XIII : REVELAÇÃO

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– Ouça cá, Sr. Mariz! exclamou D. Lauriana; ouça as estripulias do capeta!

– No mesmo instante, continuou Isabel, ouvimos dois tiros de pistola, que ainda mais nos assustaram, porque decerto foram apontados também para nosso lado.

– Senhor Deus! É pior do que uma judiaria! Mas quem deu pistolas a esse bugio?

– Fui eu, minha mãe, respondeu timidamente Cecília.

– Melhor seria que rezasses as tuas contas. Era bem-feito que com elas mesmo... Senhor Deus! perdoai-me!

D. Antônio tinha ouvido as palavras de Isabel, apesar de conservar-se a alguma distancia; o rosto do fidalgo tomara uma expressão grave.

Fez um ligeiro aceno a Cecília, e afastou-se com ela em ar de quem passeava pela esplanada:

– O que diz tua prima é verdade?

– É, meu pai; mas estou certa que Peri não o fez por maldade.

– Contudo, replicou o fidalgo, isto pode renovar-se; por outro lado tua mãe está atemorizada; assim, o melhor é afastá-lo.

– Ele vai sentir muito!

– E eu e tu também, porque o estimamos; mas não seremos ingratos; eu pagarei a tua e a minha divida de gratidão; deixa isto ao meu cuidado.

– Sim, meu pai! exclamou a menina com um olhar úmido de reconhecimento e de admiração: Sim! Vós que sabeis compreender tudo que é nobre!

– Como tu, minha Cecília! respondeu o fidalgo acariciando-a.

– Oh! eu aprendi no vosso coração, e nas vossas menores ações.

D. Antônio abraçou-a.

– Ah! tenho uma coisa a pedir-vos!

– Dize: há muito que não me pedes nada, e eu já tenho queixa disso.

– Mandareis conservar este animal. Sim?

– Desde que o desejas...

– Será uma lembrança que teremos de Peri.

– Para ti, que para mim a melhor lembrança és tu. Se não fosse ele, podia eu agora apertar-te nos meus braços?

– Sabeis que tenho vontade de chorar só de pensar que ele se vai?

– É natural, minha filha, as lágrimas são um bálsamo que Deus deu à fraqueza da mulher, e que negou à força do homem.

O fidalgo separou-se de sua filha, e chegou-se à porta onde se achavam ainda sua mulher, Isabel e Aires Gomes.

– Que decidistes, Sr. D. Antônio? perguntou a dama.

– Decidi fazer-vos a vontade, para sossego vosso e descanso meu. Hoje mesmo ou amanhã Peri deixará esta casa; mas enquanto ele aqui estiver, eu não quero, disse carregando ligeiramente sobre aquele monossílabo, que se lhe diga uma palavra sequer de desagrado. Peri sai desta casa porque lho peço, e não porque isto seja-lhe ordenado por alguém. Entendeis, minha mulher?

D. Lauriana, que compreendia o que havia de energia e resolução naquela imperceptível entonação dada pelo fidalgo a uma simples frase, inclinou a cabeça.

– Incumbo-me de falar eu mesmo a Peri! Dir-lhe-ás de minha parte, Aires Gomes, que venha ter comigo.

O escudeiro inclinou-se; o fidalgo que se ia retirando, voltou-se:

– Ah! esquecia-me. Mandarás encher este lindo animal que desejo conservar; será uma curiosidade para o meu gabinete de armas.

D. Lauriana fez à sorrelfa uma careta de nojo.

O Guarani (1857)Kde žijí příběhy. Začni objevovat