Capítulo 7: Assim como eu...

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--Maldito! MALDITO! O que quer de mim?!—Gritava e garota, aos prantos.

--Por que está nesse estado?—Indagou a voz, com um tom um tanto surpreso.—Por que algo como isso te incomoda? Pensei que já estivesse acostumada...

--VÁ SE FODER!—vociferou—Avançando no corredor, procurando por alguma porta que não estivesse interditada, ou uma saída qualquer.

Enquanto ia andando, a voz a seguia por cada alto-falante instalado pelo lugar.

--Eu estive curioso por muito tempo...procurando alguém que fosse assim como eu. Então, eu descobri você.

Sidney continuava a correr pelo corredor escuro, não dando atenção a voz.

--Eu pensei que nós dois pudéssemos ficar juntos, então...—Disse o estranho homem. Tinha uma voz aveludada e macia de um serial killer.

Ela virou o corredor a esquerda, tentou encontrar alguma porta que pudesse abrir, mas sem sucesso. Chegou em um elevador e sem demora apartou o botão sem cessar afim de chamá-lo, mas parecia que tudo havia parado de funcionar por ali e estava consumido por plantas e ferrugem, o que fez a jovem dar um forte soco de raiva, no Led do aparelho. Então, seguiu em frente, correndo pelo labirinto medonho e empoeirado, desviando das cadeiras de rodas enferrujadas e das macas quebradas.

Quando virou o corredor, se encontrou em um saguão enorme e vazio, cujo único foco de luz vinha de um buraco no teto, que provavelmente havia sido feito por algum tipo de explosivo. Qualquer pessoa normal teria a grande ideia de arrumar um jeito de escalar o lugar e chegar a superfície, porém não seria possível, já que bem abaixo da fenda, um homem estava parado, de costas para Sidney. Era alto e de porte atlético, de cabelos loiros que brilhavam com a luz que vinha lá de cima e vestia um belo terno azul marinho. Era o dono da voz.

Sidney paralisou por alguns instantes, só teve coragem de dar alguns curtos e medrosos passos para trás, na esperança de que o homem não a notasse.

--Então...gostaria de se juntar a mim?—Disse ele, se virando para a garota, estendendo uma das mãos enquanto apresentava um sorriso no rosto.

Ela deu meia volta, porém deu de cara com uma parede que certamente não estava lá quando a garota chegou no lugar. Coagida, Sidney grudou na parede com os braços estendidos, como se ela pudesse protegê-la do estranho a sua frente.

--Não...n-não se aproxime de mim!—Balbuciou ela.

--Qual o problema? Por acaso este lugar te assusta?

Ela nada respondeu, apenas arfava.

--Não há problema, minha amiga. Aqui nós podemos fazer o que quisermos.—Disse ele, estralando os dedos.

Mais que imediatamente, o lugar escuro e tenebroso se transformou em um campo florido, iluminado por um sol brilhante e amistoso, tudo em uma paisagem deslumbrante.

--Assim está melhor pra você?—Indagou o Homem. Parecia ainda mais belo quando a luz estava sobre ele.

--O que é você? Como fez isso?—Indagava a garota, em um mix de surpresa e espanto.

Ele parou por um instante, arqueou as sobrancelhas e lhe lançou um olhar de surpresa, que foi brevemente substituído pelos olhos esbugalhados e o sorriso de uma criança quando descobre algo novo.

--Você não conhece seus poderes, é claro! Como sou estúpido. Por isso aquele país sumiu tão depressa...quem diria. Parece, então, que devo testar aquilo que você sabe fazer.—Ponderava o homem, que passou a andar, fitando o rosto da jovem.

--Eu não sei do que...—Começou Sidney, antes de ser atingida por uma forte onda de dor em sua cabeça, que a fez se prostrar no chão relvado do lugar.

Então, assim como aquela ilusão surgiu, desapareceu de uma só vez, dando espaço pro velho sujo e fedorento saguão de hospital.

--Magnífico! Seus poderes podem anular os meus. Por mais que não saiba controla-los.—Refletia ele, não dando bola para os gritos de dor de Sidney.

