Capítulo 34 - O padre providencial

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– Não, eu só precisava falar com você urgente. Tem algum compromisso para hoje à noite?

– Não... não que eu saiba. Mas por...

– Quer ir a uma festa? – eu tentei sussurrar bem baixinho, mas os olhos da recepcionista voaram na minha direção. Dei as costas a ela, o máximo que o fio do telefone permitia.

– Festa? Nossa, claro, mas assim no meio da semana? Que coisa mais aleatória! Quem vai dar, onde vai ser?

Eu expliquei em breves palavras o que Pavel tinha me dito.

– Uma heroína da Revolução, então? – ela parecia impressionada. – Adorei. E pelo jeito você quer que eu convide mais gente?

– Bom, não vamos deixar a mulher desapontada, não é?

– Ok, conseguiremos arrastar pelo menos Stas e Ivan – oh, Ivan... – Espere um momento. Quê? – ela perguntou, e a voz saiu abafada, porque estava tapando o tubo do telefone. – Sveta perguntou se ela também pode levar alguém.

– Sveta está aí? Diz que eu mandei um oi. Sim, pode. Claro, juízo, vocês hein?! Olhem lá quem vão convidar – adicionei, repentinamente preocupada com que outros amigos doidos Lucia poderia ter.

– Ela garante que não tem perigo.

– "Não tem perigo"? Ok, vou dar esse voto de confiança para vocês. Nos encontramos lá, então? O endereço é...

E eu repeti o que estava escrito num papelzinho que tirei do bolso. Despedi-me, e ia desligando, quando pensei melhor:

– Lucia, espera! Que tal se a gente se encontrar aí na sua casa um pouco antes? Aí você me ajuda com a maquiagem, cabelo... Eu sou um pouquinho desastrada nessas coisas – sussurrei. – E me entrega meu guarda-chuva – acrescentei, mais alto. Afinal, era preciso manter a farsa.

– Que guarda-chuva? Ah tá – Lucia riu alto. – Pode vir sim. Esteja aqui em casa às sete e meia, para dar tempo certinho. Quer dizer que a noite promete, é? – ela riu mais uma vez, e eu desliguei na cara dela. Balbuciei um agradecimento para a recepcionista e corri para a palestra, abrindo a porta do auditório com cuidado e entrando na ponta dos pés, morta de medo de chamar a atenção.

Eu podia estar no fim do curso, mas atrasos ainda rendiam punição.

Se atrasar para uma festa, por sua vez, mesmo que seja a festa de uma disciplinada bolchevique, não era assim tão importante. Ou pelo menos era o que Lucia tentava me incutir na mente, enquanto saltávamos do bonde e corríamos o resto do caminho para o prédio elegante no centro de Moscou.

Se bem que meia hora mal podia ser considerado atraso para quatro mulheres que tiveram que cachear os cabelos, curvar os cílios, avermelhar as bochechas, contornar os olhos e tudo isso em velocidade máxima, após um dia exaustivo de trabalho. Sim, quatro: Dária, a irmã de Stas, estava indo conosco. E como sempre, havia aquela amiga que sabia fazer os tratamentos de beleza melhor que as outras – Lucia, no nosso caso – e que acabava tendo que arrumar todo mundo, antes de se arrumar. Sorte que ela era rápida. E boa. Só não deixei que chegasse perto das minhas sobrancelhas; tudo tem limites.

Correr de salto não era fácil, e por uma ou duas vezes fiquei feliz que Stas viesse logo atrás para me impedir de despencar escada abaixo. Entre mortos e feridos, chegamos ao patamar do terceiro andar às nove e trinta e três, e Ivan bateu na porta. Eu alisava meu vestido branco de seda, com flores cor de vinho, trazido do Brasil, e tentava verificar discretamente se não estava cheirando a naftalina, quando a porta foi aberta.

A mulher que apareceu no limiar me surpreendeu. Pela descrição de Pasha, eu estava esperando como que uma segunda Bruntieva, provavelmente. Grandalhona, sisuda, coração mole, mas palavras duras. Natalia Petrovna Solinina, porém, era muito diferente. Alta e magra, quem conhecia Ivan Petrovitch adivinhava de cara que aquela era sua irmã. Os mesmos traços calmos, olhos cinzentos, o cabelo negro permeado por fios grisalhos. Mas o dela não era tão ralo, era cortado seguindo a moda, do mesmo jeito que o vestido preto que ela usava, sóbrio, porém jovial. Sim, esse era seu aspecto, de modo geral: sóbrio e jovial. A mulher nos recepcionou com um inclinar de cabeça.

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