Epílogo I - Avental

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Louis

Ser casado com um homem na Inglaterra não era algo que poderia ser chamado de fácil. Nenhum pouco - na verdade -, mas com muita boa vontade, paciência e uma dose maciça de cumplicidade, os problemas se tornam menores... Suportáveis. Suportáveis ao ponto de mesmo quando Harry sentou comigo e me explicou exatamente o que havia acontecido naquelas semanas em que havia terminado comigo, anos atrás... Eu consegui entender. Depois de muito choro, mas consegui entender.

Nunca achei que havia nada para ser perdoado; Harry não tinha feito nada daquilo porque queria e para mim havia ficado mais do que claro que da mesma forma que minha mãe tinha sofrido um abuso aos quinze anos, ela ter obrigado Harry a se relacionar com ela, havia sido uma espécie de abuso também. Não foi físico, mas cobrou muito do psicológico do Styles, que fez absolutamente tudo para me poupar daquilo, mesmo que talvez usando meios que eu não usaria. 

Por isso eu nunca nem sequer cogitei a ideia de tirar minha aliança do dedo, assim como sabia que Harry nunca tinha tirado a dele também... Aliança que apareceu logo depois de eu ter completado dezoito anos, como uma forma de oficializar uma coisa que já era oficial, quando decidimos autenticar nosso casamento em território inglês. 

E eu até poderia mentir sobre a pessoa com quem me conjuguei para evitar constrangimentos com as pessoas ao meu redor, no entanto isso seria apenas negar meu amor, negar quem sou e quem me deixa feliz, por um olhar preconceituoso a menos.

Não valia a pena.

Ainda assim, acredito que uma das minhas maiores provações quanto a isso foi meu primeiro dia de aula da faculdade de psicologia.

Digo primeiro dia da faculdade de psicologia porque me descobri uma pessoa bem indecisa sobre o que fazer de minha própria vida. Eu tinha começado três cursos, nunca ficando mais de um ano neles, percebendo que faltava alguma coisa.

Harry dizia que pelo menos não existia vestibular em que eu não passasse, porque com meus atuais vinte e um anos, todas as provas que prestei - desde os dezessete – consegui passar na primeira chamada.

E mesmo com a minha suposta habitualidade com primeiros dias de aula, nunca conheci nenhum professor que tivesse uma ideia mais descabida do que a de Simon Cowell, professor de Introdução à Psicologia, que decidiu fazer uma brincadeira de apresentações, só para que víssemos a psicologia ser colocada em prática já de cara: ouvir e analisar o que os outros tinham a dizer sobre si mesmos e tentar tirar conclusões sobre a psique humana a partir disso. Entender padrões, pontos fora da linha, sempre deixando claro que aquilo era completamente anti-terapêutico, já que segundo Freud, conhecer seu paciente, guiar seu discurso ou ter qualquer ambição terapêutica já ia completamente contra os conceitos de tratamento da utilização clínica da psicanálise – que era a área de especialidade de Simon.

Basicamente, ele queria que os alunos se sentissem confortáveis para falar sobre eles mesmos e sobre seus conhecimentos prévios de psicologia tentando analisar o coleguinha.

Então cada um de nós tinha de dizer nossos nomes, idades, estado civil, o motivo pelo qual havíamos escolhido a psicologia e qualquer outra curiosidade que estivéssemos dispostos a compartilhar. Era uma aula de quatro horas e tínhamos uma turma de apenas 23 no período integral, então a discussão sobre essa pessoa era aberta logo após ela se apresentar.

Por uma infelicidade do destino, eu era o único casado da sala – formada em sua grande maioria por pessoas bem jovens - e isso acarretou uma chuva de perguntas quanto a quem era a minha "esposa" e como era minha vida conjugal, além de tentarem entender o motivo de um matrimônio tão precoce.

Quando finalmente resolvi dizer que meu marido era um homem dez anos mais velho que eu, chamado Harry Styles, me tornei rapidamente, o assunto de analise prática da primeira aula.

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