Capítulo 3: Cuidado com o que sonhas.

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     O frappuccino queimou sua língua, fazendo a garota afastar o copo de isopor e assoprar a bebida quente.

--Eu não acredito que ele teve a coragem!!— Exclamou Charlote, metendo a boca no cookie de chocolate.

--Teve sim, aquele desgraçado!—Respondeu Sidney, coçando os olhos, ainda sonolenta.

Eram cinco horas da manha, estavam numa cafeteria na avenida perto da Exx, se preparando para bater o cartão e iniciar a jornada de trabalho. Sidney estava com os pensamentos longe, olhava para vista da janela e enxergava, entre os altos prédios, o céu ainda enegrecido. Os cookies em seu prato nem se quer haviam saído do lugar, ela estava sem fome e sem nem um pingo de ânimo de trabalhar. De fato, ela nunca estava, pelo menos não naquele lugar.

--E o que vai fazer com ele? Denunciar?!—Indagou a colega, com uma entonação dramática de espanto.

--Claro que não! Como se fosse adiantar alguma coisa!—Disse, ainda encarando o vazio.

--Ora, Sid! Você poderia ganhar uma grana preta do Boss.

--Eu não me interesso por dinheiro...—Respondeu, baixinho.

--O QUE?—Se espantou Charlote, interrompendo a mastigação.

Sidney soltou um sorrisinho.

--Você nunca sonhou em sair daqui? Fugir da cidade, de todo caos, desse céu cinza?

--Eu não sei do que está falando, querida!—Disse a mulher, agora dedilhando no celular.

--Você nunca pensou em como o céu deve ser lindo longe da cidade? O quanto podemos ver das estrelas aqui? Tenho certeza que não chega nem perto de outro lugar...não sei qual, mas sei que deve existir.

A colega largou o celular na hora, encarou Sidney com um olhar de desconfiança. ela retribuiu o olhar, esperando uma resposta. Charlote suspirou e olhou para mesma direção que a colega vislumbrava.

--Olha, ali!—Apontava ela.—Tem uma estrela linda, bem ali! Veja só, tem até uns pontinhos vermelhos piscando. É a melhor estrela que já vi.

--Amiga, aquilo é um helicóptero...—Falou Sidney, olhando para Charlote com indiferença. Era por essas e o outras que se sentia mais esperta, perto da colega de trabalho.—Vamos, já está quase na hora de ir pro escritório. Hoje o dia será longo.

--tem certeza de que é um helicóptero?...

Tiveram de atravessar a rua. O prédio onde trabalhavam estava a poucos metros e da calçada já podiam ver, enorme e imponente, coberto por vidros espelhados com uma coloração azulada. No topo, o símbolo da Exx se destacava em vermelho. Olhar para aquilo já deixava o estomago da garota enjoado.

A cidade estava um caos, como sempre: carros buzinando o tempo todo, gente de todos os estilos caminhavam a passos largos, com os olhos vidrados na tela do celular. O cheiro de fumaça de escapamento predominava, quando não era interrompido pelas barraquinhas de comida espalhadas por todo o quarteirão.

Estava frio, era agosto de 2023. Sidney andava vestida com o sobretudo nude, uma das poucas roupas de frio que tinha. As pernas estavam descobertas, recebendo a brisa gelada que vinha em sua direção. Os belos cabelos loiros estavam ao vento, o que faria qualquer pião de obra lhe lançar um "fiu fiu".

Já se aproximavam da sacada do prédio, quando Sidney notou que seu crachá não estava no bolso onde sempre costumava deixar. Então, destrambelhou a procurar na bolsa.

--Vamos, Sid! Não vai querer se atrasar, sabe como são esses elevadores infernais!—Avisou Charlote.

--Espera, Droga! Perdi meu crachá.—Respondeu, de dentes serrados.

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