Se ao menos pudesse dizer que vampiros existem, que moram nessa casa e que, por acaso, estou apaixonada por um deles, sem que Billie me mate entre as palavras, ou gargalhe até a morte, juro, eu diria. Não, não, nem assim seria possível explicar toda essa bagunça — nem mesmo eu sei direito do que se trata tudo isso. É uma bagunça. E é só isso.
— Por que seu nome está em todos esses papéis? Seu namorado secreto mora aqui? Não me diga que ele morreu e deixou tudo isso para trás? Que doideira, Brie! Aposto que nem contou para o papai — Billie largou o papel em suas mãos e tratou de pegar outro e lê-lo como se não significasse nada. — “A solidão é um monstro cruel, fico feliz de tê-la encontrado em meio aos tropeços...”, uma coisa eu não posso negar: ele tem jeito com as palavras. Até eu poderia me apaixonar por ele... — ele fez uma cara feia e então gargalhou um pouco de si mesmo. — Calma, isso saiu meio errado.
Peguei todas as cartas do chão, jogando-as numa lixeira de plástico azul, decorada com girafas, que encontrei em um canto. Peguei também as cartas que Billie lia.
— Vamos embora — disse, tentando parecer o mais controlada possível. — Agora!
— Quê? Não, não, não, não, não! Definitivamente, não saio daqui até entender toda a situação — meu irmãozinho chato continuou sentado no tapete poeirento, de braços cruzados como se as coisas pudessem realmente ficar piores do que já estão.
— Ah, não enche, Billie! Levanta de uma vez e vamos embora.
— Na-na-não, Cara de Queijo — ele girou no assoalho, ficando de costas para mim. — Não me movo daqui até que você me diga o motivo que levou o morador dessa casa velha a ter escrito cartas para você. Ele não é, sei lá, um século mais velho que você, né? Ou é?
Billie, um. Brie, zero.
— Eu diria que é um pouco mais que um século — sussurrei involuntariamente.
— O que? — Billie voltou a olhar para mim. — Está namorando um velhote? Mesmo? O papai vai amar tanto saber disso!
Seus ataques de riso parecem bombas nucleares. Destruiriam o sol se lançados direito.
— Você não vai contar nada para o papai! — reclamei.
— Ele precisa saber que a princesinha dele irá se casar com o dragão! — sua voz aumenta em graus suficientes para que toda a cidade ouça. Ele pulou para voltar a ficar de pé.
— Quê? N-não, não é nada com a idade. E, além do mais, esse seu preconceito idiota precisa morrer, assim como essa conversa!
— Acha mesmo que consegue me calar assim tão fácil? — Billie segurou e sacudiu meus ombros, como se eu precisasse voltar a realidade. Talvez precise.
O pequeno lustre de latão da sala tilintou sob meus pés.
— A não ser que você tenha uma boa porção de fritas e uma porção maior ainda de dólares, eu talvez possa...
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Verão Taciturno (livro dois)
FantasyEm Verão Taciturno, a série O Falso Demônio ganha uma nova narradora: Brie - a amada de Ace -, e fica ainda mais turbulenta com a chegada de Kai - o misterioso Demônio da Tasmânia. Nessa nova jornada, o sol não se trata apenas de uma lembrança...