Olhos que tiram o chão

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Ouvia vozes, mas não sabia de onde vinham. Segurou a respiração, ele estava vindo. Sabia que viria, mas por que causava o caos antes de sua chegada? Estava silencioso e como ela tinha previsto, ele apareceu. Seu rosto não enxergava claramente. Seus olhos eram tudo que conseguia ver em meio a tanta neblina. Azuis. A cor que ela mais gostava.

Tentou se aproximar, mas ele se distanciou. Seu capuz não permitia ver mais do que ele queria mostrar. Era bonito. Ela estava bonita também. Vestia um longo vestido branco transparente. Se ela se olhasse em um espelho poderia jurar que estava sem nenhuma roupa, mas ele não desviava seu olhar. Ele era tão penetrante e possuía uma coisa que não havia notado em ninguém, desejo.

Seus olhos eram verdadeiras chamas azuis em busca de algo para acalentar. Ela queria fugir, seu olhar era assustador. Era como uma fera em busca de aprisionar e reprimir sua caça. Ela era dele. Sem nenhuma dúvida, precisava ser.

Estavam à dois metros de distância em um lugar que parecia ser a porta de entrada para o precipício. Como aqueles de novelas. Porém, a noite, e mais assustador. Tentou então algo que nunca havia tentado antes, se aproximar.

Deu um lento passo e ele continuou parado. A respiração dela era a única coisa que podia ser escutada, seu coração batia descompassado, o suor pingava de sua testa como se ela tivesse corrido uma maratona, mas ele não se mexeu. Seguiu em frente sem demonstrar o que sentia, medo. Continuou andando e quando estava próxima de tentar ver o rosto que possuía aquelas enormes órbitas azuis...

— Acorda! — Kiara, sua irmã, a chamava. Olhou para sua mesinha de cabeceira e enxergou no relógio a hora exata que deveria estar na faculdade.

— Por que não me acordou mais cedo?

— Eu te chamei quatro vezes Sophie e você nem se mexeu. Tive que vir aqui ver se você ainda respirava ou era caso de internação. — desde que a mãe de Sophie morrera quando ainda tinha oito anos, Kiara cuidava dela.

— Eu estou super atrasada e você não está ajudando com suas piadinhas à essa hora. — Sophie levantou da cama calçando a primeira coisa que viu pela frente.

Não era uma menina como as outras, era a única baixa da sua turma, medindo cerca de um metro e cinquenta e três de altura. Era também a única menina mais nova que já cursava a universidade, com 17 anos. Se orgulhava disso.

— Tudo bem. Vou te esperar no carro. Arrumei um lanche rápido pra você. Não sei porquê, mas a minha intuição estava dizendo que você iria se atrasar hoje. — soltou uma risada.

Kiara era o exemplo que qualquer um gostaria de ter como irmã. Era eficiente, companheira e sabia exatamente qual espaço ocupar na vida da irmã. Não era uma segunda mãe e nem queria ser. Gostava da abertura que tinha com Sophie e apesar das brigas cotidianas, sabia que poderia contar com ela quando precisasse.

— Você é demais. Não vou demorar. Te amo! — gritou ao ver a irmã saindo do quarto.

Sophie não era o tipo de menina que ligava para beleza ou algo do tipo. Era simples e gostava da sua simplicidade. Possuía enormes cabelos encaracolados que iam até sua cintura em um tom de castanho claro. Seus olhos eram negros como a noite e se orgulhava deles. Era a única lembrança que possuía do pai que havia falecido dois anos antes de sua mãe. Seu corpo não tinha nada de diferenciado. Não havia curvas como sua irmã de 23 anos.

Se espelhava em Kiara pra ser uma pessoa melhor a cada dia. Sua irmã era alta, devia medir cerca de um metro e setenta de altura. Seus cabelos eram cacheados, na altura dos ombros e pareciam de ouro por ser tão loiro e brilhante. Seus olhos eram verdes, herdados de sua mãe, seu corpo era invejado desde as adolescentes até as mulheres mais maduras. Perto de Kiara, Sophie era confundida como sua filha, e não se importava. A irmã cuidava dela desde pequena e logo cedo passou a ser vista pelos outros como filha, e não irmã de Kiara.

Tentação AngelicalWhere stories live. Discover now