Capítulo 7

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A menina acordou.

Apesar de ter dormido a noite toda, seu corpo estava cansado. Revirou-se na cama tentando encontrar alguma posição confortável o suficiente para voltar a dormir, mas ela sabia que não poderia fazer isso.

Todos sempre acordavam muito cedo naquele local e ela deveria seguir esse ritual. Então ela decidiu se levantar.

Lá fora, o dia já tinha clareado e todos estavam agitados, como de costume. Jordi e Eurípedes conversavam quando um guarda chegou correndo ao encontro deles. Ele parecia assustado e ao mesmo tempo absorto.

– Senhores, senhores – falou o guarda, ele suava abundantemente e precisou de alguns instantes para recuperar o fôlego – temos notícias da visita ao templo.

– Pois não, diga a boa nova! – respondeu Jordi.

– Houve uma previsão.

– E isso é bom?

– Ainda não sabemos, meu senhor – respondeu o guerreiro – ela está escrita aqui – o guarda entregou um papiro enrolado a Eurípedes – os afortunados se lembraram de có! Como se a mensagem estivesse impregnando em suas mentes!

– O que ela diz?

– Algo acontecerá na Lua Viva – respondeu o guerreiro.

– Dê-me aqui – falou Melchior.

Ele leu tudo que estava escrito em voz alta, palavra por palavra. Foi preciso reler algumas vezes, mas mesmo assim, ele não conseguia digerir facilmente aquilo. Seria mesmo verdade o que estava escrito? Ele estava absorto, o que mais faltava para aquele dia terminar da pior forma possível? Perder os dedos como Jordi ou perder os seus amados companheiros como Eurípedes?

– Será mesmo verdade, Jordi? – Perguntou Melchior, na mesma tentativa de entender aquele presságio.

– Eu não sei, meu irmão, eu não sei.

Eles estavam pensando na vinda do criador, qual seria a explicação mais plausível para esse profecia? Caso isso aconteça, eles não saberiam o que fazer. Como tratar uma divindade na terra? Eles os reconheceriam? Perceberiam a presença?

Esperavam que sim.

– Quando será a era da Lua Viva? – Perguntou Melchior.

– Daqui a 10 anos – Respondeu Jordi.

Melchior suspirou aliviado, ainda havia dez anos para eles se prepararem para essas mudanças. Precisavam agradar os deuses mais do que nunca, se quisessem continuar na situação que se encontravam agora. Eles não queriam entrar em uma decadência maior da que estavam.

– Nós temos de fazer algo em relação a aquela pessoa, pois Mosheh está em coma e temo que ele não acorde tão cedo – ele se referia à Sachiel, uma vez que ela se tornara problema deles após a chegada do damaso da água.

Enquanto eles falavam, Sachiel os espiava. Com muito cuidado e curiosidade, ela escutava cada palavra que aqueles homens falavam. Por algum motivo, ela se sentiu confortável com a leitura da profecia. Isso ocorreu, pois ela parecia bastante interessante e reconfortava os seus ouvidos, talvez os deuses queriam falar algo para ela. É, deveria ser, só poderia ser isso.

Isso era bastante maldoso, mas ela agradecia constantemente por esse tal Mosheh estar em coma e ela não iniciar aquele processo de tortura que era domar a água. Sachiel não queria fazer aquilo, nunca mais. Depois daquele incidente, seu corpo se desgastou completamente, a sensação era horrível.

– Ora, ora – uma voz soou atrás dela.

Sachiel se virou e o dono da voz era Uri. Ele estava parado próximo à garota com os braços cruzados e o mesmo sorriso do dia que cortou o seu cabelo ruivo. A garota estava temerosa e mal conseguia respirar.

Anjo da ÁguaWhere stories live. Discover now