III.III. A manhã seguinte

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– Contou a Sasuke?

– Não achei que tinha o direito. Ele estava até agora a pouco naquela cadeira, mas Hinata o convenceu a ir tomar um banho. Naruto e ele praticamente acamparam aqui a noite inteira.

Sorri um pouco com aquela visão.

– Não conte a ele, certo? – pedi, fitando bem os seus olhos. Esperava que ela compreendesse sem me questionar – Certifique-se de que Sen e Hinata também não digam nada.

– Sakura... – Ino suspirou, pegando minha deixa – Ele merece saber.

– Mais uma tentativa para com os Uchiha arruinada, ele já foi até o inferno por isso...

– Não se trata do clã, Sakura. Trata-se de vocês. Duvido que ele estivesse dando a mínima para essa merda toda ontem.

– Só não conte a ele – suspirei, cansada demais para discutir.

– Não o farei porque você o fará.

– Ino...

– Não vou me meter nas suas decisões, mas se ele perguntar mais uma vez, não vou mentir. Não foi sua culpa, as coisas acontecem, não posso e nem vou deixar que você carregue isso de graça.

Droga, Ino!

Estava prestes a contesta-la, reunindo todas as minhas energias, mas a porta do apartamento hospitalar foi aberta, de modo que logo encontrei o olhar ônix de Sasuke. Engoli em seco, assim como a bola angustiada que se formou na minha garganta. Eu não podia chorar, não ali.

Ele se aproximou em silêncio. Só eu podia ver os traços de alívio na linha das suas sobrancelhas ao me encontrar acordada. Mas logo uma sombra de preocupação o tomou. Pelo visto, não fui rápida o bastante para esconder minha súbita vontade de desabar. Os olhos de Ino, inquisidores, não estavam ajudando.

– Vou deixa-lo as sós – ela avisou, levantando-se e seguindo para fora. – Voltarei mais tarde, para aplicar mais alguns analgésicos e quem sabe te dar alta.

Sorri forçado em resposta e Sasuke assentiu quando ela passou por ele, mas sem nunca deixar de me focar.

O evitei, voltando a encarar a janela. Se ele demorasse mais um pouco no meu rosto, veria até mesmo minha alma e ela estava tão quebranda...

Não queria esconder dele, mas também não estava pronta para lhe dizer a verdade. O motivo ainda estava muito abstrato. Em parte, eu me sentia pronta para assumir toda a dor da perda sem que ele nunca soubesse. Sasuke já sofrera demais em tais caminhos, não estava disposta a mostra-lhe aquilo de novo.

Contudo, no fundo, eu sabia que havia algo mais, mas não conseguia concretiza-lo. Minha cabeça estava tão perdida com o vazio literal que doía, continuar pensando a respeito só me desarmaria.

Por ora, tinha que me concentrar em esconder aquela dor.

– Como se sente? – ele quis saber, acomodando-se na poltrona.

– Melhor agora – respondi, ensaiando o meu melhor sorriso travesso.

A linha dos seus lábios elevou-se sutilmente em resposta. Meu coração se aqueceu, de modo que pude dar um pouco de verdade para minha expressão.

– Como ainda consegue flertar comigo? – Sasuke franziu o cenho.

– Estou com algumas costelas quebras, não morta – respondi e me arrependi amargamente no segundo seguinte. Sasuke, congelou, seu maxilar ficou tenso a menção daquela possibilidade. – Desculpe.

– Não precisa. Está tudo bem agora...

– Sim, está sim.

Sasuke se levantou, aproximando-se. Inclinou-se sobre mim e beijou o centro da minha testa sem aviso prévio. Eu amava quando ele fazia isso, amava o seu toque, a maciez e o carinho dos seus lábios contra minha pele. Eu podia sentir o cheiro do seu perfume, de menino de banho tomado. Era uma delícia que me fazia acreditar que mesmo que as coisas não estivessem realmente bem, elas ficaram em algum momento.

Ele tinha parado de perguntar se deveria ou não fazer alguma coisa que queria fazer comigo, mesmo que fosse apenas segurar na minha mão. A verdade é que até pouco tempo, ele não sabia como se comportar perto de mim e eu não podia esperar que o fizesse sem lhe ajudar. Nos conhecemos tanto nas primeiras semanas de casamento.

Ele voltava a ser o mesmo Sasuke indiferente quando estávamos em público, mas eu não me importava, desde que seus olhos estivessem sempre sobre mim e os meus sobre ele. Fazia questão de aparecer quando podia, aonde quer que eu me encontrasse na vila, sempre perguntava se estava tudo bem ou se eu precisava de alguma coisa. Tais ações eram discretas, direcionadas exclusivamente para mim.

Ele estava tão feliz com a vida que conseguiu ao meu lado... Eu não era capaz de lhe contar a verdade.

– Por que está chorando? – Sua pergunta me surpreendeu. Até então em não estava sentido a lágrima solitária que escorregara pela minha bochecha.

– Nada que tenha que se preocupar. Só estou feliz – menti.

Eu tinha ficado boa nisso ao longo dos anos de rejeição, mas não boa o bastante para apagar a dúvida dos seus olhos. Mas ele pouco insistiu. Voltou para poltrona e lá tirou do próprio casaco um exemplar.

– Tomei a liberdade de entrar no sua sala de estudos – Sasuke explicou diante da minha intriga – Sua estante estava meio bagunçada, então peguei o primeiro volume que minha mão alcançou.

– Você vai ler para mim?

– Bom, eu sei o quão tedioso é ficar de cama... Acho que pode distrair você.

– E o que você tem aí?

Sasuke correu os olhos sobre o título, eu tinha certeza que era de fato a primeira vez que o lia.

– A Anatomia Ninja... Desculpe, devia ter prestado mais atenção. Um livro mais água com açúcar talvez...

Sorri para sua ação, sorri de verdade para o seu cuidado.

– Vamos – respondi, afundando-me um pouco mais entre os travesseiros – Eu gosto desse livro, leia para mim.

Decisões (SasuSaku)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt