Era Jimin.

O irmão mais novo de Yoongi havia passado por algumas horas na casa vazia, olhando para o piano e pensando em tudo o que viveu. Antes do acidente, ele tinha dito coisas horríveis para o irmão. Mas era mentira. Sabia que por muito tempo o pai tentava se reaproximar de Yoongi, o que não era nada fácil. Depois disso, só lembrava de ter fechado os olhos, planejando a própria morte ao decidir se chocar contra o muro, propositalmente.

Desde que acordou do coma, ninguém lhe disse nada sobre o acidente, tudo para evitar qualquer remorso. Talvez temessem que, dentro do garoto, morasse um dragão feroz que não poderia ser acordado.

O capitão do time de basquete tirou sua atenção do celular, ficando ainda mais assustado ao ver Jimin, olhando para ele. Seus olhos ainda ardiam de tanto chorar e, ver o seu irmão depois de tanto tempo, o deixou ainda mais emocionado. A vontade dele era correr até ele, abraçando-o até não poder mais. Porém, evitou fazer qualquer movimento. Esperaria que Jimin desse o primeiro passo, para verificar se era isso que ele faria.

Jimin sentiu seus rosto esquentar. O nó na garganta aumentava e seu coração palpitava. Era seu irmão que estava ali, bem à frente. Desde que recebeu a mensagem dos outros garotos, dizendo que o garoto sorriso estava no hospital, não mediu esforços para ir visitá-lo. No entanto, surpreendeu-se quando viu o irmão no parque. Imaginou que, dadas às circunstâncias, seria o momento mais apropriado para finalmente falar com ele.

Percebendo que Jimin continuaria parado, Yoongi decidiu conceder a primeira palavra do que poderia dar início a um diálogo. Assim o fez, depois de dar alguns passos até o irmão.

— Jimin... — a voz saiu mais fraca do que achava que sairia. Pausou por alguns instantes, meditando no que poderia dizer a ele. — Está curado. Está andando e...

O silêncio mais uma vez apoderou-se do lugar. Yoongi simplesmente fechou seus lábios. Claro que estava feliz por ver Jimin tão bem, mas ainda ouvia a voz dele, pedindo para que saísse do quarto de hospital. Por isso a alegria que sentia, instantaneamente cessou, como a energia que acaba repentinamente.

— Eu me joguei contra o muro, Yoongi. — o capitão arregalou os olhos. Não esperava que Jimin confessasse de uma forma tão direta. — Me senti mal por ter dito aquelas coisas a você, sobre o nosso pai...— Yoongi abriu a boca. Estava prestes a falar o que sempre dizia quando Jimin se referia ao pai dele como "nosso pai" (que era somente pai de Jimin e não dele). Mas não saiu nenhum som de sua garganta. — Sempre o ouvi falando comigo, enquanto estive dormindo. — o garoto de cabelos vermelhos engoliu o choro, pressionando os olhos para que nenhuma lágrima escapasse, o que era inevitável — Eu sempre ouvi a música. Quando acordei, não consegui olhar para você. Fui egoísta o suficiente para, depois de tudo o que falei naquela noite, me dar ao luxo de bater contra um muro em alta velocidade. E mesmo assim, por muito tempo você ainda foi o único que me visitou. Não merecia ter um hyung assim. Eu não merecia nenhum cuidado ou compaixão da sua parte. Nesses dias todos, eu tentei Yoongi, com todas as minhas forças. Tentei acreditar que eu não tinha irmão. Queria que ficasse com raiva de mim, por isso o expulsei quando acordei. Não queria que tivesse compaixão por alguém tão egoísta como eu.

— Por que achou que eu o odiaria, Jimin? — Yoongi, com os olhos cheios d'água, deslizou seus pés para mais perto do irmão, permitindo que os dois quase se tocassem. —Eu nunca iria odiá-lo, Jimin! Nunca! Se quer saber, nunca me importou o que me disse no carro. Não teve nenhuma relevância para mim. O que sempre quis foi que se recuperasse logo, só isso. Sou capaz de qualquer coisa para protegê-lo. Nada seria capaz de fazer eu odiar você, Jimin.

O irmão mais novo, sem controlar suas lágrimas, respirou. Não foi uma respiração comum, daquela que se faz para se manter vivo. Ele respirou como quem dá o primeiro sopro de vida; como quem acaba de renascer; como alguém que, depois de passar por um turbilhão de tempestades, finalmente consegue um alívio. Aquele era um alívio de Jimin.

Quem sabe ele havia sido tolo o suficiente por achar que, ignorando Yoongi, seria a melhor forma de o deixar sem nenhum peso nas costas. Jimin estava errado. Ele havia agido errado e sabia disso. Seu erro, inclusive, começou quando decidiu virar a esquina e ir direto ao muro , em alta velocidade. O garoto achava que deveria ter morrido, ali mesmo. Mas não foi ele quem morreu...

— Hyung... Eu posso te abraçar?

Yoongi, em um aceno prolongado com a cabeça, concordou, abrindo seus braços e permitindo que o irmão se encaixasse junto ao corpo dele, apertando-o tão forte que era capaz de sentir o coração de ambos baterem. Talvez fosse mera coincidência, mas o coração dos dois bateu em sincronia.

— Me perdoe, Hyung. — afundado nos ombros do irmão, Jimin disse, deixando sua fala ser abafada pelo abraço de Yoongi.

— Não preciso te perdoar por nada, Jimin. Não há o que perdoar. Eu estou aqui, como seu irmão mais velho. — os olhos de Yoongi se direcionaram ao hospital — Vou protegê-los. — disse no plural. Não era só à Jimin que ele se referia. — Jimin, ouça bem. — o garoto se afastou do abraço, apoiando as mãos sobre os ombros do irmão mais novo.— Quando for o visitar, diga que estamos bem. Diga também que... Que eu o amo.

— Por que está me dizendo isso? Podemos ir juntos.

— Eu preciso ir.

— Para aonde você vai, Yoongi?

— Só diga isso ao patinador. Por favor, Jimin. — Yoongi tirou as mãos dos ombros de Jimin. — Vai dar tudo certo. Eu prometo. Confie em mim.

Jimin sibilou um "tudo bem", vendo o irmão, após dar mais uma olhada no visor do celular, distanciar-se dele. Não sabia para aonde Yoongi estaria indo, nem o que pretendia fazer.

Mas confiaria nele.

Coração de Gelo  Where stories live. Discover now