C1

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- Kayla minha filha acorda - escuto a voz de meu pai, sinto meus olhos arderem com a claridade que invade meu quarto. Abro meus olhos com dificuldade, mas logo os fecho, resmungo e me viro para o lado oposto do que eu estava - Vamos Kayla, você prometeu que passaria o dia comigo - ele puxa minha coberta, começo a me debater com a cama e paro ao ouvir sua risada.

- Que horas são, pai? - pergunto sussurrando.

- São 11:00, vamos, levanta e vá já para o banho - me levanto, e com os olhos fechados vou tropeçando no caminho para o banheiro - Esqueceu sua roupa - diz ele gritando do lado de fora, fazendo com que minha cabeça doa.

- Depois eu pego - grito no mesmo tom e escuto a porta de meu quarto bater.

Ligo o chuveiro, e enquanto espero esquentar vou me despindo com toda minha preguiça, ja nua vou para debaixo da água quente, tomo um banho completo. Lavo meus cabelos e fico me afogando embaixo da agua, deixo cair, sinto as gotas deslizando pelo meu corpo, e o mesmo vai relaxando. Após 30 min' eu o desligo, e vou em direção ao espelho molhando todo o caminho, ele estava todo embaçado pelo vapor. Passei minha mão para que pudesse ver meu reflexo, e meus olhos que antes estavam cobertos por lápis preto, agora estava todo manchado, então peguei um papel e tirei essa mancha bem devagar.

- Kayla vai logo, Grayson tem que tomar banho - ouço Elizabeth do outro lado da porta, me desviando dos pensamentos.

- Não tem só esse banheiro - falo me enrolando na toalha.

- O outro está ocupado, vai logo antes que eu te tire daí - abro a porta e ela estava me encarando com deboche, eu retribui o olhar, mas não durou muito - por que não vestiu uma roupa? Ninguém quer te ver assim.

- Você está no meu quarto - falo olhando ela - Vai logo - olhei para Grayson que estava me encarando, e nesse instante senti meu estômago revirar. Elizabeth percebeu a troca de olhar entre nós dois e te deu um beijo lhe roubando a atenção. Foi bem nojento.

- Depois desce amor - disse direcionando a fala para mim que apenas revirei os olhos, saiu de meu quarto batendo a porta, o que fez minha cabeça doer um pouco mais, resmungo colocando a mão na mesma.

- Tem remédio lá embaixo - Grayson fala e reviro os olhos mais uma vez - Sua irmã disse que você ia me emprestar uma toalha.

- Folgados - solto.

- Como? - diz me olhando.

- Eu disse que só tenho essa - o olho - se quiser, espera eu me vestir - fui em direção a gaveta para pegar minhas roupas e escuto a porta do banheiro fechar.

Depois de ja ter me trocado, bato na porta do banheiro chamando por Grayson, demorou um pouco ate ele me responder - deixe ela pendurada na maçaneta - bufo e cumpro com o pedido. Logo saio do meu quarto e vou até a cozinha.

- Até que enfim Branca de Neve - diz meu pai que me arranca um sorriso - Vamos? - assinto e logo saímos.

************

Eu me afastei de meu pai nessa última semana, na verdade eu nem sei porque, mas quero me redimir, sei que ele faz isso só para me ajudar, mas gosto de sua presença comigo. Fomos de carro ao shopping e depois de termos almoçado, decidimos ir ao parque.

- Sua mãe ia te adorar sabia - diz ele com um imenso sorriso, eu o olho sem expressão alguma e solto um sorriso forçado.

- É - digo olhando para frente vendo crianças brincarem.

As horas passaram correndo, quando vimos já havia escurecido, Mary não parava de ligar para o pai, então resolvemos ir para casa.

- Não foi tao ruim assim, eu sei que você amou - ele falou entrando no carro e eu acompanho.

- Não mesmo - digo rindo.

Vamos conversando bastante no caminho, paramos em um sinal perto de casa, e ele parecia que estava quebrado pois não abria de jeito nenhum. Me virei para pegar meu celular no banco de trás, e vi um homem de capuz.

- Quem é você? - pergunto com o coração acelerado, o que fez meu pai se virar pra ver e logo atrás dele tinha outro homem de capuz, o mesmo estava com uma arma apontada para meu pai que levantou as mãos. Fui um pouco para trás no banco devido ao susto que eu tinha tomado, e eles começaram a rir.

- Shi... Shi... Shi... gracinha, o que você acha de darmos uma volta com esse carro bacana? - um deles fala rindo.

- Como entraram aqui? - falo com a respiração ofegante.

- Pergunta errada, lindinha - diz apontando a arma para mim, meu coração entra em disparada.

- Ok, o que vocês querem? - meu pai tentou se colocar em minha frente para tirar a atenção deles.

- Vamos dar uma volta - dizem enquanto meu pai liga o carro.

Eles vão guiando o caminho, com o medo que eu estava nem prestei atenção nas ruas em que entramos, minhas mãos estavam suando, minha barriga revirava, meu coração estava acelerado, e eu já estava ficando sem ar.

- Desce, os dois - falam, meu pai coloca sua mão sobre a minha e sussurra "vai ficar tudo bem" - Anda logo - nos arrastam com força para um galpão cheio de mesas espalhadas.

- Pronto. Olha, se é o carro que querem pode levar - diz meu pai jogando a chave para eles.

- Nós até iríamos pegar somente o carro, mas ai, batemos o olho nessa gracinha, e resolvemos mostrar a ela o que fazemos de melhor.

- Não toquem na minha filha, por favor - meu pai diz indo a minha frente.

- Não pai - foi a única coisa que consegui dizer e eles começaram a rir.

O mais alto entre eles estava sem arma, caminhou até nós dois e derrubou meu pai no chão, me pegou pelo cabelo e afogou seus lábios nojentos em meu pescoço, apertou minha cintura e meus braços, me fazendo implorar pra que parasse... nesse momento de medo eu comecei a chorar. Meu pai vendo essa imagem se levantou e foi pra cima do homem que me segurava, mas foi em vão, o homem lhe deu um murro que o fez cair, mas logo se levantou, e a única imagem que eu vi, foi ele parado, sangue saindo de sua boca e suas pernas curvando lentamente o fazendo cair no chão, olhei na mesma direção, e o outro homem de capuz estava com a arma apontada para o mesmo ângulo, e sorrindo.

- Na... não, não NÃO - disse em soluços balançando a cabeça com o rosto todo molhado pelas lágrimas. Os dois escrotos vieram até mim rindo, e começaram a me bater me mandando calar a boca enquanto eu gritava por socorro, eles tentavam arrancar minha blusa e abrir minha calça, mas eu nao parei de me debater por mais que estivesse apanhando.
Já estava me cansando e não tinha mais forças, pronta pra ceder, escutei um barulho de sirene e comecei a gritar mais alto enquanto eles ainda me batiam. O barulho da Sirene foi aumentando e então eles resolveram fugir me deixando jogada no chão com o rosto vermelho e sangrando, com a camisa toda rasgada e um medo incontrolável.

- A gente ainda se esbarra gracinha - disseram antes de sair do galpão, me virei para olhar o lugar e fui até meu pai que ainda respirava - desculpa pai, desculpa, vai ficar tudo bem. Eles já estão vindo - digo chorando e tentando ajeitar ele em meu colo.

- tudo bem - ele toca em meu rosto e sua mão cai logo em seguida, não sinto mais sua respiração e me desespero.

- Pai? Pai? Não... Não... Não... Não... Não - digo batendo nele - por que? Você prometeu que ia ficar comigo - cuspo as palavras ainda chorando e soluçando muito, olho pra frente que não tem nada, mas imagino um espelho, um espelho que refletia minha imagem, minha fraqueza. Então olho para os lados com a vista muito embaçada, vejo um objeto no chão limpo as lágrimas dos meus olhos e vejo uma arma, a mesma que eles atiraram, a mesma que tirou a vida de meu pai. Vou até ela a pego e volto para o lugar em que estava - Vai ficar tudo bem, vai dar tudo certo - digo passando a mão em seu corpo já morto - Não se preocupe, vamos ficar juntos pai - o olho e dou um sorriso. Destravo a ama, levo ela devagar com as mãos tremendo até minha cabeça e me olho em um reflexo imaginário.

- Kayla, KAYLA. NÃO - ouso a voz de Grayson que gritava e corria em minha direção, mas a única coisa que eu consegui fazer foi, puxar o gatilho.

Gêmeos.Where stories live. Discover now