Unpredictable Love

Lembranças

Eu não sabia o que estava fazendo, não conseguia sentir minhas pernas nem ver pra onde elas me levavam, apenas me entreguei a vontade que tinha de correr e foi isso que fiz. Algumas pessoas me encararam quando passei pelo meu carro no estacionamento do hospital, mas tudo que fiz foi sair dali a pé, passos apressados, coração batendo acelerado, pernas correndo, passadas longas e ritmadas como sentia falta de fazer há algum tempo pela falta de exercícios. Aquelas palavras gravando-se em minha mente. Grávida de quatro semanas.

- Lauren, preciso que me conte o que aconteceu. – A voz gentil da doce mulher me tirou de meu transe enquanto encarava minha imagem num espelho na lateral da sala, uma criança de 7 anos, seus cabelos em um coque mal feito no alto da cabeça, suas roupas rosas e cheia de babados como a mãe gostava de vesti-la. – Pode confiar em mim.

- Elas viram... – Murmurei sentindo minha garganta arder, já havia algum tempo que chorava e não dizia nada, até agora... – Viram ele quando estava tomando banho... – Completei envergonhada. – Mama e Papa dizem que o ballet é bom pra mim porque só tem meninas, assim posso tomar banho só depois quando elas vão embora. – Expliquei esfregando minhas mãos umas nas outras. – Meninas não vão fazer perguntas sobre ele, Papa me disse, porque elas só ficam curiosas quando tem algo errado, mas com as saias e tudo mais, não dá pra perceber ele. – Apontei com o olhar para minhas partes baixas, sentindo minhas bochechas corarem e a mulher nem sequer riu de mim. Ela era boazinha!

- E você gosta de praticar ballet? – Neguei com a cabeça. – O que gosta de fazer? E porque chegou em casa chorando? Seu pai me disse que você só conseguia dizer que elas viram seu... Hm... Pipi, é assim que você chama?- Assenti envergonhada e ela sorriu gentilmente. – Pois então, elas falaram alguma coisa que te ofendeu? – Assenti. – Você quer me contar?!

- Eu queria jogar softball, mas Mama acha que vou me machucar e que os meninos não são delicados como as meninas. – Minha mãe sempre dizia que estaria mais segura ficando perto das meninas porque afinal de contas eu era uma menina, mesmo sendo... Diferente. – Papa queria que eu jogasse, mas acabou concordando com a Mama. – Expliquei. – Mas hoje quando estava tomando banho, a Alice teve que voltar porque esqueceu seu prendedor de cabelo. – Contei fazendo bico. – Então ela me viu tomando banho e apontou pra meu pipi, ficou me perguntando por que eu tinha ele. – Continuei envergonhada. – Falei que não era da conta dela e que Mama disse pra não deixar ninguém ver, mas ai ela chamou as outras meninas que estavam lá fora esperando seus pais e algumas delas ficaram rindo de mim. – As lágrimas já desciam por meu rosto. – Papa me disse que iria me tirar do ballet. O que é uma coisa boa... – Sorri de leve. – Mas não quero que fiquem rindo de mim.

- Elas só acharam diferente você não ter o mesmo que elas, Lauren. – Explicou com muita paciência. Eu gosto muito dessa mulher! – Mas não tem problema nenhum em ser diferente, diferente é muito legal aliás, consegue me entender? – Assenti secando minhas lágrimas. – Conversarei com seus pais sobre lhe colocar no softball, o que me diz disso? Assim você não precisa chorar. – Sorri contente, aquela moça era muito boa pra mim. – Também conversarei com sua mãe, ela precisa entender que você também precisa ter interação com os meninos, na verdade, você precisa entender isso.

- Então, ficar com os meninos não é perigoso? – Perguntei levemente confusa.

- Nada disso, nem um pouco. Ter uma boa interação com os dois gêneros é ótimo pra você. Do mesmo jeito que aconteceu hoje com as meninas pode acontecer com os meninos. Você tem que ter consciência que as pessoas nunca estão preparadas para algo diferente do que elas conhecem. – Aconselhou.

- Então os meninos também vão rir de mim? – Perguntei me encolhendo.

- Talvez. – Ela nunca me dizia mentiras. – As pessoas são cruéis, Lauren, mas isso não quer dizer que estejam certas. As meninas rirem de você foi algo muito feio da parte delas. – Concordei com a cabeça. Rir das pessoas era feio, meu pai havia me ensinado isso. – Mas você precisa entender que uma hora ou outra vai lidar com pessoas desse tipo e precisa dizer a elas que as risadas ou até mesmo outras coisas que elas fizerem pra te magoar não vão te afetar, porque você deve ter orgulho de quem você é, porque você é incrivelmente maravilhosa. Ok?