Os pulsos pressionavam os olhos aterrorizados dela, que embora estivesse sem condições de se levantar, se arrastava para próximo a parede, afim de se afastar do homem, que caminhava vagarosamente até ela.

--A propósito, meu nome é Claus! Não se preocupe, eu sei bem como funciona essa dor. Ela é o sinal de que você já despertou e isso é maravilhoso. Eu prometo te ensinar tudo o que sei, eu prometo ajudar a libertar o universo de possibilidades dentro de você. E vamos poder ficar juntos...pra sempre!

--SAIA DE PERTO DE MIM!—Urrou ela, liberando uma onda de choque forte o suficiente para abalar as estruturas do lugar.

Infelizmente isso não foi suficiente para pará-lo, pois ainda permanecia ali, com a mesma postura serena e curiosa. O que Sidney pode apenas perceber era que, do nariz do rapaz, um filete de sangue começou a pingar, sujando seu paletó. Ele tratou a cena com descaso: apenas passou a mão no sangue fresco e fitou seu vermelho escarlate sem nenhum espanto.

--Oh! Mas que pena...parece que por hoje chega de brincadeiras...terei de te visitar outro dia, Sid! Posso te chamar assim, certo?—Dizia ele, com as expressões de uma criança inocente.

Então, do buraco no teto, uma torrente de águas invadiu todo o saguão com uma rapidez assustadora.

--Não se preocupe, eu vou te encontrar!—Disse Claus, por fim, sendo engolido pela onda.

A jovem pôs-se a correr para não ser esmagada pela pressão das águas, que avançavam sem piedade.

A parede não estava mais ali para impedir seu caminho, portanto, poderia ir livre afim de tentar se salvar. À suas costas, o barulho de um riu em fúria a seguia bem de perto, a ponto de Sidney ser capas de sentir a água chegando em seus calcanhares.

Ela corria como se estivesse em uma maratona, a única diferença era que não havia linha de chegada, quanto mais, se tinha certeza se existia uma saída. A água já estava na altura de sua coxa, a partir dali, não podia mais se controlar, apenas era levada pela enxurrada, que avançava ferozmente dentre os corredores do hospital.

A água já havia elevado Sidney até o teto, estava a poucos centímetros de se afogar. Tudo o que podia contemplar eram as luzes tremeluzentes e os objetos que boiavam ao seu redor. Era tudo tão claustrofóbico! Como havia de escapar dessa?

Foi quando Sidney desejou, com todas as forças que tinha, que uma saída abrisse bem à sua frente, desejou tanto...mais tanto! Que se tornou realidade: o teto de gesso começou a ruir, abrindo um espaço que cabia a mão da jovem. Ela logo fez o resto, arrancando a cobertura com suas próprias mãos. No fundo escuro que se abriu a sua frente, uma luz de neon refletia em seus olhos:

"EXIT"

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Rapidamente, ela se viu se arrastando dentre o carpete de madeira, que havia encharcado pela água que vinha de baixo de sua cama. Ela havia retornado ao apartamento.

Ela se levantou encharcada, de lábios bem abertos e em estado de choque. Tentou chorar, mas sua voz não saia. Estava tomada pelo pavor.

Em um lapso de sanidade, Sidney continuou sua fuga, mesmo que nada estivesse a perseguindo naquele momento, tudo o que fez foi seguir seus instintos mais primitivos de sobrevivência. Então, foi rolando por entre as escadas de piso frio, sem nem se apoiar no corrimão. Vez ou outra tropeçava e caia alguns degraus abaixo, mas logo se levantava feito gata assustada, fugindo de um cão enviado do inferno.

Finalmente se encontrou novamente ao estacionamento, o tenebroso, porém familiar, estacionamento. Saiu, portanto, em direção ao seu carro—A pobrezinha nem havia se tocado de que havia deixado o cartão de acesso de seu veículo em seu apartamento.

Foi quando uma luz de farol cegou o seu caminho, forçando a jovem a tapar a visão com uma das mãos. O barulho de pneu friccionando pôde ser ouvido por todo o lugar. O veículo havia parado logo a frente da garota.

A porta do carona se abre:

--Sidney! Entre logo!—Chamou Fellipo, o Psicólogo. 

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