Cap. 20

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Uma grande multidão me olhou com os olhos brilhando, eu soluçava, Troye me olhava com o olhar pesado. Ele veio até mim, mesmo fedendo a ovo e com a boca sangrando.

ㅡ Eu não sou gay. Apenas, possívelmente. ㅡ Disse ironicamente. ㅡ Você não é mais bem-vindo aqui. ㅡ Ele deu uma olhada para os populares, me empurrou indelicadamente do jeito dele.

ㅡ Troye Sivan, eu te amo, eu não posso ficar longe de você! ㅡ O segui.

ㅡ Me esqueça!! ㅡ Ele berrou na minha cara, parei de agir.

ㅡ Te esquecer?! ㅡ Sussurrei de volta.

ㅡ Saia da minha festa. ㅡ Ele deu meia volta, todo mundo o acompanhou, recebi uma última ovada.

ㅡ Perdeu, bichinha emo. ㅡ Os populares riram, me ajoelhei no chão chorando. Meu coração tinha morrido naquela noite. Nem precisei de esforço pra me acabar de vez. Meu pai me puxou pelo braço, me jogando no chão da sala. Abraçei meus joelhos escutando seus sermãos, eu tinha levado uma surra, um fora, uma bronca e ainda estava de ressaca. Foi o pior dia possível.

ㅡ Andy... ㅡ Deitei no chão depois ser chamado de um monte de coisas feias.

ㅡ Saia, me deixa sozinho, mãe. Eu quero morrer. ㅡ Eu sussurrei me encolhendo.

ㅡ Vamos pro quarto. ㅡ Ela me ajudou a subir as escadas, me apoiando. Limpou todas as minhas feridas e me deu um beijo na testa, eu concordei a tudo calado, não suportava mais nenhuma dor. Me acorrentou e algemou minhas mãos.

ㅡ Como conseguiu escapar disso? ㅡ Ela sussurrou, sem resposta. Continuei olhando pra baixo. ㅡ Amanhã passa...

ㅡ Ele não era pra mim. Você estava errada. Eu não sou gay. ㅡ A única coisa que eu disse.

ㅡ Você tem problemas maiores pra se preocupar. ㅡ Me abraçou, tinha razão. E eu iria acabar com eles naquela noite.

Esperei ela fechar a porta. Graças a minha esperteza, eu guardei o grampo embaixo do travesseiro, foi fácil me libertar da algema e da corrente. Fiz uma mala improvisada, com algumas roupas e acessórios. Estava considerando a ideia de fugir. Olhei a janela... Olhei a janela de Troye, a festa ainda estava rolando... Deixei lá o  caderno dizendo "Boa noite, Troye", antes de pular a mesma, com todo cuidado. Sem fazer o mínimo barulho dei a volta. Fiquei observando meu amável pai assistindo Tv pela janela da sala...

ㅡ Queria olhar na sua cara e dizer o quanto eu... eu te amo. ㅡ Sussurrei pra mim mesmo. Dei passos mais rápidos, estava na frente da casa. ㅡ Adeus... ㅡ Acenei para a porta de vidro. ㅡ Adeus, lar doce cativeiro. ㅡ Fiz questão de deixar uma corrente no degrau só pra dizer que fugi. Eu estava livre!! Livre!!

[ ... ]

Livre e sem nada. Fui pra onde me convinha. A casa de Ash. Apertei a campainha.

ㅡ O que está fazendo na rua essa hora da madrugada?

ㅡ Disse que estaria sempre aqui se eu precisasse. ㅡ Rebati antes de se manifestarem.

ㅡ Hmn, entra aí... ㅡ Entrei.

ㅡ Droga, 'tá fazendo um frio lá fora. ㅡ Vi todos eles embrulhados e eu tremendo os beiços.

ㅡ Mano, o que aconteceu?

ㅡ Eu fugi de casa. ㅡ Dei um sorriso mínimo. ㅡ Posso ficar com vocês?

ㅡ Você é doido? Porque você fez isso, garoto?! ㅡ Jake disse.

ㅡ Eu não aguento mais ficar preso naquela casa. Literalmente. Eu não tenho pra onde ir... ㅡ Pus meu olhar pra baixo ainda tremendo.

ㅡ Nós... Podemos nos ajeitar...

ㅡ Sério, Ash?! Valeu, valeu. Ahh obrigado. ㅡ Abraçei a ele. Por longos minutos, tudo que fiz foi ficar abraçado a ele.

ㅡ Vem cá. ㅡ Me puxou deixando minha mala cair. ㅡ Andy veio morar com a gente, mãe!! ㅡ Gritou.

ㅡ Mora com sua mãe? ㅡ Perguntei confuso.

ㅡ Não pensou que eu fosse um deserdado né?!

ㅡ Mais uma boca, Ash? ㅡ Ela disse, saindo das escadas.

ㅡ O coitado fugiu. 'Tá sem lugar pra ir. ㅡ Ele disse revirando os olhos.

Blue NeighbourhoodWhere stories live. Discover now