EPÍLOGO

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          A luz fraca do sol entrou pela janela e refletiu diretamente nos meus olhos, aquilo me incomodou um pouco, mas eu não os abri, o cheiro de remédio misturado com álcool hospitalar enchia todo o lugar e, ao fundo, eu conseguia ouvir o som fraco do que parecia ser um medidor de batimentos cardíacos.

          Do meu lado, eu pude sentir alguém segurar minha mão, eram mãos macias e suaves que me tocavam, elas estavam um pouco frias, mas eram estranhamente reconfortantes.

          — Li...? — Por alguma razão, foi esse o nome que me veio à cabeça. Minha voz falhou e um gosto metálico surgiu na minha boca.

          — Errou — respondeu a voz, parecendo um pouco feliz. — Ela acabou de sair.

          Eu abri apenas o olho direito para que pudesse ver a pessoa que estava ao meu lado, o sorriso que ela tinha no rosto me fez relaxar.

          — Você está bem?

          — Eu não morri? — respondi com outra pergunta.

          Ela sorriu e então disse:

          — A menos que eu tenha começado a ver fantasmas, acho que você está vivo, não é? — Ela deu uma pequena pausa e então começou a explicar. — Liss conseguiu chegar a tempo de se transformar, ela não tinha muita certeza se iria funcionar, mas a recuperação combinada de vocês dois foi o suficiente para parar a hemorragia. Se não fosse por isso, com toda certeza você teria morrido.

          — Entendo... — Não consegui conter um pequeno sorriso.

          — O que foi? — perguntou ela, talvez por ter notado.

          — Nada, só acabei de perceber como essa "coincidência" foi conveniente para mim. — Ela não deu nenhuma resposta, então eu fiz uma pergunta para que a conversa não acabasse. — O Hideo... Como ele está?

          Ela hesitou por um momento e então respondeu:

          — Ele... Ele morreu... O enterro foi ontem...

          Foi então que eu percebi que a Harumi estava vestida toda de preto e os sorrisos que ela dava eram apenas para disfarçar a tristeza.

          — Sinto muito...

          — Não foi sua culpa... — disse ela. — O importante é que você vai ficar bem.

          — Se eu tivesse percebido mais cedo... Talvez pudesse ter impedido.

          — Você pelo menos percebeu... Eu estava morando com ele e nem notei...

          — Não é sua culpa, não era tão simples assim. Talvez, ele realmente tenha preparado tudo para que eu o revelasse.

          — Falando nisso... Como você descobriu?

          — Começou com o anel que encontrei no beco depois da morte da Akari.

          — Aquele que era para tentar me incriminar? — perguntou ela.

          — Sim, me desculpa, mas eu achei que você poderia ter matado ela. Vocês tinham discutido, sem contar que você gostava do Hideo, então eu não consegui evitar. — Ela apenas abaixou a cabeça sem dizer nada. — Foi por isso que fui até a casa dele, eu queria te perguntar algumas coisas, mas quando cheguei lá, você não estava.

          — Foi quando você viu os anéis iguais, não é?

          — Sim, eu vi que ele tinha dois anéis iguais, mas para alguém como ele, que era sistemático com suas coleções, não fazia sentido. Foi então que eu decidi confirmar se era parecido com o que eu encontrei. Você se lembra de como os ideogramas eram, certo? Não seria estranho uma pessoa que não conhecesse muito de japonês confundir os dois...

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