Tudo

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"Glorí? Serena, prazer" ela masca chiclete, usa um terno preto e tem o cabelo raspado e ruivo. Seu rosto entrega que é nova, muito mais nova do que eu imaginaria. Sua voz é doce, doce demais, mal parece que ganha a vida a procura de pessoas por pagamento, mas o jeito de falar é marrento. "Fiquei sabendo que eu estou sendo bem esperada" "com certeza" sorrio e olho para Jesse, a detetive parece não se importar com as outras pessoas da sala. Martín arrasta uma cadeira para mais perto dela, e eu sento a sua frente, tentando absorver cada detalhe possível. 

"Não é fácil pra mim Serena, então tente ter paciência" "É só o que eu to tendo desde o começo dessa história" "Então falando em começos, vou começar pelo começo" "por favor" e então tudo que posso ouvir é sua voz e seus olhos enormes e delineados me encarando. 

"Meu pai era um homem ótimo, cresci sem mãe, então ele era tudo o que eu tinha. Quando eu descobri o que queria de profissão, ele trabalhou dia e noite para poder pagar o começo da faculdade, mas era difícil bancar com seu emprego de recepcionista no hostel da cidade. Foi quando em um dos comícios do seu pai, ele pediu, humildemente e digo que, sinceramente, ele estava sem fé, que seu pai o desse um emprego, já que sua filha dependia disso. Passou um tempo e meu velho mal lembrava desse dia. Foi quando o SEU PAI, apareceu na porta de casa, já depois de eleito, e pediu a carteira de trabalho dele. Foi uma alegria enorme." Interrompo a história "Seu Ivan???" lembro da história do meu pai contar, e o quanto de afeição pegou do velho.  "Isso, que bom que se lembra. Continuando, ele começou a trabalhar como secretário do bloco da sede do governo, e ganhava muito mais que antes, podendo assim pagar minha faculdade. Joe o ensinou e deu a ele a chance de aprender mais, foi um anjo na nossa vida, meu pai chegou a participar do comitê do partido, pra apoiar o prefeito. Mas ele já não era novo e infelizmente acabou falecendo" "Meus pêsames" Jesse diz, a ruiva sorri e continua.

"Não demorou muito, e o homem que meu pai tanto admirava, foi morto, assim como sua mulher, eu já havia me formado e pensei até em ir afundo na investigação do caso dos Wallen, mas a perda do meu pai ainda era recente, então deixei pra lá. Muitos casos foram aparecendo pra mim, pelos contatos do meu pai, e eu fui ganhando nome. Glorí ficou conhecida a ponto do atual prefeito querer contrata-la" "Manning?" pergunto, tentando entender onde ele se encaixa na história. 

"Manning, ele me parecia realmente desesperado, como se soubesse que algo ruim estava atrás dele. Não posso negar, eu ganhei uma boa grana com seu desespero, e muita muita informação" "O que ele queria investigar?" pergunto, curiosa demais para esperar que ela termine sua fala. "Catherine"

"Ele investigava sua mulher? Que tipo de casamento é esse?" Jesse questiona "Ele suspeitava do envolvimento de sua esposa com um sujeito. Um homem da qual eu só fui entender o por quê, depois do julgamento do seu caso" "Que homem? Catherine traia Manning?" "Catherine? Essa mulher traiu o marido diversas vezes, e o prefeito sabia disso. O problema não era esse, a questão é com o que ela queria com Márc" Márc?" "Sempre quando seu marido ia ao trabalho, ela o chamava para sua casa, sempre no mesmo horário, e ele ficava sempre o mesmo tempo" "Como Manning reagiu ao saber disso?" Black pergunta, mostrando interesse e anotando cada palavra da detetive em seu caderno. 

"O prefeito não teve a chance de pensar muito sobre isso, eu entreguei toda a papelada pra ele em um dia, no outro foi seu julgamento e ele morreu. Eu não entendia muito o que todas aquelas informações significavam, e sinceramente não me importava. Eu estava ganhando dinheiro, e era isso que me fazia feliz. Mas depois do que aconteceu no tribunal, eu vi você sofrendo novamente e só pude pensar em tudo o que sua família me ajudou, o mínimo que eu poderia fazer, é ajudar a solucionar o caso" "Talvez você precise de um advogado, as informações são confidenciais demais para serem usadas no julgamento" Martín a aconselha.

"Na verdade não, meu contrato era com Manning, e ele está morto, então não tenho problema algum em solta informações, além do que eu tenho cópia de todos os documentos comigo" "Isso é perfeito Serena, perfeito!" Black exclama de alegria, mas ainda não me sinto segura, preciso saber qual a resposta final da equação que Glorí acabou de me apresentar. Por isso encaro a detetive, que percebe minha hesitação. 

"Serena, minha teoria é: Catherine mandou matar Manning juntamente com Márc" "E por que ela faria isso?" me questiono, tentando entender até onde vai a maldade dessa mulher. "Com um argumento e provas tão fortes assim, temo que ela contará tudo na prisão, com esperança de  diminuição de sentença" Martín tenta concatenar as ideias. 

A sala vira um tabuleiro, cada um tentando colocar uma peça no lugar. E então me lembro do único dia que o prefeito me procurou. "Manning foi atrás de mim, pedindo pra que eu desistisse do julgamento. Ele alegou que alguém o ameaçava, esse alguém era Márc certo? Não é ele que foi indiciado por fazer parte de um bando, foi afastado do seu cargo e essas coisas?" "Sim! Ele mesmo, com certeza Manning já recebia ameaças de morte, talvez até vinda de Márc com mando de Catherine" Black conclui 

"Podemos começar a procura de Márc, ele é um alvo mais fácil do que Catherine, ela ainda é vista como a boa moça pela cidade. Black, analise todos os documentos de Glorí, não deixe passar NADA que possa indiciar esse cara. Infelizmente eu não posso fazer nada pra vocês, eu não poderia nem estar aqui. Mas assim que vocês tiverem qualquer pista, entra com um recurso no governo e eles terão que liberar algo. Dependendo da situação, você pode até entrar com um pedido de julgamento imediato" Martín é simplesmente sensacional tentando abrir as portas judiciais e me pergunto em que mundo eu imaginaria esse avanço tão rápido no caso. Fico feliz de ter sido ajudada, sei que tenho os melhores e mais eficientes profissionais ao meu lado. 

FinalmenteWhere stories live. Discover now