Capítulo 6

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Dilecto estava na fase de lua nova. Os guerreiros estavam mais fracos devido à ausência de qualquer resquício da lua e isso era mais preocupante do que nunca, pois as abominações estavam se aproximando mais da muralha periférica. Toda cautela e esforço seriam necessários para impedir uma possível invasão.

Devido à preocupação com a saúde de Mosheh, que fora encontrado quase morto na manhã do dia que voltaria para o forte, com o destinho de Sachiel, que cada vez mais se torna indiferente com o seu dever, e com a integridade do Império, os damasos resolveram consultar os semideuses, que eram os representantes dos deuses em terra. Em outras palavras, eles eram uma espécie de oráculo para essa civilização. Sempre que isso acontecia, eles recrutavam duzentos civis e cinquenta soldados para irem ao templo.

Os damasos não podiam ir pessoalmente, pois os semideuses repugnavam qualquer contato com aqueles domadores. Por isso, sempre que eles decidiam consultá-los, o suspense pairava sobre o império, pois qualquer pessoa poderia ser escolhida para ir até o templo. Os mais destemidos se ofereciam, pois ver os semideuses era o desejo de qualquer um daquele império. Quem não deseja ter a verdadeira forma de algo divino em mente?

Porém, outros temiam, e esse medo não era sem um fundamento plausível. Ocorre que o templo ficava além das muralhas, dentro da floresta, em um local bastante reservado, mas que possuía bastantes surpresas para desatentos. Diziam os semideuses, que eles necessitavam de toda tranquilidade para que pudessem manter a comunicação com os deuses e sempre exigiam a mesma quantidade de pessoas, duzentos civis e cinquenta soldados, caso isso não fosse obedecido, o templo não os receberia.

Muitos vampiros aproveitavam essas visitas pra saciarem sua sede. Inúmeras chacinas já ocorreram nessas visitas ao templo, poucos que iam até lá continuavam com vida. Entretanto, sempre sobreviviam alguns e, quando voltavam, eles eram aclamados por todos e tinham uma boa história para contar. Esses que sobreviventes eram considerados afortunados, pois eles teriam sido escolhidos para levar a mensagem ao império. Por isso, suas vidas eram poupadas.

E mais um "teatro" a ser encenado em Dilecto. Mais um motivo para se derramar sangue.

É fato também que algumas visitas tiveram sorte e todas as pessoas voltaram sãs. Quando isso acontecia, uma festa começava. Por todas as cidades era visto comemorações, bebedeira, sorrisos, danças e comidas gratuitas. A cidade mudava de cor, as pessoas tornavam-se mais bonitas, a alegria pairava no ar.

Os dias que se aproximaram à visita deixaram o ar do império mais pesado. Cinco dias antes à consulta, foram anunciadas as pessoas que iriam realizar tal empreitada, a maioria das pessoas tinham se oferecido, por sorte. Já fazia duas décadas que nenhuma consulta fora feita. Aquele momento certamente era novo para essas pessoas.

Estava nublado na manha que saíram do império. As flores que pintavam o chão estavam dançando a medida que cada gota tocava suas pétalas. Muitos caiam em poças, por conta da terra que estava escorregadia. Inicialmente, para esses jovens, cada queda se tornava motivo de gargalhadas. Até os guerreiros se permitiam sorrir durante essa viagem.

Dentro da floresta era impossível distinguir se era dia ou noite, as lamparinas acesas cortavam aquela penumbra e os grilos cantavam uma sinfonia tenebrosa, outros animais também os ajudavam. Às vezes, era possível escutar alguns uivos e outros sons indistinguível. Todos estavam temerosos, mas não era para menos, pois, aquele local frígido e úmido aparentava ser o palco de inúmeros suicídios a sangue frio.

– Tomem cuidado, alguns vampiros se escondem aqui. Fiquem sempre juntos – falou um guerreiro.

– É aqui que vocês lutam? – perguntou uma mulher, que se aproximou para ficar mais perto do guarda que falou.

Anjo da ÁguaWhere stories live. Discover now