Capítulo 1

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Lis sente as gotas de chuva molhando toda a sua roupa e o seu cabelo. O dia não poderia ser pior.
Além de ir para casa andando dez quarteirões, a jovem ainda está no meio da chuva, e também esqueceu de relatar que um carro em alta velocidade passou na calçada e jogou muita água suja nela.

Não tem problema.

Eu amo a natureza.

Assim como amo estar suja.

Ao invés de ir para o seu quentinho apartamento, ela foi obrigada a ir direto para o trabalho, ao receber uma ligação do seu chefe dizendo que a mesma deveria cobrir o expediente de uma das meninas que foi ao hospital pois estava em trabalho de parto.
Lis trabalho em uma sorveteria/lanchonete. Quase sempre é ela quem faz os lanches, porém hoje ficará como garçonete pois a menina de licença trabalha nesse setor.

— Está atrasada — comenta o seu chefe.

Ele era um homem totalmente amargo e que não gostava nem um pouco que o contrariasse​. Lis confirma com um balançar de cabeça — não querendo se estressar — e entra para tomar um banho, trocar a roupa e colocar o avental.

— Mesa quatro, cinco e seis — diz o cozinheiro entregando as bandejas a ela.

Como era bom para a jovem, estar limpa, e mais ainda, trabalhar em um lugar como o Gelatto.

Sabe, ela nunca pensou muito em ir ao exterior, contudo depois que o conheceu, pensou melhor nessa possibilidade. Lis sempre amou o seu país, o Brasil cheio de florestas, animais. Porém ela está fazendo uma caixinha para visitar um dos lugares que ela mais quer ir desde que era pequena: Londres.

— Pare de sonhar, sonhadora, vá entregar os pedidos — briga o cozinheiro.

Ela entrega os pedidos calmamente — com relutância — e surpreende-se ao reconhecer algumas pessoas do seu Campus — que era dividido entre humanas e exatas.

— Lis, oi! — saúda uma das garotas.

Lis lembrava dela, Geovana, faziam faculdade juntas. Cabelos cor de mel assim como o seu, olhos escuros e pele morena.
Ela era simpática, contudo muito, muito egocêntrica.

Um fato que pode comprovar isso é que quase ninguém chama a Lis, de Lis, só as pessoas mais próximas.

E ela não faz parte dessas pessoas.

Ela fingi que não ouviu, pois sabia que se falasse com a Geovanna não daria certo. Até porque ela estava cercada do seu grupo social que não gostava de pessoas como a Lis.

— Eu falei com você — comenta a jovem mimada irritada.

— E eu ignorei você — responde voltando para trás do balcão.

— É desse jeito que você pretende conhecer o seu príncipe da faculdade de mecânica? — indaga e a Lis já sabe exatamente de quem ela está falando.

O garoto que eu observo a meses.

E que acidentalmente encontrei hoje no parque.

— Eu não pretendo nada, Geovana. Agora me deixe trabalhar — responde cansada.

Geovanna pega a sua carteira e coloca duas notas de dinheiro em cima do balcão. Ela tinha deixado cinquenta reais de troco.

— Adeus, sonhadora — se despede repetindo o  apelido da Lis.

Ela nunca entendeu esse apelido, sempre foi uma pessoa com o pé no chão, realista. Talvez as pessoas sejam irônicas quando a chamam de sonhadora.

Talvez eu seja, lá no fundo.

Depois da Meia-NoiteOù les histoires vivent. Découvrez maintenant