Capítulo 11

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Adriana estava absorta e por pouco não pisou em seu longo vestido amarelo. Suas mãos gelaram, e seu corpo começou a suar frio, essas sensações também vieram acompanhadas de uma enorme fraqueza. Por conta disso, ela precisou se sentar para tentar assimilar aquela nova e polêmica informação.

Ela era filha de um damaso?

Desde quando eles se deixam levar a tal pondo?

— Não se sinta superior, minha cara, sua mãe é uma prostituta – disse o guerreiro que não se conteve e entrou na enfermaria.

As duas mulheres se entreolharam. Elas estavam com sérios problemas.

— Quem é você? – Perguntou a velha.

— Sou um guerreiro, posso não estar usando minhas vestes de combate, mas ainda sirvo aos damasos e, por isso, preciso que as duas me acompanhem.

— Não iremos a lugar algum, Alec e Sachiel ainda precisam de nossos cuidados – disse a idosa.

— Apenas uma de vocês duas é necessária aqui, então preciso que a senhora me acompanhem, pois ao meu ver, foi a senhora que escondeu tal informação por tanto tempo. Essa garota não era para estar nem aqui – disse intrasigivelmente.

A velha moveu-se sem dizer uma única palavra. Ela provavelmente sabia do que lhe ocorreria, pois seu caminhar fúnebre visivelmente exalava sua melancolia e sua tensão. No entanto, não demonstrava medo, com certeza ela não estava com medo, estava apenas apreensiva com o que ocorreria com Adriana, pois era ela quem realmente incomoda.

Assim que os dois saíram de vista, Adriana pôs-se a arrumar suas coisas para ir embora daquele local. Nada bom poderia sair daquela conversa e ela não iria esperar uma resposta. Certamente não fariam nada contra sua bisavó, pois como é a melhor curandeira de Dilecto e a oficial dos damasos. O máximo que lhe ocorreria seria apenas alguns açoites por traição em nível baixo.

Mas ela não, certamente seria considerada como ameaça e, sem sombra de dúvidas, não é recomendado ser considerado uma ameaça para a estabilidade das castas do império. Pobre jovem, a única que não teve culpa de nada. Como uma peça a se repetir várias vezes, a vítima sempre sendo o mais prejudicado.

Ela sabia que corria risco de vida e o quanto aquela conversa trouxe prejuízos. Se ao menos pudesse reverter aquela situação. No entanto, nada poderia ser feito para mudar seu destino na visão dos homens que comandam o império.

Assim que ela voltou dos aposentos que em que estava instalada, Adriana sentou-se próximo a Sachiel. Ela estava deitada assim como havia deixado. Suas costas já estavam bem melhores, mas sua pele pálida e frágil ainda estava exposta, por conta da falta de vestes ou de um cobertor.

A filha de Melchior sentiu uma angústia maior ainda ao ver aquela pequena garota. Ela estava sendo criada em uma toca de lobos, provavelmente perderia o resto de doçura que tinha, cresceria igual a todos os outros daquele forte – amarga e sedenta por sangue.

Seria justo aquele o destino?

Ela realmente deveria aceitar aquilo como um fardo?

Aquela sociedade realmente vale a pena?

Ninguém poderia responder tais perguntas.

Então Adriana beijou a face da menina e se levantou. Assim que ficou de costas para a garota e segurou sua mala firmemente, escutou uma voz desesperada.

— Não me deixa! – Disse Sachiel.

Seu coração se partiu em pedaços e foi distribuído entre os cachorros. A angústia dominou seu ser e ela já não sabia mais se seria capaz de abandonar Sachiel. É impossível não se cativar por aqueles cabelos ruivos, que mesmo curto não perderam seu esplendor.

Anjo da ÁguaWhere stories live. Discover now