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XVII. Pedaços

Louis rejeitou todas as tentativas de aproximação de Harry. Na verdade, em certo ponto o Styles começou a assemelhá-lo a um animal ferido e assustado, que provavelmente atacaria se continuasse tentando alcança-lo.

Quando finalmente desistiu, o dono da Dust acabou subindo os andares que separavam seu apartamento do da família Malik, pedindo por ajuda para Zayn e Trisha, que desceram às pressas, conseguindo sem dificuldades convencer Louis de que ele precisava ir a um hospital. Aquilo foi pista mais do que o suficiente para que Harry entendesse que o problema era consigo. A mágoa era sua e ele teria de arranjar uma maneira de lidar com ela.

Do lado de fora do apartamento, Liam aguardava dentro do carro que os três descessem, depois que Zayn ligou pedindo para que o namorado os levasse até o hospital. O advogado abriu um sorriso que empático para Harry quando o viu parado junto à porta de vidro do hall, como se tentasse lhe transmitir um pouco de força, entendendo que havia alguma coisa muito errada naquela situação.

Harry ainda demorou vários minutos para seguir os quatro, mesmo depois que o carro partiu. Queria ter certeza de que Louis já estivesse em consulta quando chegasse. Sim, aquilo era extremamente covarde, mas ele não conseguia lidar com a indiferença do menor.

Quer dizer, a última vez que havia sido ignorado por ele fora há anos atrás, quando ele havia quebrado o braço e Harry teve de ir trabalhar ao invés de passar a tarde com o menino.

Não havia sido uma escolha fácil, mas na época a verdade é que não haviam escolhas. Ele tinha de trazer dinheiro para casa, mas Louis não tinha idade para compreender o quão sério era faltar um dia no trabalho. Ele não era obrigado a ter esse tipo de maturidade.

Ainda hoje... Ele não era obrigado a ter maturidade o suficiente para conseguir lidar com a situação em que Johannah os havia metido.

Ele não tinha idade para enfrentar a própria mãe. Talvez nunca tivesse.

E quem o culparia, afinal? Harry não visitava o túmulo da própria família há quase dez anos... Talvez alguns fantasmas simplesmente não fossem derrotáveis.

Louis havia se transformado no núcleo de sua vida. Harry mal se lembrava qual havia sido a última vez que havia conseguido dormir mais de cinco horas por noite, ou que tivera tempo de tirar férias. Ele trabalhava feito um louco, dava o próprio suor em tudo que se propunha a fazer e a verdade... É que jamais teria feito nada disso se não tivesse encontrado com o Tomlinson naquela noite de chuva. Ele não se esforçaria tanto, nem passaria tanto tempo sem dormir... Não teria uma úlcera nervosa desde os 19, nem anemias recorrentes por comer extremamente mal. Em compensação também não teria nenhum motivo pra voltar pra casa, nem a vontade de continuar se tornando uma pessoa melhor. Ele simplesmente teria abandonado a si mesmo, porque antes de Louis aparecer, era exatamente isso que ele estava fazendo.

O problema era que agora não sabia o que iria acontecer, não de verdade.

Louis não era mais criança, prestaria vestibular no final do ano e se Harry tivesse quebrado seu coração de uma maneira irreversível... Sabia que ele iria escolher a faculdade mais distante de si e provavelmente nunca mais apareceria. Afinal, ele tinha vivido os últimos dois anos sozinho, poderia muito bem fazer isso de novo.

Principalmente se fosse para se afastar do que lhe fazia mal.

• •

Quando o Styles finalmente chegou em frente ao hospital, ele não conseguiu entrar.

Na verdade, acabou se sentando em um dos bancos que havia lá fora, vendo o local ser parcamente iluminado pelas janelas dos leitos ocupados.

Harry não conseguiu entrar porque não sabia exatamente o que falar para Louis. Enquanto Johannah não estivesse definitivamente longe dos dois, lhe contar a verdade poderia ser complicado... E mesmo que lhe contasse, nada garantia que o resultado seria bom.