Capítulo 16

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Lis desceu as escadas do prédio prometendo a si mesma que estava fazendo o certo. Ela não merecia sofrer mais. E era isso que ele fazia, trazia o sofrimento dela de volta.

Ela viu o jovem passando pela porta do prédio e indo embora, logo Lis voltou para o seu apartamento. Ela organizou tudo que tinha — que não era muito — em caixas de papelão. Era isso que ela fazia quando estava triste, magoada ou irritada, arrumava tudo ao seu redor — além de chorar. Depois de fechar todas as caixas com adesivos, achou algo perdido no chão, perto de onde Felipe estivera. Era uma foto sua, ela estava sorridente, com o sol refletindo em si e as árvores atrás.
Ela tirara essa foto dois anos atrás, quando estava em um passeio no jardim botânico com sua mãe e a sua vó. Lembra que tinha ganhado uma máquina fotográfica, e estava tão feliz que tirava foto de tudo, até sua mãe tirar uma foto da jovem distraída.
Lis lembrou-se de quanto tempo fazia que ela não sorria, talvez desde a morte da sua mãe. Abriu algumas caixas com certo desespero, e logo achou o máquina velha e empoeirada. Conseguiu — por um milagre — ligar a mesma, logo passou as fotos, uma a uma.
Havia várias fotos do parque, das pessoas distraídas, de crianças, de famílias fazendo piqueniques ou  alimentando os patos. Havia algumas fotos da sua vó com o seu chapéu branco translúcido e o abanador também branco. Ela virava o rosto em uma careta irritada.

E havia fotos da mãe da Lis. A jovem não lembrava mais de como era a aparência de sua mãe sorrindo, ou dela saudável. Estava com um sorriso no rosto, os cabelos curtos devido a última quimioterapia, e estava com as bochechas rosadas por causa do sol.

Lis se permitiu chorar, como uma criança. Não tinha como explicar a dor que sentia. Uma mãe e uma irmã, de uma só vez.
Logo alguém entrou no apartamento, e consolou-a.

— Ah, Lis, eu sinto muito. — lamenta Max enquanto a abraça.

— E-eu não s-sei como vou seguir em frente sem ela... — comenta Lis com pesar.

— Uma hora a dor passa, e você só irá lembrar dos momentos bons com ela. — diz Max enquanto eles encaram a foto da mãe da Lis. — Ela era tão linda, assim como você, o único defeito da sua família é não sorrir. — ele caçoa e os dois riem.

Max pega algo na porta do apartamento, era uma caixa de sapatos, e a entrega para Lis.

— São os pertences da Milena, eu consegui pegar com o pessoal da clínica. — ele diz.

Lis abre a caixa e encontra um colar, uma foto, o diário da sua irmã e uma boneca de pano.

— O diário eu peguei na casa da sua avó — ele responde antes dela perguntar.

Lis olha o colar de ouro que tinha a metade de um coração, e nele estava escrito "ve". Lis lembrou-se que ganhou um igual a esse quando era criança, e o pegou em uma caixa com as suas poucas bijuterias.
Era de ouro e continha a outra metade do coração, no qual estava escrito "lo". Lis os juntou e formou a palavra "love".

Ela nem sabia, mas já tinha uma ligação com a irmã.

Pegou a foto que estava dentro da caixa, e era a Lis, recém-nascida. Estava usando uma manta lilás, só que a borda direita da foto estava rasgada. Lis procurou na caixa, e encontrou a metade. Era a Milena, igual a Lis, com uma manta rosa.
A única foto delas juntas, e a única foto da Milena.

Lis as guardou de volta na caixa e a colocou no chão.

— Muito obrigada, Max — agradeceu abraçando o amigo.

Eles desceram levando as caixas consigo, até o apartamento ficar vazio.

— O que vai fazer com o dinheiro da venda do apartamento? — perguntou Max.

Depois da Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora