Quatro

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Noah Aguiar aguardava ansiosamente que a recepcionista chamasse. Ele estava sentado num dos bancos de espera, ao lado da sua avó. Era demorado demais.

— Pouco atendimento e muita demora.

Ele suspirou preocupado com a avó. Carlota Aguiar olhou para o neto e sorriu tranquila.

— Tudo bem. Eu não me importo muito.

A senhora de pouco mais de 65 anos — como ela costumava dizer, a idade é mais um rótulo qualquer,— fazia suas consultas sempre, ela sofria com a diabetes. E o neto sempre que podia, fazia questão de acompanha-la.

Noah era muito apegado a avó desde pequeno. Ela o havia o criado com muito amor. Sua mãe, Mayara Aguiar nem sempre pode estar presente. Diversas vezes ela precisou trabalhar e não pôde passar muito tempo com o filho. O pai ele não chegou a conhecer. Faleceu em um incêndio, Miguel era bombeiro, morreu fazendo o que mais amava. Apesar de ser uma criança quando tudo isso ocorreu, Noah sentia muita falta de seu pai.

— Senhora Carlota Aguiar Assunção.

Finalmente a chamaram. E Noah se acalmou. Ele queria entrar na sala para acompanhar a consulta da avó, mas Carlota era teimosa e insistiu mandando-o ficar sentado.

Logo ele ficou no banco entediado. O jovem de cabelo castanho escuro, barba por fazer um rostinho único e uma grande boca. Sim, Noah tinha lábios grandes, e ele achava esse detalhe... estranho. Tantas coisas passavam em sua mente naquele momento, que ele mal percebia o que estava acontecendo a sua volta.

 Entre diversos problemas, Noah se lembrou do aluguel que devia pagar. Seria difícil pagar as contas naquele mês, afinal havia comandado pouquíssimos shows nos últimos dias.
E era difícil encontrar um emprego.

 Decidiu que deveria respirar ar livre, antes que enlouquecesse.

— Ei! — Ele acenou para a recepcionista que parecia focada em algo no computador. — Se a Senhora Carlota sair do consultório, mande ela esperar aqui que eu já volto.

A garota assentiu, mas pela sua cara, Noah deduziu que ela não fosse dizer nada.

Ele caminhou para fora do hospital e foi até uma lanchonete que ficava do outro lado da rua. Estava calor na cidade, logo pela manhã, então ele acabou entrando na lanchonete para comprar algo que o refrescasse.

— O que vai querer hoje Noah? — Perguntou Daiana. A garçonete do local.

— Uma agua bem gelada.

Ele se sentou em um banco próximo ao balcão e ficou lá esperando. Há meses procurava um emprego, mas as coisas não eram tão fáceis.

— Aqui a sua agua.

A jovem lhe entregou uma garrafa e logo depois limpou o balcão.

— Como estão as coisas? Sua avó está bem?

Perguntou a jovem loura de olhos castanhos.

— Não tão boas. Estou com muitas dívidas. E felizmente, dona Carlota está bem.

Daiana coçou o cabelo e tentou se lembrar de algo que ia dizer ao rapaz, mas sua memória não era muito boa.

— Por enquanto estou procurando um emprego apenas.

 Noah virou a garrafa de água num gole e quase se engasgou com o berro da garota.

— Eu me lembrei!

Noah tossiu um pouco.

— Se lembrou de que diabos?

A menina franziu o cenho.

— Que diabo o que. Estou falando da baladinha que estão organizando.

Foi a vez do garoto franzir o cenho.

— Calma, respira. Explique isso direito.

Daiana entrou na cozinha e depois de alguns segundos saiu, com um panfleto na mão e entregou para Noah.

O jovem analisou o papel. E o seu instinto musical estranhou o fato de não mencionar nenhum “Dj”.

Só se dizia que teriam uma festa em uma boate. Pelo menos havia o número de telefone para contato.

— Aí, conversa com eles. Tenta a sorte rapaz.

Dito isso, ela deu as costas. O garoto saiu dos pensamentos, e acabou lembrando de sua avó. Ele pagou sua agua e levou o panfleto consigo. E torceu para que finalmente tivesse um pouco de sorte e conseguisse ao menos um pouco de dinheiro. E tudo daria certo.

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Eduardo observou sua melhor amiga no portão de sua casa. Ela estava mais séria e agitada do que o normal, e isso o preocupou.

— O que aconteceu? — Ele indagou. — Entre. Vamos conversar.

Valentine apressou seus passos até a porta de madeira onde o menino esperava. Ambos entraram na sala bem decorada. Apesar de não ser tão ampla.

— Eu vou viajar por dois meses.

A garota disse quase sem fôlego.

— Como? - Edu perguntou surpreso.

Não era sempre que ficava longe da amiga.

— Sairei em turnê com os meninos da banda. Mas... vai passar rápido. Eu prometo.

Como se ela pudesse controlar o tempo e a saudade, Edu pensou.

— E por que está me dizendo isso?

Ele disse ríspido. Na verdade mesmo, ele não queria que ela se afastasse, há pouco já haviam brigado. Bastava de problemas.

— Que grosseria Edu! Eu só vim para te dar a notícia para que não soubesse por outra pessoa. Mas pelo jeito continuamos brigados.

Ela se levantou furiosa, prestes a sair daquela casa. Por que ele havia sido tão mal-educado com ela?

— Tine! Espere! —Eduardo passou as mãos pelos cabelos, percebeu a merda que havia feito. —Eu me expressei mal! Me perdoe. Eu só não estava muito preparado para isso.

Eduardo passou as mãos pelo cabelo, ele repetia muito esse gesto pelo nervosismo. Valentine o observou, não queria ir embora brigada com o amigo. Ponderou se devia ir para casa, mas acabou ficando parada na porta.
   
— Ouça. Você sabe que cantar sempre foi meu sonho, aliás sempre esteve me apoiando. Eu volto logo, dois meses passam logo.

Edu se aproximou da menina com as mãos nos bolsos e uma expressão. Logo acariciou a bochecha de Valentine.

— Tem razão. Eu só fico preocupado. Nunca nos separamos assim, por tanto tempo.

Valentine sorriu para confortá-lo.

— Não fique triste. Vai dar tudo certo. Eu sei.

O positivismo da garota era bem grande. Para ela tudo iria sair perfeitamente como ela planejava. O que ela não contava, é que o destino está sempre nos pregando peças e trilhando outros caminhos.

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Cherries que alegria. Att nova. Deixem comentários. Estou tentando atualizar toda semana. E eu fiz uma pequena modificação no capítulo anterior, nada grave. Beijos até mais.

A Batida Perfeita (#Watts2019)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن