Coração de Gelo

Dez

- C-ca...capitão....- Taehyung balbuciou baixo.

Os pés de Tae pareciam não estar tão firmes no chão e sentia que cairia naquele asfalto a qualquer momento. Mas não era por causa dos machucados em seu joelho ou cotovelo, e sim por ver aquele garoto estendido na rua.

Começou a ouvir palavras aleatórias ao seu redor. As pessoas murmuravam entre si e falavam no celular, provavelmente chamando pela ambulância. Enquanto isso, Yoongi continuava imóvel no asfalto.

O motorista que o atropelou saiu do carro desesperado, pedindo desculpas e recebendo palavras de reprovação por parte dos pedestres. Algumas pessoas começaram a perguntar se Taehyung estava bem, mas não conseguia responder, era como se tivesse esquecido como se falava. Tudo o que sentia era algo preso em sua garganta, como um grande nó que impedia de pronunciar qualquer coisa.

Novamente sentiu uma dor no coração e, sem aguentar, caiu no asfalto. Com a visão turva, viu Yoongi a sua frente, mexendo vagarosamente a mão. Era um alívio, isso significava que ele estava vivo. Após isso, suas pálpebras ficaram pesadas e tudo ficou escuro.

XXX

Taehyung acordou ouvindo um grupo de pessoas balbuciarem quase num susurro. Assim que abriu os olhos, após se acostumar com a iluminação do quarto, reconheceu seu pai, mãe e alguém que poderia ser um médico, já que estava de jaleco branco.

- Filho! - sua mãe se aproximou da cama, segurando em sua mão - Que bom que acordou.

- Quanto tempo eu dormi?

- Um dia... Lhe demos remédios para dor. - o médico disse.

- Se sente bem? - seu pai ficou ao lado de sua mãe, também olhando preocupado para Taehyung.

- Acho que sim... Só a minha cabeça... Dói um pouco...

- Isso é normal. - o médico explicou -Você desmaiou no asfalto e acabou batendo a cabeça, mas nada grave. - ele fitou seus pais por alguns segundos - Já sabem com o que ele deve cuidar.

- Sim, doutor, é claro. - o pai de Taehyung concordou.

- Embora tenha um novo coração, é perigoso passar por estresses - o médico olhou para Tae. - Teve muita sorte. Se não fosse o rapaz...

- Yoongi.- interrompeu, sentando-se na cama, já esquecendo da dor - Como ele está? Ele está bem?

- Conhece o garoto?

- Sim, mãe. Ele estuda comigo. - se dirigiu novamente ao médico - Como ele está doutor? Está bem?

- Não se preocupe. - o médico o tranquilizou - Ele passou por uma cirurgia pois teve umas costelas quebradas mas, agora está bem...

- Ele vai sobreviver, não é?

- É claro que vai. - o doutor riu.

- Você precisa descansar. - seu pai apoiou as mãos em seus ombros, indicando para que voltasse a se deitar. - O garoto está bem, não se preocupe. Devo muito à ele por ter salvo meu filho predileto.

- Oras, pai! Sou seu único filho.

- Único e predileto. Agora descanse temos que... Ver a conta do hospital...

- Me desculpe pai...

- Não se desculpe, querido. - Sua mãe deu um beijo em sua testa - Está sã e salvo e isso dinheiro nenhum no mundo pode pagar. Descanse, sim? Pelo que o médico nos disse, logo terá alta.

Tae sorriu de leve para seus pais, observando os dois saírem do quarto de hospital junto com o médico.

A verdade é que não se sentia muito bem por mais aquela despesa médica. Gastos com medicamentos e hospitais era o que Tae mais tinha. A dívida da cirurgia do coração ainda não estava quitada e, por essa razão, seu pai tinha dois empregos e era quase raro poder vê-lo em casa. Eles não queriam preocupá-ló, mas Tae sabia que haviam parcelas em atraso, e isso significava juros extremamente altos. O pior é que nem trabalhando pôde ajudar, na verdade, só atrapalhou com todos os problemas depressivos e suicidas que teve. Mais um motivo para se sentir mal.