O inconsciente

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-A culpa é das gravadoras...elas diminuíram de tamanho por causa da internet, e agora só investem naquilo que tem certeza de lucro.O resultado são essas coisas de baixo nível musical mas com alto poder lucrativo. – diz Rafael

-No fim das contas, o mainstream virou um deserto de talentos genuínos – argumenta Sócrates...

-Às vezes, dá a impressão que quando você liga a rádio, está colocando uma privada no seu ouvido - reclama Julie.

-Só a internet pode salvar a música. – complementa Lemir

-Já tá salvando... quem escuta rádio pra conhecer novos artistas são os preguiçosos, porque dali pouca coisa boa vai sair. – acrescenta Sócrates

-É... o futuro da música está nas mãos da internet mesmo...dos artistas de verdade, e não daqueles que só pensam em lucro. – diz Julie

Gustavo chega correndo com os seus biscoitos.

-Cara, eu acho que é perfeitamente possível você conseguir lucro sem destruir a música. – entra na conversa Gustavo.

-Diga isso pra os capitalistas que dominam a música... eles tiram a essência de tudo somente para conseguir o seu lucro... da música, dos filmes, dos livros, da pintura... transformaram tudo em um grande mercado onde se define uma arte como boa não pelo valor estético em si, mas por sua capacidade de dar lucro. – diz Sócrates

-O problema é: como você pode enfrentar esses caras? – pergunta Rafael.

- Se a gente conseguir a solução pra isso, talvez consiga descobrir a fórmula pra salvar a música. – diz Julie

-Talvez nem seja necessário enfrentar eles... mas mostrar que é possível fazer lucro com a arte sem ter que baixar o nível estético.

-Capitalistas?Aceitando isso?Acho difícil.A ideologia principal do capitalista é o lucro, mesmo que isso custe o próprio meio e o próprio ambiente que concede o lucro pra ele.

-Como gafanhotos, pulando de lavoura em lavoura destruindo tudo.

-O que eu acho é o seguinte: ou se começa a enfrentar os capitalistas selvagens de frente, tentando construir negócios viáveis que possam enfrenta-los, mas que ao mesmo tempo, mantenham a essência da arte em questão, ou a arte como conhecemos irá acabar.Vamos ser obrigados a conviver com escritores, pintores, músicos, atores e diretores medíocres que acham valer alguma coisa para a arte simplesmente porque são famosos e vendem milhões. – diz Sócrates

-Artistas de prateleiras. – define Lemir.

-Como assim? – pergunta Gustavo

-Aqueles artistas que vendem muito, mas no fim das contas não tem muito talento, só aparecem muito porque são úteis para o mercado.

-O tempo é a melhor medida para mostrar quais são os artistas verdadeiramente relevantes, pois eles sempre serão lembrados.Por outro lado, essas porcarias que fazem sucesso no ano e depois somem da música, nunca mais serão citados, porque são totalmente irrelevantes. – define Sócrates

-Por isso que eu falei, artistas de prateleira. – interrompe Lemir – artistas que tem valor no mercado, mas em termos artísticos não possuem nenhum valor.

-E esse tipo está cheio nas rádios.

-E na televisão.

-E na internet.

-Enfim, em todo lugar – diz Gustavo.

-E a gente?Será que somos simples artistas de prateleiras? – pergunta Rafael

-Acho que fazemos um pouco dos dois.A gente tem um bom valor no mercado, mas também possuímos um bom valor como artistas. – diz Sócrates

-E quem disse que somos bons? – indaga Gustavo

-Eu acho que somos...não uma super banda, mas também não fazemos feio.

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