I.VI. Medidas inesperadas

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por Uchiha Sasuke...

– Se continuar usando clones assim, cansará mais rápido do que nós – alertei, alto o suficiente para que ela me ouvisse. Eu só conhecia uma pessoa que conseguia usar tantos clones de uma só vez por horas a fio.

Não foi difícil encontrar a posição da nossa oponente original, dava-se um pouco a direita da caverna, atrás do terceiro elo de árvore que nos cercava. Não sei se a achava corajosa ou estúpida demais por iniciar um ataque sozinha, visto que não havia mais ninguém além de nós nas redondezas. Tentei partir do princípio de que ela talvez não nos conhecesse, mas isso só a fazia parecer mais ineficaz. Não é inteligente atacar alguém sem conhecer suas habilidades de forma prévia, ou ao menos parte de uma introdução sobre elas. No entanto, Sakura tinha chamado bastante atenção ao repeli-la, o que poderia lhe ajudar em conseguir reforços, se ela tivesse se distanciado de uma equipe em primeiro lugar, é claro.

Desci até a beirada da cratera que Sakura tinha aberto, enquanto a mesma permanecia no centro, nem um pouco abalada pelo o que acabara de fazer. Seu olhar seguia na direção do meu, para a garota que surgira por entre os arbustos, com as mãos erguidas em alerta.

– Me chamo, Sen – ela informou. – Não deveriam estar aqui. Não cabe a vocês decidir esse assunto.

– Nos conhece? – Sakura franziu o cenho.

– Shinobis da Folha, subordinados daquele canalha.

Sen era uma nukenin, encontrei sua bandana riscada amarrada em suas vestes, na altura da cintura, como um cinto.

– Por canalha, você quer dizer Hokage? – Sakura continuou.

– Ele também – Sen respondeu, rangendo os dentes.

– O que está acontecendo? – Questionei, firme.

– O rei feudal que vocês tanto zelam está expandindo seu maldito domínio pessoal sobre terras independentes. Tirando assim nossas casas e sustento sem nenhum contestamento superior. Vocês não dão a mínima para a minoria, então, se não vão ajudar, tratem de ir embora.

Não parecia se tratar de uma organização pró-guerra e nem uma situação complicada para o senhor do feudo, era exatamente o contrário. O rei estava nos usando, indiretamente, para remediar sua dor de cabeça. Aquela divergência era quase insignificante, visto que no geral, camponeses não gozavam de tanto poder assim para iniciarem alguma anarquia contra o sistema. No entanto, há quem abraçasse suas causas a custo benefício, de modo que aquela era uma faísca a ser considerada e contida para evitar conflitos de grandes proporções.

– Bom – disse Sakura, alcançando a garota. – No que podemos ajudar?

Enviei um gavião ao Hokage, pedindo orientações, mas estava certo em acreditar que Sakura agiria independentemente do que ele respondesse. Havia uma resistência, em uma pequena aldeia familiar contra os avanços do rei, Sen tinha nos guiado até lá, apresentando-nos a sua família. Há noites que vinham sendo ameaçado, estoques queimados e aldeões humilhados.

– Sabe que não podemos agir como shinobis da Folha, não sabe? – limitei-me a lhe alertar.

Nos acomodaram em uma pequena sala, provavelmente usada para as reuniões de família no jantar. Sen conversava com o avô na cozinha, explicando-lhe nosso objetivo. O velho não tinha gostado muito da nossa presença, desconfiava de nossas intensões. Os dois moravam sozinhos naquela edificações, enquanto os primos e amigos ocupavam as outras casas.

– Não precisam saber que somos da Folha – Sakura respondeu, ajoelhada diante da sua mochila, eu duvidava que reavaliar seus mantimentos pela centésima vez fosse realmente necessário.

Seu silêncio estava me incomodando como o inferno, era quase ensurdecedora a sua falta de interesse nos diálogos durante a viagem.

– Sen e o avô são os únicos que sabem, você mesmo se certificou sobre a inexistência de espiões por ora – ela continuou, desabotoando as luvas. – Vamos esperar o ataque e repeli-los.

– Isso pode provoca-los a uma retaliação impiedosa para com esse povoado. Talvez só os prejudique.

– Você está dizendo que não consegue lidar com a guarda do rei? Afinal, só são dozes pessoas.

Não me teste, Sakura...

– E como pretende ficar aqui sem ser reconhecida?

– Vamos nos misturar.

– Em uma comunidade minúscula? Saberão que não somos daqui.

– Não precisamos ser, pare de dificultar as coisas. Sen nos tratara como familiares distantes... Os outros tão pouco vão se manifestar.

Revirei os olhos.

Ela era teimosa, mas não estúpida, o plano era bom.

– De modo que... – Sakura continuou, livrando-se da própria bandana. Passou a massagear as mãos, levemente contundidas por causa do taijutsu – os deixarão em paz ao considerarem que vamos nos fixar. As terras estarão a salvo e nós vamos embora.

Sen retornou, acompanhada do avô. Ele concordou em nos abrigar, mas não tinha certeza se aceitava nossa ajuda. Tratava-se de um líder preocupado com seu povo, era compreensível suas ressalvas para conosco. Sakura foi orientada a passar as noites no quarto de Sen e eu poderia me acomodar na sala.

– Durma – ordenou Sakura, evitando me olhar. – A noite ainda não acabou e eu ainda estou de vigília.

A casa já estava silenciosa, Sen já tinha se recolhido, assim como o avô. Sakura acomodou-se no parapeito da janela. Abraçava os joelhos ao observar o silêncio da clareira lá fora, mais quatro casas compunham a modesta aldeia. Viviam da agricultura e da caça de pequeno porte, não faziam mal a ninguém, eram um povo simples.

– Precisamos conversar – eu disse, sentando-me sobre o saco de dormir

– Na verdade não – cortou-me.

– Você está entendendo tudo errado, Sakura.

– Se quisesse conversar comigo, poderia ter feito isso ainda no meu apartamento... Mas não se preocupe, você foi bem claro.

– Sakura... Não seja irritante.

– Sasuke-kun, por favor pare. Concentre-se na missão. Não me faça achar que ainda é possível, deixar-me sozinha naquela manhã foi a melhor coisa que já fez. Ainda dói, suspeito que doerá por mais algum tempo, mas ficarei bem. A perspectiva que tenho agora é bem melhor do que a ilusão que tinha antes. Apenas pare.

Se alguém tivesse atravessado minha própria espada no meu peito, teria sido bem menos doloroso e sufocante. Era isso então, ocorrera como ela dissera: Sakura tinha se libertado.

Dei-me conta que seria capaz de deixa-la ir se isso a fizesse feliz, parecia o caminho mais fácil para ambos. No entanto, parte de mim queria uma chance, primeira e única que eu tomaria em relação a nós, mas depois do que acabou de ser dito e de tudo o que eu tinha feito, não sabia se tinha o direito.

Limitei-me a deitar, virado para o lado oposto ao dela. Sakura tinha razão, minha cabeça não era tão certa quanto imaginei que fosse, pelo menos não em relação a ela. A culpa era exclusivamente minha, é claro, estive me comportando como um idiota por tempo demais. Mas a redenção ainda não havia me abraçado e eu tinha uma decisão a tomar, independentemente do que ela dissesse.

Decisões (SasuSaku)Where stories live. Discover now