C14

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- Kayla, abre a porta - a voz de Mary ecoa por trás

Depois de uma noite de sono bem pesada, adormecendo após ter sessões longas de choro, acordo com a cabeça latejando de dor, só de pensar dói mais, ter que ver a psicóloga, ouvir minhas irmãs, ouvir os gêmeos, lembrar do meu pai, o que já era rotina na minha vida, ver o delegado, aguentar David, me aguentar, enfim, deu pra notar como meu dia é cansativo. Pelo menos pra mim.

- o que você quer? - digo abafando a voz.

- o café está pronto, desça, vamos conversar - fala ela impaciente e ouço seus passos para longe.

Me levanto com dificuldade, pois a preguiça era mais forte que a vontade, uma vontade que nem existia, sem demora vou direto ao banho. Já limpa ponho um outro pijama, pois a intenção era não levantar, e já que levantei, nada vai mudar. Desço pra a cozinha e encontro todos os gêmeos sentados, um do lado do outro na mesa.

- o que está acontecendo? - pergunto confusa.

- queríamos conversar sobre a festa, sabemos que é difícil, só achei que seria algo bom para nos distrair e focar em outra coisa, mas caso você não queira - sem terminar Mary é interrompida pela sua cópia.

- caso você não queira, vamos fazer do mesmo jeito, porque o aniversário não é só seu - Elizabeth joga as belas palavras.

- tanto faz - digo pegando uma xícara de café e já voltando para meu quarto.

Sem muito o que fazer, o tempo passou mais rápido que o normal, rolei de um lado para o outro, sem fim na cama.

De tanto pensar, busco entender como foi que minha vida ficou um caos tão rápido, como foi que essas coisas horríveis aconteceram? Com minha mãe aqui, será que seria diferente? A cada dia que passa Mary me suporta menos e Elizabeth me ignorava mais, eu até pensei em voltar logo para a escola, mente vazia é perigosa, minha mente vazia é perigosa. Se eu pensava em maneiras horríveis de machucar o meu corpo? Sim, muitas vezes, e muitas vezes também já pensei na possibilidade de se tornar real, pelo fato de a única pessoa que realmente se importava comigo havia partido desta vida.

Em um simples momento de euforia, peguei meu celular e automaticamente me vejo ligando para a Senhorita Ester. O porquê? Nem eu mesmo sei dizer, só sentia a necessidade de ter uma conversa com alguém que não me julgue, e simplimente ouça o que eu tenho a dizer. Sem demorar marquei uma consulta para hoje mesmo, porém no final dá tarde.

Dando a hora dá consulta, eu já me via dentro do consultoria dá mesma, sentada e impaciente pela demora. Antes de sair de casa passei por um enorme interrogatório dos gêmeos, que ultimamente roubaram o lugar de meu pai, e pode acreditar, mesmo eu dizendo que viria à uma consulta marcada com a doutora Ester, eles me impediram, como se fossem policiais e eu a encarcerada, não acreditaram em nada do que eu falei. Se bem que me conhecendo, poderia até ser mentira mesmo, mas isso não lhes dariam o motivo de me prender em casa.

Bom, e como estou aqui? Se eu fugi? Digamos que sim, ou não, eu sai pela porta dá frente mesmo, porém nenhum deles me viu, então não acho que tenha sido um delito muito grave, ainda mais porque não devo mais satisfações a ninguém.

- Kayla, Kayla - sinto e ouço dedos estalando em minha frente, e paro pra prestar atenção vendo Ester roubando meus pensamentos.

- me desculpe, me perdi por um momento, posso entrar? - questionei me levantando dá poltrona, ela simplesmente assentiu e me guiou até o centro dá sala, cujo ao passar pela porta pude ver seu nome gravado em um pequeno pedaço de metal pendurado.

- pode se sentar senhorita - disse a mesma, me fazendo parar para admirar sua incrível sala, que por sinal era bem aconchegante.

- desculpe por essa consulta ser marcada tão repentinamente, eu só precisava conversar - me sentei e visualizei cada passo que ela deu até mim.

- não se preocupe, como estão as coisas em casa - me pegou de surpresa com essa pergunta, que eu claramente não esperava, a fim me fez sentir um leve desconforto.

- tá, está tudo bem em casa, todos estão bem - respondo arrancando um sorriso dela.

- serei atrevida se perguntar sobre qual assunto você esta querendo conversar? - a olho e respiro o mais fundo de mim, eu realmente estava disposta a dizer o que eu estava sentindo, sem esforço, simplimente queria sair, então não me esforcei a esconder os sentimentos.

- eu sei que é algo irrelevante, mas nesse sábado será nosso aniversário - ela escuta atentamente - e eu, particularmente, nunca fui de curtir festas, nem de faze-las, e nem ao menos comparecer a elas, embora minhas irmãs, amam esse tipo de atenção. Sabe é até engraçado, meu pai gosta de fazer um café dá manhã todo especial para elas, como se fossem Princesas, e fosse somente o aniversário delas, ele as faz se sentirem únicas, obviamente, ele faz com que eu me sinta especial também, mas com elas é sempre diferente, entende? - questiono como se quisesse uma resposta que me confortasse, como um "sim Kayla, eu entendo completamente" mas o que eu recebi foi um.

- entendo, e você se sente frustada por não ter a mesma atenção que ele dava as suas irmãs? - como alguém pode responder minha pergunta me jogando outra que supostamente confunde minha mente.

- não, absolutamente não, eu seria uma egoísta se pensasse assim - falo como se fosse óbvio a mim mesma.

- e suas irmãs não são egoístas? - mais uma pergunta que me custa um pensamento profundo antes dá resposta. A olho confunsa, tentando entender o que ela havia acabado de dizer.

- eu, eu acho, que elas são, não são? - questiono - sabe doutora, elas estão querendo fazer uma festa, no sábado, e eu não acho isso certo, papai não vai gostar dessa atitude hipócrita delas.

- ele não ia gostar? - balanço a cabeça como um simples não - Kayla quem está sendo egoísta agora?

- são elas, elas são as egoístas, como podem fazer isso com ele? - levanto a voz mostrando o quão irritava eu estava ficando.

- fazer o quê Kayla? - questiona - do que você está querendo proteger seu pai?

- da frustração que ele irá sentir, se eu permitir que essa festa aconteça.

- Kayla, ele não vai ficar frustado com essa festa, ele se orgulha de vocês, principalmente de você, tenha certeza disso - ela se levanta, caminha ate mim, e toca em minha mão - quem está sendo egoísta Kayla?

Gêmeos.Where stories live. Discover now