Cap. 01

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Ainda me lembro a forma fatídica que o vi pela primeira vez... Eu estava na sala, morrendo de vergonha. Era o novato há alguns dias e ainda não tivera coragem de falar com ninguém. Minhas mãos tremiam e meus olhos andavam sempre baixos, quando sentia as crianças populares de olho em mim. De vez enquando, erguia meu olhar para o canto da sala. O lá do último. Lá estava ele, sendo brevemente importunado por um garoto maior do que nós.

ㅡ Por favor, pare com isso. ㅡ Ele sussurrava de longe, mas o outro continuava o empurrando. Sinceramente me deu vontade de rir, mas guardei para mim mesmo. A professora parecia nem ligar, o que me fazia ter mais vontade de rir ainda, por ser completamente ignorado.

ㅡ E você, o que quer ser quando crescer?  ㅡ Ela dirigiu a palavra a mim, parei de olhar o canto da sala a focar aqueles olhos castanhos. Minhas pernas tremeram, senti minhas bochechas rosarem.

ㅡ V-veterinário. ㅡ Tive ímpeto de respondê-la, saiu tão baixo quanto um sussurro. Os alunos começaram a rir discretamente.

ㅡ Como disse? ㅡ Se inclinou pra me ouvir melhor, as risadas aumentaram.

ㅡ Eu disse, v-veterinário. ㅡ Falei mais alto, sem diminuir meu nível de vergonha. Os alunos continuaram rindo, mas felizmente a sirene tocou. Era fim de mais um dia desperdiçado naquela escola.

Esperei um pouco, pensando no quanto eu estava me tornando um anti-social. Todos passavam por mim e... Riam, principalmente quatro pessoas: os populares, que possuiam até casaco do time da escola.

ㅡ Eu curti. ㅡ Uma voz grossa me assustou brevemente, virei meu olhar... Um belo par de olhos azuis claríssimos, adornados com um delineador forte, um cabelo desgrenhado e uma roupa esquisita bastante preta, aliás, ele iluminava preto... Naquele momento, senti meu coração correr... Parecia a coisa mais linda que meus olhos tinham visto...

ㅡ O quê... ㅡ Eu perguntei ainda juntando meus materiais.

ㅡ Eu curti sua... profissão. ㅡ Ele disse, colocando as mãos no bolso. Vamos, Troye, esse pode ser o seu primeiro amigo, não seja mané!!

ㅡ O-obrigado... ㅡ Fui desastrado o suficiente para derrubar meus próprios livros. Ele se dispôs automáticamente a me ajudar. Me senti constrangido. ㅡ O-obrigado de novo... ㅡ Ele riu minímamente, me distraí observando o movimento que seu cabelo fazia, os piercings, o brinco de cruz...

ㅡ Hum... Olha, você gosta? ㅡ Ele perguntou, segurando minha foto do Nirvana.

ㅡ Eu adoro. ㅡ Respondi com um riso.

ㅡ Nossa! Eu também... ㅡ Ele continuou focando a foto, e eu continuava focando seu rosto angelical... ㅡ Vamos?

ㅡ Para onde? ㅡ Perguntei confuso, ele riu perfeitamente.

ㅡ Acabou a aula, seu pai não vem lhe buscar? ㅡ Me dei um tapa mental.

ㅡ Meu pai não pode vir me buscar, hoje. ㅡ Falei constrangido.

ㅡ Ótimo, então... A gente pode ir junto. Se você quiser... Mora pro sul, eu moro por ali também.

ㅡ Hey, como sabe disso?

ㅡ Eu te vejo chegando. ㅡ Ele disse rindo discretamente. ㅡ Muitas vezes te acompanho... Mas você nem nota. ㅡ Revirou os olhos, eu ri, fiquei navegando naquele azul quase branco do seu olhar, a única cor diferente do preto das suas roupas e o branco da sua pele. ㅡ Então, vamos ou não?

ㅡ Vamos. ㅡ Respondi sem timidez.

Blue NeighbourhoodWhere stories live. Discover now