Lar doce Lar

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(VISÃO DE LUCCA.)

A cama do dormitório da UCLA é péssima, mas essa cadeira do hospital é pior ainda. Minha sorte é que a visão ao meu lado compensa, Serena não só aparenta, ela está fraca, mentalmente e fisicamente. Meu celular toca e eu já sei que é hora de levantar pra dar lugar á Kitty e Jesse verem a menina dos cabelos pretos e meu momento de mudar para minha nova casa. "Jake?" "Eai, pode descer que a Kitty e a Jesse estão subindo. Eu to estacionado aqui em baixo, a gente passa no dormitório e começamos a levar as coisas para o Vista Cay." Dou um beijo na testa da mulher ao meu lado e saio do quarto.

"Lucca!" Kitty me abraça "Quero ir á praia de novo." "Pode deixar pequena." Ela fica com a bochecha rosada e me lembra a sua irmã, sortuda foi a pessoa que pode acompanhar Serena e suas fases. "Pode entrar, ela tá dormindo, mas logo acordará." "Obrigada por tudo Lucca." Jesse põe a mão em meu ombro e fico feliz de Serena ter uma mãe como sua tia. "O que é isso?" Kitty fica na ponta dos pés e aponta ao meu machucado "Tentativa de não cair em meio ás bombas." "Isso também?" Agora ela olha meu olho roxo e minha boca cortada "Sim, também." Minto, odiaria querer envolver Kitty em mais uma briga.

Vejo o carro branco de Jake parado em frente ao hospital "Cara, você está um lixo, precisa de um banho e de roupa nova, logo." "Cala boca Jake, eu to lindo." Ouço uma risada muito alta vindo dele, me olho no retrovisor depois de não sair do hospital desde a explosão. Eu estou um lixo, meu rosto todo cortado, olheiras nos olhos, ninguém merece ter essa visão no momento. Viro para Jake "Talvez eu precise de um banho." Jake ri novamente "Talvez."
Entro á passos largos na UCLA, a última coisa que preciso é ser porta voz do estado de Serena, e que me perguntem sobre os machucados no meu rosto.
O dormitório é pequeno, uma cama minúscula que ocupa quase o quarto todo, um armário que mal consegue armazenar minhas roupas e um banheiro que eu preciso tomar banho com uma perna para fora. Eu realmente preciso me mudar. 

Jake vem atrás de mim murmurando o quão pouca roupa eu tenho. "Eu não tinha espaço pra guardar, por que eu teria mais que algumas camisetas e calças pretas?" "Por que pessoas normais usam mais que um tipo de roupa Lucca." Eu subo o ombro e faço de desentendido. Entro no banho e estendo uma mala grande para colocar todas as coisas lá dentro para Jake. 

Depois de ouvir Jake surrar minha porta mais de milhares de vezes e depois de mais de meia hora eu saio do banheiro, trocado e pronto. "Você é muito folgado Lucca." "Ah Jake, para de reclamar, e tira o muito da frase. Eu sou só um pouco." "É serio que você tem pouca coisa assim?" Ele encara a mala preta estendida á nossa frente. "Eu já disse, pouco espaço, pouca coisa pra trazer. Vou sair pra comprar algumas coisas com Serena mais pra frente." Jake para de me olhar com o olhar de quem quer brigar para quem está sério. "Sério?" Eu reviro os olhos pra ele. "O que você quer com a Serena?" "O que eu quero com ela é bem óbvio, não? A real pergunta deve ser o que é que ela quer comigo." "Você causa uma revolução nela." "Eu não sabia que pores do sol eram tão rebuliços." "Como assim?" "Nada." Sorrio com a ideia de ser algo que excita Serena, odiaria saber que a tranquilizo. É tão melhor ficar ao lado de quem te desafia a ser melhor, espero que ela saiba que é esse tipo de pessoa pra mim. Percebo que dou risada com a ideia, e imagino o que ela diria se estivesse aqui. Jake me encara "Você é estranho." Sorrio mais ainda. 

"Onde está o resto?" Jesse me pergunta já no apartamento, "Isso é tudo tia." Ouço Kitty dar risada atrás de mim, ela gosta de quando chamo a sua tia assim. "Como assim? Duas bolsas era tudo o que você tinha no dormitório?" "Por que todo mundo fica tão chocado? Já prometi a Jake que comprarei algumas roupas novas." Jesse assente. "Como Serena está?" "Com dor ainda, mas bem. O médico a dará alto está tarde, Philip a trará pra casa." "Quem?" "Philip, Lucca. Você ouviu bem." "Eu achei que tinha ouvido errado, não gosto da ideia dele á infernizando." "Eles namoraram, por mais que ele não tenha a escolhido, ainda há carinho." "Bom pra ele que ela é tão boa assim, se fosse eu no lugar dela..." "Essa situação não cabe a você, agora vai arrumar seu quarto que eu e Kitty já o desocupamos." "Desculpa ter tirada a cama de vocês." "Imagina querido, nós que roubamos seu quarto por um tempo, além do que, eu tenho que voltar ao trabalho e Kitty tem que ir á aula." "Obrigações são um saco, não Kitty?" A pequena Serena faz que sim com a cabeça, sua tia dá risada e me ajuda a empurrar uma bolsa até o corredor.

A cama já não ocupa todo o espaço do quarto como ocupava no dormitório da UCLA. Tenho um grande guarda-roupa e uma escrivaninha onde poderei estudar e colocar todos os livros que venho colecionando do curso de medicina. Depois de guardar as poucas peças de roupa preta no grande guarda-roupa, dou uma volta e analiso o que será minha casa por tempo indeterminado. Penso nas histórias e tudo o que Serena já passou, olho para o chão de madeira, observo meus pés descalços. Sei que todas as vezes que entrei aqui até hoje, foi como convidado, hoje sou eu quem convidarei. Farei dessa casa um lar. E percebo no meio de onda desejo de boas energias, que Serena não possui decoração, fotos ou ao menos cor na casa. Talvez isso possa refletir no que ela sente em relação á si mesma, posso e preciso mudar isso, e o primeiro passo é fazendo ela me dar um voto de confiança, e não estragando tudo. 

Percebo que estou parado no meio do quarto refletindo quando ouço o barulho na porta e vejo Serena com uma tipoia no braço. "Sinta-se em casa." Eu digo e observo seu sorriso. 

FinalmenteWhere stories live. Discover now