A controvérsia de Edgar

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— Ele tentou me agarrar, mas, eu chutei a barriga dele e fugi. Não aconteceu nada, mas não quero ver a cara dele nunca mais, pois se eu vir, dou um soco — admitiu Núbia.

Edgar ficou em silêncio pensativo por alguns segundos, que pareceram horas para Núbia, que sentia-se realmente constrangida em contar aquilo para Edgar. Primeiro porque estava ocultando dele a participação de Cicero na história, e, segundo porque era desconfortável contar sobre um assédio para um homem que sequer conhecia, mas além do fato de que Edgar descobriria aquilo cedo ou tarde, Núbia não viu julgamento nos olhos dele em momento algum, portanto de alguma maneira, a lhe deu segurança para falar sobre aquele assunto, mesmo dizendo poucas palavras.

Por fim Edgar assentiu e prosseguiu no mesmo tom que usara durante toda conversa

— Não o verá mais. Não se preocupe _ Prometeu ele, e assim voltou a comer.

Núbia não entendeu aquela afirmação, mas assentiu sentindo-se aliviada e também voltou a jantar.

Após o jantar, Núbia foi para o quarto ler um pouco. Por várias vezes enquanto estava sentada com o livro sobre bruxaria branca nas mãos, sentiu não estar sozinha. Ela interrompeu sua leitura por diversas vezes, olhando para os lados, indo ao banheiro, se debruçando na janela, mas não viu ninguém, porém, a sensação de estar sendo observada prosseguia. Logo, mais tranquila, Núbia concluiu ser somente Thayna, a fantasma ensanguentada de sua tia bisavó, nada de mais.

Ela enfim terminou um dos livros sobre bruxaria e notou que nada é como nos filmes, ao menos, não se você for um iniciante. Núbia já lera sobre a Bruxaria Moderna, sempre gostou da Wicca, mas nunca tomou iniciativa sobre isso, agora ela sentia-se ansiosa, mas confiante para começar a fazer feitiços, estudar ervas, manipular energias... No pouco que leu, a garota já sabia qual rumo tomaria, magia branca, ou, somente magia natural. Ela não queria sacrificar ninguém, não queria ser como Edgar, se soubesse usar bem a energia e estudasse muito, não precisaria usar sangue de ninguém para ser uma grande bruxa.

Logo decidiu deixar o livro sobre bruxaria de lado e pegou o de história, o que mais lhe causou estranhamento.

Primeiramente observou o sumário, procurando algo interessante, ou que explicasse qual era o objetivo de Edgar, mas não havia nada de especial.

Ela então somente folheou o livro com tédio, fitando as imagens.

Negros enfileirados e acorrentados; navios negreiros que mais pareciam a realidade do inferno; eram sujos, com pessoas de corpos magros e olhares que refletiam histórias de profunda dor.

Núbia franziu o cenho, pensando como alguém podia achar algo assim normal? Como podiam tratar um ser humano de maneira tão nojenta e cruel, por uma simples diferença étnica?

Ela respirou fundo, tentando não sentir repulso de ser humana e prosseguiu folheando as páginas, mas não viu nada além de mais sofrimento.

Logo se deparou com uma orelha na ponta de uma página específica, ela desfez o amaçado imaginando ser só um acidente, quem sabe ela mesma tivesse causado aquilo e nem viu, porém ao ver a imagem contida na página em questão franziu os olhos.

Mostrava um escravo idoso virado de costas, com cicatrizes profundas, provavelmente causadas pelos castigos com açoites. Ao lado havia um texto intitulado "as cicatrizes da escravidão".

Núbia pensou em ler aquele texto, mas logo bocejou, estava morta de sono.

Ela decidiu não lutar contra o cansaço, teria bastante tempo para ler tudo aquilo, somente fechou os livros, os colocou no criado mudo e se deitou.

...

Edgar descia uma escada em caracol com seu cajado na mão e uma lanterna negra na outra. O ar era úmido e frio, as paredes feitas de pedras cobertas por musgo, o que fez o Cabrall concluir que já estava na hora de fazer uma boa faxina naquele lugar, não é por que ali era um cativeiro que precisava ser tão sujo.

Folclore OcultoWhere stories live. Discover now