Capítulo 12

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Seu corpo estava pesado. Por mais que tentasse, ela não conseguia mover um único músculo e até mesmo sua respiração estava difícil de ser mantida. Ao abrir seus olhos, viu o céu rodando em uma velocidade espantosa. "A Lua era minguante ou crescente?" Pensou.

O que tinha acontecido?

Tentou se recordar, mas a única coisa que conseguia perceber era flashes em sua cabeça, na qual, a água era única protagonista. À medida que se esforçava para se recordar de algo a mais, o medo que sentia aumentava.

Muita água, muita água mesmo.

"Socorro", pensou.

Após alguns instantes, Sachiel percebeu que eles estavam enganados. Como poderia ela controlar algo tão selvagem como a água?

Aquilo puxava-a para baixo, ela não conseguia respirar, nada nela conseguia mover-se com destreza. Muita água. Ela engolia água pela boca e nariz. Muita água. Seu corpo batia violentamente contra coisas que nem ela conseguia distinguir, sentia apenas a dor e a violência da água. Muita água. Ela tentava se agarrar em algo, talvez em um dos objetos que seu corpo vinha a se chocar, mas sentia que estava tentando segurar algo indomável. Como poderia ela conseguir sustento em um corrimão de uma escada líquida?

Era muita água.

Água demais para uma garota tão pequena.

Mas agora ela não estava mais naquele pesadelo. Não sabe ao certo, nem mesmo iria tentar entender. Ela queria apenas conseguir se levantar, mas seu corpo insistia em ficar imóvel naquela terra molhada pela água que escorria de seu próprio ser. Nem mesmo seus sentidos a ajudavam, pois tudo estava muito confuso.

— Vejo que melhorou.

Era uma voz feminina, mas Sachiel não conseguiu identificar a sua dona e, por isso, virou seu rosto lentamente para tentar visualizar a face da pessoa que lhe ajudara.

— Quem é você? – Perguntou a garota confusa, ainda com a visão ainda turva.

Aquela mulher parecia ser jovem e, do pouco que viu, percebeu que ela tinha cabelos loiros e cacheados. Suas vestes um pouco rasgadas, mas sua pele era incrivelmente branca.

— Rogata, é você? – Insistiu a menina.

A mulher continuou em silêncio. Silêncio esse que matava Sachiel, pois não sabia se deveria temer ou agradecer. No entanto, se parar para pensar logicamente, as pessoas desconhecidas eram as que mais a ajudava. Talvez não fosse tão ruim estar ao lado daquela mulher.

O clima estava extremamente frio, fazendo a mandíbula da pequena garota vibrar, na tentativa instintiva de gerar calor para si. Aquela noite estava sem estrelas e a lua minguante não parecia tão majestosa quanto as diversas vezes em que a menina olhara. Talvez fosse a situação, talvez a frustração.

Sachiel olhou novamente para a mulher. Ela estava de cenho fechado, parecia não ser tão receptível às pessoas. Mas porque estaria ali? Seria o destino a colocando em seu caminho com a única finalidade de salvá-la do rio e ir embora sem ao menos saber seu nome?

Acaso? Seria isso?

— Você parece tão inútil – retrucou a mulher – como é? Diga-me! Como é a sensação de ser a única damaso da água que talvez possui salvação?

— Eu só quero ir pra casa – respondeu a menina não querendo escutar aquelas duras palavras.

— Talvez os Deuses estivessem enganados. Não é você, não deveria ser você – desabafou a mulher enquanto sentava ao lado da garota que acabara de se levantar e encostar seu corpo no tronco da árvore.

Anjo da ÁguaWhere stories live. Discover now