Capítulo 1

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Liz

Escuto um barulho agudo infernal que parece querer explodir meus tímpanos.

Abro os olhos.

Reconheço o barulho, é o despertador do meu celular. Droga!

Viro a cabeça para o lado, estico o braço e desligo o alarme. 6:01

Estou suando, pisco várias vezes pra me acostumar com a escuridão que está no quarto. Outra noite fiquei revirando na cama me perguntando como sair disso. A solução não vem, na verdade eu até já sei.
Não tem como sair. Estou trancada numa situação sem rotas de fugas a não ser esperar um milagre acontecer. E é bom deixar claro que não sou de acreditar em milagres, pra mim isso é tudo baboseira que nos fazem acreditar apenas para criarmos mais expectativas, e a decepção sobre a vida ser ainda maior. Como mudar o passado? Como tirar da mente o que não dá pra apagar?

Então sem chances de sair disso.

Como sempre demoro pra me levantar, porque eu sei que tenho que reunir forças pra enfrentar um novo dia. Meu corpo todo dói, resultado de outra noite mal dormida virando de um lado pra outro na cama. Tento calcular quantas noites iguais a essa já foram no total.
Sento na cama, respiro fundo, levanto e acendo as luzes.

Já estou em piloto automático.

Vou ao banheiro, tomo banho, escovo os dentes, me seco e vou até o armário procurar uma roupa que me deixe com a cara de uma pessoa apresentável, coisa que talvez eu não seja, mas os outros não precisam saber disso. Então, escolho uma saia lápis preta decente que não me deixe com o quadril de uma vaca, uma camisa social de botão vermelha em um tecido elegante e meus sapatos de saltos médios pretos do dia-a-dia.

Se tinha uma coisa que minha mãe sempre esteve certa, era sobre como vestir-se bem te torna mais aceitável em qualquer ambiente, mesmo que por dentro você só queira vestir um pijama e seus chinelos de dedo. Lidar com pessoas ricas te faz aprender como se adequar a esse meio e nada como estar bem vestida pra isso não ser tão traumático.

Olho-me no espelho.

Meu Deus!

Estou parecendo um panda, a pele pálida feito a da Mortícia da Família Addams, com olheiras profundas em baixo dos olhos.

Respiro fundo, puxo a nécessaire de maquiagem da gaveta da cômoda e começo a fazer a "Operação Cara Nova", comecei a chamar assim porque depois da aplicação de uma boa maquiagem, sinto como se vestisse uma máscara e pudesse me esconder por trás dela.

É assim que tenhofeito nos últimos anos. Guardo como estou me sentindo em uma gaveta que criei na minha cabeça, passo a chave e me preparo pra começar o dia. Depois de base, corretivo, rímel, um pouco de blush, batom e pronto, sinto-me outra pessoa. Uma nova Liz sem sentimentos.


Apanho minha bolsa na poltrona no canto do quarto, verifico se tudo que preciso está nela, vou até a sala pegar minhas chaves sobre a mesa de café e saio. Ando até o elevador, aperto o botão e espero.

Começo a fazer uma lista mental de tudo que preciso fazer e todas as coisas que preciso evitar pensar. Ok! Vou conseguir.

1. Chegar ao trabalho

2. Fingir interagir com meus colegas

3. Lembrar-me de sair pra almoçar (Isso se meu chefe deixar!)

4. Ter força de vontade em querer voltar ao trabalho após o almoço

5. Fazer supermercado (Urgente! Na geladeira só tem água e Ketchup)

Azul Profundo ( Livro 1 Série Cores) SEM REVISÃOWhere stories live. Discover now