03 - Reunião no Centro Pearse

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Minha mãe resolveu que não deveria ter uma festa muito chique, apenas com alguns conhecidos e amigos que eu quisesse chamar. Essa semana foi uma correria, fomos fazer exames, tentei falar com Matheus no Orkut, mas parece que ninguém mais está usando, estão usando um programa chamado Facebook, outro dia quando saimos do hospital um reporter tirou uma foto minha, mas acabei colocando a mão no meu rosto, espero que ele não coloque meu nome. Pelo jeito eu sai no jornal, foi o que minha mãe tinha dito, e quando fez um ano que eu estava em coma também.

- Sam, você vai se atrasar para a reunião. - Ouvi minha mãe chamar, coloquei minha blusa cinza nova, minha calça jeans também nova, e ganhei até uma sapatilha que minha mãe disse que estava na moda, tinha um laço preto na ponta. Me senti a vontade com a blusa, ela fazia meu corpo ficar escondido, não precisava mostrar pro mundo que eu tinha peitos. Andei até a cozinha e olhei minha mãe, ela estava colocando manteiga em um pão, mostrou ele para mim quando terminou. - Vamos, coma isso no caminho, hoje preciso ir no hospital buscar os exames, vou te deixar lá no centro e depois seu pai vai te buscar, tudo bem, querida?

Concordei com a cabeça, eu queria parar de ser um fardo para os dois, agora eu tinha que ser adulta, fui até meu quarto e mexi no mouse, abriu a tela do orkut, e recebi um depoimento.

“Por quanto tempo você vai se esconder do mundo aberração?

Ma.”

Acho que senti meu coração no pescoço, engoli a saliva e olhei o perfil, não tinha nome de ninguém, não tinha fotos, nem amigos e nem scraps, fechei a tela depois de conferir que Matheus não tinha respondido, suspirei, peguei uma mochila pequena, coloquei um óculos escuros, chaves de casa, meu celular novo, tinha comprado uma pequena lanterna, que agora andava com ela para qualquer lugar, eu nunca tive medo do escuro, nem de ficar sozinha, mas agora até dormir estava difícil, me sentia indefesa, como se gritasse e ninguém poderia me ouvir, todas as noites acordei minha mãe com berros de pesadelos, ela então resolveu comprar um abajur para mim, daqueles meio piscicodélicos, que tem uma espécie de cera, achei muito futuristico pro meu gosto, mas não comentei para minha mãe, era rosa, e iluminava meu quarto com uma luz bem fraca, me deixou melhor, mas ainda tinha medo, olhei para minha lanterna, fechei a mochila e coloquei nas costas, fui até a cozinha pegando o pão e colocando na boca.

Vi minha mãe pegar as chaves do carro e fomos até a garagem, minha casa não tinha mudado muito, além de alguns móveis, a Doutora BrandBurry recomendou caso minha mãe se lembrasse, que deixasse a casa exatamente quando tinha acontecido o acidente, para eu me acostumar aos poucos, entrei no carro, colocando o cinto, olhei minha mãe, que tinha entrado também, ela ligou o carro e começou a dirigir, olhei pela janela, como era estranho ver a cidade tão mudada, meus vizinhos nem era mais os mesmos. Não demorou muito e já tinhamos chegado ao Centro, como era dia de reunião, havia muita gente para estacionar o carro, minha mãe me olhou, sorrindo com certa dificuldade, já sabia que coisa boa não vinha.

- Querida, eu não posso ficar parada aqui, preciso fazer muitas coisas, por favor, tome cuidado. - Sorri para ela, ela me jogou beijos enquanto eu tirava o cinto, desci do carro e fechei a porta, ouvi a voz dela despedindo.

Eu estava sozinha, naquele lugar esquisito, tinha algumas pessoas entrando, me senti observada, coloquei o capuz da minha blusa, para esconder meu rosto. Ninguém iria querer falar com uma... como é que Ma tinha dito? Aberração. Estava quente e o sol estava forte para usar minha blusa, mas eu nunca tive seios, e não os queria agora, era muito vergonhoso já ter um olho de cada cor, agora peitos!

- Ai vai logo… - Ouço ao longe uma garota gritando, olho para onde é, uma garota estava socando o banco da frente, falando com mais outra garota, olhei para o Centro Pearse, respirei fundo e comecei a andar.

A Nova vida de SamOnde histórias criam vida. Descubra agora