentia era ofuscada agora por ressentimento e raiva, algo que não era saudável mas eu não conseguia evitar. Anne se assustou com minha aparição repentina, tanto que procurou esconder o celular atrás de si enquanto levava a mão ao peito, surpresa. 

"Amy, achei que soubesse que é feio escutar a conversa dos outros?" Ela tentou simular um tom repreensor, mas era óbvio que estava preocupada que eu houvesse escutado toda sua conversa. 

"Como você pode ser tão boa atriz?" 

"O que quer dizer com isso, querida?" Sua expressão parecia genuinamente confusa e o apelido ao qual me chamou, de repente fez um gosto amargo subir minha garganta.  

"Por todo esse tempo, você tem escondido tudo de mim e Luke! Nossa infância, quem nós realmente somos, você ao menos disse a verdade uma única vez em nossas vidas?" A cada palavra ia dando um passo em sua direção. Em alguns segundos, vi sua defesa cair completamente em minha frente, seu rosto a denunciando. 

"Tudo que eu fiz foi para proteger você e Lukas." Ela contestou pausadamente. Aquilo fez o sangue rugir em meus ouvidos. 

"Nos proteger? Como apagar completamente as memórias da vida de alguém é suposto proteger ele? Você ao menos pensou que eu ou Luke poderíamos querer saber a verdade?" A questionei, meu tom de voz ficando alterado a cada minuto, mas eu já me encontrava fora do controle para detê-lo.

"Amy, eu acho melhor se acalmar." Ela avisou, mas a ignorei completamente.  

"Claro que não, porque você estava se protegendo todo esse tempo!" 

"Amy!" O som de vidro se espatifando no chão foi seguido da voz de minha mãe. O belo vaso de flores que antes estava sobre a estante, agora tinha ido ao chão. As pétalas de flores que antes eram saudáveis, agora tinham uma aparência doente, quase acinzentada e velha. 

Anne não parecia brava, ao contrário ela apenas deu um longo suspiro e se sentou na ponta de sua cama, onde afundou o rosto nas mãos. Pensei que não era possível eu ter feito aquilo, mas logo ouvi um murmúrio de minha mãe. 

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