Capítulo 20 ~ A verdade e a memória

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Hagrid não acreditou nas palavras da diretora.

Nem deixou que levassem Hermione sem se opor.

Ela foi levada para o Ministério, acompanhada de Minerva.

- Mas ministro... Deve haver outra saída - argumentou a diretora. - Usar a poção em toda a escola me tirou noites de sono.

Hermione estava no centro da sala, sentada na cadeira que um dia foi assento do seu melhor amigo, quando passou por um julgamento por ter usado magia sem permissão.

Minerva estava em pé, atrás da aluna, encarando o ministro que ocupava o assento central da bancada do júri.

- Depois desses anos conturbados que tivemos, Minerva, nada é como antes, ela não tomou quando foi servido na escola, precisa tomar agora. Não deve restar dúvidas, não quando nossa última experiência provou que um aluno pode se tornar o maior inimigo do mundo bruxo. Além do mais, não vamos adentrar a vida pessoa da garota, toda pegunta feita aqui estará diretamente ligada ao objetivo desse julgamento. - O ministro ergueu a mão na direção de Hermione e assentiu levemente olhando para o homem segurando uma bandeja perto da porta. - Pode servir, Levaus.

O funcionário do ministério deu alguns passos adiante e entregou a caneca para a jovem bruxa.

- Três gotas senhorita Granger. Não deve durar mais do que o necessário. Beba por favor.

Hermione hesitou, mas queria logo terminar com isso. Ela não tinha feito nada do que alegavam, a veritasserum iria provar isso.

Ela elevou a caneca, sentindo o cheiro da cerveja amanteigada antes do líquido tocar a boca.

- Qual o seu nome e quantos anos tem? - questionou o homem ao lado do ministro, assim que Hermione terminou de beber todo o líquido.

- Hermione Granger, 18 anos - respondeu a garota. Antes mesmo que pudesse pensar na resposta as palavras saltaram de sua boca.

- Hermione Granger a senhorita é a responsável pelo sumiço das pinturas e dos fantasmas de Hogwarts?

- Sim, sou.

As palavras surpreenderam Hermione tanto quanto surpreendeu Minerva.

- Qual a razão desses atos?

- Concluir a tarefa.

- Concluir que tarefa senhorita Granger?

- A tarefa - a mente de Hermione começou a fraquejar. Aquelas perguntas estavam, por algum motivo, exaurindo suas forças e talvez até mesmo sua sanidade. - A tarefa senhor. A tarefa - a cabeça de Hermione estava prestes a explodir.

- Por que fez isso?

- Eu... eu não sei ao certo - era como se cada palavra que saía de sua boca levasse um pedaço do seu cérebro junto. - Pare de perguntar. Por favor pare.

- Ao certo?

- Eu sei que fiz, sei que tive que fazer, porque era a coisa certa, mas... - aquilo doía muito. Hermione não estava tentando lutar contra a poção, ela queria que tudo fosse esclarecido, mas nada do que dizia fazia sentido. Todas as palavras que saíam de sua boca estava sendo arrancada de dentro dela, vindo de um lugar muito distante, escondido atrás de todas a lembranças e verdades que estavam em sua mente. -... mas não entendo o porquê. Pare de peguntar. Por favor. Está doendo.

- Se você parar de lutar contra o soro, vai parar de doer - disse o ministro.

- Eu não estou lutando contra o soro - Hermione quase gritou.

- Mais uma vez senhorita Granger - retomou o interrogador. - Por que fez isso?

- Eu não sei. Já disse que não sei - as palavras saíram entre grunhidos. - Eu não sei... - a mão de Hermione suava.

- Pare com isso ministro. Eu não vou tolerar que faça isso com uma de minhas alunas. Ela já disse tud... - começou Minerva, mas foi interrompida.

- Quieta Minerva. Você pode ser diretora de Hogwarts, mas eu sou o ministro da magia, e aqui e em qualquer outro lugar minhas ordens prevalecem. Continue Hervoulos.

- Senhorita Granger, por que escondeu as pintu...

- PARE DE PERGUNTAR - Gritou Hermione, levantando-se da cadeira, sem conseguir se controlar. - Está doendo. PARE!

Mas um clarão cegante tomou conta de sua visão e sua cabeça cochou-se contra o mármore frio do chão da sala de interrogatório quando a bruxa desmaiou.

Tudo ficou preto, e a lembrança ganhou vida:

- Obliviate - disse a bruxa, apontando a varinha para o casal sentado em frente à TV, o objeto pendendo levemente para a direita.
Eles formavam um belo casal; os cabelos escuros porém de cores diferentes, feições marcadas no rosto do homem, nariz grande porém fino, boca suave, mas não tão pequena, olhos castanhos, da cor dos cabelos da jovem atrás dele; o rosto da mulher era mais suave, nariz pequeno, com a ponta levemente arredondada, boca pequena, olhos escuros.

- Obliviate - repetiu a garota, agora apontando a varinha mais para a esquerda, diretamente para o homem.

Então tudo desapareceu.
As brincadeiras, os sorrisos quando conseguia a melhor nota, os choros quando precisava se consultar com os próprios pais sobre seus dentes.
Tudo rapidamente esquecido, como fumaça se esvaindo em meio ao vento feroz de uma noite de outono.

- Obliviate - disse uma voz ao longe.

"Obliviate!" gritou Hermione quando despertou nos braços da diretora, ambas no chão frio da sala, sendo assistidas por dezenas de olhares surpresos e preocupados.

Obliviate. A palavra pairando no ar como um corvo prestes a bicar.

Hermione entendeu a razão de toda aquela dor. Era seu corpo avisando-a, era seu corpo sentindo a reação da luta entre a poção da verdade e o feitiço da memória.

- Obliviate - começou Hermione, falando bem alto, para que todos ouvissem o que ela tinha a dizer; porque agora ela sabia como poderia provar sua inocência.

Harry Potter e o beijo das sombras | DRARRYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora