Capítulo 5

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Depois de Perrie dar um jeito ao meu cabelo, que estava despenteado devido ao capacete, e de me dizer imensas vezes que eu estava super gira, saímos da casa de banho. Estava um pouco diferente de há umas horas atrás, o que não significava que era mau. Não era, de todo. Tinha de admitir que a maquilhagem me ficava bastante bem. Dava-me um ar diferente, mais bonito, mais vivo. Por um lado, saíra da casa de banho com receio, pois se os outros reparassem, teria de ouvir comentários e até piropos. Por outro lado, algo dentro de mim implorava que algum deles notasse e me sorrisse ou elogiasse.

Rapidamente encontramos os cinco rapazes sentados numa mesa já com montes de comida à frente.

"Finalmente! Já pensava que se tinham perdido. Ou que a Vee te tinha afogado, Perrie", disse Zayn, um pouco rabugento, puxando Perrie para o seu colo.

"Mais um bocado e o Zayn tinha entrado pelas casas de banho a dentro." Louis estava com a boca cheia de comida, o que deu uma visão bem divertida para toda a gente começar a rir.

"Nada disso, apenas estava com saudades de beijar a minha namorada!"

Zayn era muito querido para Perrie... Teria eu, um dia, alguém que gostasse de mim assim? Que se preocupasse comigo como ele se preocupa com ela? Já que nunca teria os meus pais, poderia eu esperar por alguém se importasse até ao fim?

"Amor, tenho estado agarradinha a ti desde que viemos. Só vi as tuas costas a viagem toda ", queixou-se Perrie. Como eu a compreendia. Também eu tinha ido agarrada a Liam, apenas olhando para as suas costas. Não me queixava, mas ao fim de umas horas cansava.

"Realmente, lá atrás a viagem não deve ser assim tão gira. Tenho pena da Perrie e da Vee", comentou Harry, enquanto trocava gestos fofos com Louis.

"Vee! Agora podias vir comigo, se quisesses. Aposto que as minhas costas são mais confortáveis que as do Liam, apesar de eu saber acelerar. Já o Liam parece uma menina a andar de triciclo", disse Niall, olhando para mim com um sorriso que me intimidava.

"A Vee vai comigo. Ela gostou a viagem, não é verdade?"

Pela segunda vez desde que tinha conhecido Liam, este não me deixara falar, respondendo por mim. Quando dizia o meu nome eu estremecia. Reparei que ele esperava uma resposta minha. Não tive coragem de o contradizer, por isso, apenas acenei que sim e tentei sorrir para não parecer antipática.

Depois de todos comermos as sandes com carne que, a mim, me parecia crua e pão de há uma semana, e as batatas fritas de pacote, voltamos lá para fora, onde encontramos as motas já atestadas. Cada um retomou o seu lugar. Não comia havia imenso tempo e aquela comida, apesar de me ter tirado um pouco da fome que tinha, não me satisfazia. Mesmo assim, não ia gastar a comida que tinha levado. Não naquele momento.

Liam ajudou-me novamente a por o capacete. Por momentos, esperei que ele reparasse na maquilhagem, ou fizesse algum comentário. Mas enganei-me. Apenas sorriu novamente, como tinha feito da primeira vez. Sentei-me atrás dele, agarrada às suas costas, e preparei-me psicologicamente para mais umas horas naquela mota.

"Agora vamos mostrar ao Niall quem é que sabe andar de mota", sussurrou Liam.

Ao ouvir isto, fiquei com um certo medo. Nunca tinha andado de mota e não queria ter nenhum acidente por excesso de velocidade da primeira/segunda vez. Sem dar conta, apertei mais a barriga dele. Ele reparou e passou a mão dele por cima da minha, sussurrando um "confia em mim". Foi o que fiz.

...

Devia ter já passado cerca de uma hora e meia. Já ninguém falava com ninguém, apenas conduziam. Quando algumas famílias passavam, nos seus carros topo de gama, conseguia ver alguns adultos ou, às vezes, até crianças, lançando-nos olhares reprovadores.

