Capítulo 6

202 56 18
                                    

Se ao menos pudesse dizer que vampiros existem, que moram nessa casa e que, por acaso, estou apaixonada por um deles, sem que Billie me mate entre as palavras, ou gargalhe até a morte, juro, eu diria

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Se ao menos pudesse dizer que vampiros existem, que moram nessa casa e que, por acaso, estou apaixonada por um deles, sem que Billie me mate entre as palavras, ou gargalhe até a morte, juro, eu diria. Não, não, nem assim seria possível explicar toda essa bagunça — nem mesmo eu sei direito do que se trata tudo isso. É uma bagunça. E é só isso.

— Por que seu nome está em todos esses papéis? Seu namorado secreto mora aqui? Não me diga que ele morreu e deixou tudo isso para trás? Que doideira, Brie! Aposto que nem contou para o papai — Billie largou o papel em suas mãos e tratou de pegar outro e lê-lo como se não significasse nada. — “A solidão é um monstro cruel, fico feliz de tê-la encontrado em meio aos tropeços...”, uma coisa eu não posso negar: ele tem jeito com as palavras. Até eu poderia me apaixonar por ele... — ele fez uma cara feia e então gargalhou um pouco de si mesmo. — Calma, isso saiu meio errado.

Peguei todas as cartas do chão, jogando-as numa lixeira de plástico azul, decorada com girafas, que encontrei em um canto. Peguei também as cartas que Billie lia.

— Vamos embora — disse, tentando parecer o mais controlada possível. — Agora!

— Quê? Não, não, não, não, não! Definitivamente, não saio daqui até entender toda a situação — meu irmãozinho chato continuou sentado no tapete poeirento, de braços cruzados como se as coisas pudessem realmente ficar piores do que já estão.

— Ah, não enche, Billie! Levanta de uma vez e vamos embora.

— Na-na-não, Cara de Queijo — ele girou no assoalho, ficando de costas para mim. — Não me movo daqui até que você me diga o motivo que levou o morador dessa casa velha a ter escrito cartas para você. Ele não é, sei lá, um século mais velho que você, né? Ou é?

Billie, um. Brie, zero.

— Eu diria que é um pouco mais que um século — sussurrei involuntariamente.

— O que? — Billie voltou a olhar para mim. — Está namorando um velhote? Mesmo? O papai vai amar tanto saber disso!

Seus ataques de riso parecem bombas nucleares. Destruiriam o sol se lançados direito.

— Você não vai contar nada para o papai! — reclamei.

— Ele precisa saber que a princesinha dele irá se casar com o dragão! — sua voz aumenta em graus suficientes para que toda a cidade ouça. Ele pulou para voltar a ficar de pé.

— Quê? N-não, não é nada com a idade. E, além do mais, esse seu preconceito idiota precisa morrer, assim como essa conversa!

— Acha mesmo que consegue me calar assim tão fácil? — Billie segurou e sacudiu meus ombros, como se eu precisasse voltar a realidade. Talvez precise.

O pequeno lustre de latão da sala tilintou sob meus pés.

— A não ser que você tenha uma boa porção de fritas e uma porção maior ainda de dólares, eu talvez possa...

Verão Taciturno (livro dois)Where stories live. Discover now