Tentava ignorá-los mas, a verdade, é que aquilo me fazia pensar. Primeiro, lembrava-me a família educada e feliz que eu nunca tivera. Nunca poderia lançar olhares assim nem julgar ninguém, com os pais que tinha. Depois, lembrava-me de que, se calhar, aquelas pessoas até tinham algumas razões para o fazerem. Afinal, não passávamos de uma espécie de gang que viajava com destino indefinido, em que eu era uma novata. Não conhecia ninguém decentemente. Estava apenas a deixar-me levar, a fazer o que nunca pudera fazer. Sabia que não era totalmente correto, o que estava a fazer. Fugir. Roubar o meu pai. Não me importar. A minha mãe também fugira dos problemas e era por isso que eu também a odiava. Mas eu permanecera. Tentara ajudar o meu pai, tentara viver e preocupar-me. Estou agora apenas a pagar-lhe na mesma moeda. Porque a minha mãe fugira do seu papel de mãe e mulher. Eu já não estava no meu papel de filha havia bastante tempo, visto que o meu pai me fazia não poder agir como uma.

Toda a minha vida tinha tido o género de preocupações que, sem situações normais, pertenciam aos pais e não aos filhos. O meu pai nunca fizera decentemente o seu papel. A minha mãe nem sequer estava lá para mim. Preferiu desistir do meu pai, de mim e de tudo. Era uma cobarde. Pensando bem, não sabia o que era pior. Fugir de mim, não estando presente na minha vida, como a minha mãe, ou não estar presente na minha vida por preferir a companhia da bebida e da droga. Na realidade, era tudo o mesmo. A verdade, é que eu sempre estivera sozinha.

Naquele momento, fazia o que me apetecia, pensava o que me apetecia. Naquele momento, não tinha de pensar por ninguém se não por mim. Não tinha de me preocupar tanto, como sempre o havia feito. Ou, pelo menos, era o que dizia a mim mesma para convencer de que o que estava a fazer era seguro e uma boa ideia.

E era isso que me fazia continuar. Saber que, apesar de poder magoar o meu pai minimamente, se tivesse a sorte de ele estar sóbrio quando percebesse que eu não ia voltar, nunca o poderia magoar tanto como ele me fizera e ainda fazia. Apesar de poder estar a ser um pouco injusta com a vida, nunca poderia recear que me julgassem, pois nunca ninguém me tinha ensinado o que era justiça. Eu tinha aprendido tudo sozinha.

Eu não precisava do que tinha. Tudo o que realmente precisava era força de vontade, esperança e de mim mesma. Era altura de parar de pensar em responsabilidades, injustiças, nos outros. Precisava de começar a pensar em mim, no que queria e no que necessitava. E quanto menos pensasse, em geral, melhor.

...

" Vee? Estás bem aí atrás?", ouvi, de repente, Liam dizer.

"Estou bem", respondi. "Ainda vai demorar até pararmos?"

"Perto de uma hora. Já estamos a andar há cerca de três horas. As motas não aguentam muito mais", respondeu.

"Tenho fome", deixei eu escapar, entredentes. Era mesmo verdade, não sabia se aguentava mais uma hora. Lembrei-me então da minha mochila. Pedi a Liam para abrandar a velocidade durante uns segundos, para que pudesse abrir cuidadosamente a mochila para tirar o pacote de bolachas. Agarrei-o bem e fechei a mochila.

"São de quê?"

"Chocolate, claro", respondi-lhe. "Queres?"

Liam assentiu, sorrindo. Abri o pacto calmamente, visto que já não estava a agarrar Liam. Passei-lhe uma bolacha e meti outra na boca, saboreando-a.

"Vee?", chamou Liam.

"Não tens de agradecer", aprecei-me a dizer.


"Ficas bonita assim, maquilhada."

By: Littleheartss e little_smn

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